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Dono de empresa de segurança é indiciado
Firma foi contratada pela Syngenta para vigiar fazenda onde houve 2 mortes em conflito com sem-terra
LUIZ CARLOS DA CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CASCAVEL
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Civil do Paraná indiciou ontem sob suspeita de
homicídio doloso o empresário
Nerci de Freitas, dono da empresa NF Segurança, contratada pela multinacional Syngenta
Seeds para vigiar a fazenda de
experimentos em Santa Tereza
do Oeste (540 km de Curitiba).
No domingo, a propriedade
foi palco de conflito entre seguranças e integrantes da Via
Campesina e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Um segurança
e um líder sem-terra morreram. Em depoimento de cerca
de duas horas, o dono da NF Segurança disse que seus funcionários foram recebidos a bala.
Este é o segundo indiciamento de Nerci de Freitas em menos de um mês. Em 27 de setembro, a Polícia Federal encontrou cerca de cem munições sem registro na NF Segurança. Freitas e a mulher, sócia
na empresa, foram indiciados
por posse irregular de munição.
Freitas isentou a Syngenta de
responsabilidade no conflito.
Disse que partiu dele a ordem
para que os seguranças, expulsos da fazenda durante a tomada da área por cerca de 200
sem-terra, retornassem ao local -para, segundo Freitas, resgatar um suposto refém e recuperar objetos da empresa. A polícia diz que não houve reféns.
Freitas disse que, quando os
seguranças voltaram à fazenda,
os sem-terra começaram a atirar. Apesar das mortes e dezenas de cápsulas de munição recolhidas, o empresário negou
que, naquele momento, os seguranças estivessem armados.
Dezenove pessoas -seguranças, sem-terra e policiais
militares que atenderam a
ocorrência- foram ouvidas pelo delegado Amadeu Trevisan
Araújo, que investiga o caso.
Dos nove sem-terra que prestaram depoimento, apenas um
falou. Os demais disseram que
só vão se pronunciar em juízo.
Freitas foi indiciado pela
morte do líder sem-terra Valmir da Mota Oliveira, o Keno. A
polícia ainda não indiciou ninguém pela morte do segurança
Fábio Ferreira. Ambos morreram no conflito. A polícia não
conseguiu identificar quem atirou no segurança morto.
Ontem, os sete agentes de segurança presos fizeram exames
de lesões corporais no Instituto
Médico Legal de Cascavel.
O depoimento de Freitas foi
acompanhado pelo advogado
da Syngenta, José Bolívar Bretes. Ele disse não estar autorizado a falar pela multinacional.
O secretário da Segurança
Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, disse ontem
que a NF Segurança atua, com o
Movimento dos Proprietários
Rurais, como milícia armada na
região onde ocorreu o conflito.
"Eles reconhecem que são contratados e trabalham para esse
tal de Movimento dos Proprietários Rurais, que é um braço
ilegal da Sociedade Rural."
Em resposta, o presidente da
Sociedade Rural do Oeste, Alessandro Meneghel, disse que
quem está errado "não é quem
defende a propriedade, mas
quem invade". "A NF trabalha
conosco, é uma empresa que
me dá segurança. Se tem armas
ilegais, eu não sei", afirmou.
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