São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Empresa de Luciano Coutinho faz análise otimista da economia, mas diz que equipe "emaranha-se em declarações"

Consultoria vê com desânimo governo Lula

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma empresa de consultoria com considerável influência no pensamento do governo eleito avalia, em documento enviado a seus clientes, que a equipe de Luiz Inácio Lula da Silva "emaranha-se em declarações vagas" e dá sinais de indefinição quanto ao rumo da política econômica que deve adotar a partir do ano que vem.
Trata-se da LCA Consultores, de São Paulo, que tem como sócio principal Luciano Coutinho -cujas iniciais do nome, mais o "A" de Associados, compõem o nome da empresa.
Especialista em política industrial e comércio exterior, Luciano Coutinho foi um dos economistas mais ouvidos durante o período de elaboração do programa de governo do PT e é figura constante nas listas de ministeriáveis para o novo governo.
A LCA perdeu recentemente outro membro, o economista Bernard Appy, que se desligou da consultoria para ingressar na composição da equipe petista de transição -de onde pode partir, segundo especulações, para um cargo na futura equipe econômica do governo petista.
Appy tem se encarregado de avaliar os números do Banco Central e foi um dos três petistas que estiveram presentes, ao lado dos chefes Antônio Palocci Filho e Luiz Gushiken, na única reunião com os representantes da missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) que deixaram o país na semana passada.
Na "Carta LCA" do mês de novembro, elaborada com base nas informações disponíveis até o último dia 18, a empresa de consultoria faz uma análise moderadamente otimista do cenário econômico do país, mas mostra desânimo diante do comportamento apresentado pelo presidente eleito num capítulo intitulado "Lula já convive com os problemas de ser governo".

"Paralisia"
Luiz Inácio Lula da Silva, diz o documento, "passa o tempo tentando esclarecer dúvidas sobre programas de governo, explicando contradições sobre a orientação econômica que vai seguir, administrando pressões de aliados por cargos e trocas de apoio".
E emenda: "A pior parte da rotina de um governo".
Argumenta-se que a indefinição alimenta cobranças, críticas e especulações.
Admite-se que o silêncio em torno de nomes e rumos econômicos teve o mérito de substituir a crise financeira pelos temas sociais na pauta pública de discussões, mas, segundo o texto, esse efeito positivo se esgotou.
"Agora, quando se constata que quase nada está claro em nenhuma área, o silêncio parece menos controle sobre a situação e mais alguma paralisia", é a avaliação apresentada pelo texto.
"O governo eleito não difunde hoje a convicção de que sabe por onde vai começar a agir."
Até aqui, sabe-se que Lula pretende encaminhar ao Congresso, logo no início do mandato, as reformas tributária e da Previdência. A primeira terá a função de reduzir a carga de impostos sobre a produção, e a segunda, de equacionar o principal buraco nas contas públicas.
Ambas visam melhorar as expectativas do mercado e trazer de volta o otimismo e os investimentos para a economia.
Mas pouco se fala, de fato, em iniciativas de efeito mais imediato -como no caso das ações voltadas para o estímulo às exportações e a substituição de importações, consideradas prioritárias no programa de governo devido à influência, entre outros, de Luciano Coutinho.

Juros e inflação
Para o comportamento da economia em 2003, a LCA prevê dificuldades e poucas recompensas, mas sem catastrofismo.
Descarta, por exemplo, a necessidade de um choque de juros para conter a escalada de preços puxada pela alta do dólar.
Há motivos, considera a empresa, para temer a inflação: a desvalorização do real em relação à moeda norte-americana diminuiu a concorrência no mercado, ao encarecer os importados.
Como as empresas podem, além disso, conseguir preços melhores no exterior, está aberto o caminho para elevar os preços no mercado internos.
Aponta-se, entretanto, que o câmbio tende a se normalizar, e o mesmo se dará com a inflação, passado algum tempo. Por isso, seria precipitação levar os juros às alturas para segurar o consumo e os investimentos.
A Folha procurou três vezes a LCA, entre a quarta e a sexta-feira da semana passada. A empresa, porém, não respondeu se desejava fornecer esclarecimentos adicionais sobre as análises que apresentou em seu texto.


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