São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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Dono de empresa de segurança é indiciado

Firma foi contratada pela Syngenta para vigiar fazenda onde houve 2 mortes em conflito com sem-terra

LUIZ CARLOS DA CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CASCAVEL

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Civil do Paraná indiciou ontem sob suspeita de homicídio doloso o empresário Nerci de Freitas, dono da empresa NF Segurança, contratada pela multinacional Syngenta Seeds para vigiar a fazenda de experimentos em Santa Tereza do Oeste (540 km de Curitiba).
No domingo, a propriedade foi palco de conflito entre seguranças e integrantes da Via Campesina e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Um segurança e um líder sem-terra morreram. Em depoimento de cerca de duas horas, o dono da NF Segurança disse que seus funcionários foram recebidos a bala.
Este é o segundo indiciamento de Nerci de Freitas em menos de um mês. Em 27 de setembro, a Polícia Federal encontrou cerca de cem munições sem registro na NF Segurança. Freitas e a mulher, sócia na empresa, foram indiciados por posse irregular de munição.
Freitas isentou a Syngenta de responsabilidade no conflito. Disse que partiu dele a ordem para que os seguranças, expulsos da fazenda durante a tomada da área por cerca de 200 sem-terra, retornassem ao local -para, segundo Freitas, resgatar um suposto refém e recuperar objetos da empresa. A polícia diz que não houve reféns.
Freitas disse que, quando os seguranças voltaram à fazenda, os sem-terra começaram a atirar. Apesar das mortes e dezenas de cápsulas de munição recolhidas, o empresário negou que, naquele momento, os seguranças estivessem armados.
Dezenove pessoas -seguranças, sem-terra e policiais militares que atenderam a ocorrência- foram ouvidas pelo delegado Amadeu Trevisan Araújo, que investiga o caso. Dos nove sem-terra que prestaram depoimento, apenas um falou. Os demais disseram que só vão se pronunciar em juízo.
Freitas foi indiciado pela morte do líder sem-terra Valmir da Mota Oliveira, o Keno. A polícia ainda não indiciou ninguém pela morte do segurança Fábio Ferreira. Ambos morreram no conflito. A polícia não conseguiu identificar quem atirou no segurança morto.
Ontem, os sete agentes de segurança presos fizeram exames de lesões corporais no Instituto Médico Legal de Cascavel.
O depoimento de Freitas foi acompanhado pelo advogado da Syngenta, José Bolívar Bretes. Ele disse não estar autorizado a falar pela multinacional.
O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, disse ontem que a NF Segurança atua, com o Movimento dos Proprietários Rurais, como milícia armada na região onde ocorreu o conflito. "Eles reconhecem que são contratados e trabalham para esse tal de Movimento dos Proprietários Rurais, que é um braço ilegal da Sociedade Rural."
Em resposta, o presidente da Sociedade Rural do Oeste, Alessandro Meneghel, disse que quem está errado "não é quem defende a propriedade, mas quem invade". "A NF trabalha conosco, é uma empresa que me dá segurança. Se tem armas ilegais, eu não sei", afirmou.


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