São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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Lula pede que governadores só façam oposição em 2010

Petista diz que conversará com "quem for civilizado", mas respeitará "silêncio dos outros"

Presidente diz que espera se reunir logo com todos os governadores e elogia Serra e Aécio, com os quais afirma ter uma "relação histórica"


PEDRO DIAS LEITE
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em encontro com governadores e representantes de 18 Estados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que vai conversar com todo mundo que for "civilizado" e pediu a quem quiser fazer oposição que espere até 2010, quando ele não será mais candidato.
"Só não vai conversar quem não quiser conversar. Quem for civilizado e quiser fazer política civilizada vai ter espaço para uma boa conversa. Quem não quiser, nós temos de respeitar o direito de silêncio dos outros", disse Lula na entrada do encontro que teve com governadores, no hotel Blue Tree, em Brasília.
O presidente elogiou publicamente os dois principais governadores tucanos, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), com os quais disse manter uma "relação histórica de 30 anos", e disse que ainda espera reunir todos num encontro em breve.
"A próxima reunião quem sabe seja do Oiapoque ao Chuí, com todos os governadores, porque, se alguém quiser fazer oposição a mim, que faça na eleição de 2010, quando não serei candidato. E, se eu tiver de fazer oposição a algum governador, eu deixo para fazer em 2010", discursou o presidente no almoço com os aliados.
No início do mês, Aécio já havia deixado claro que é contra uma reunião de todos os governadores com Lula neste ano. O governador de Minas teme que o governo consiga impor sua agenda, mas deixe a dos Estados em segundo plano. "Não vejo sentido numa reunião que, neste ano, será mais para tirar uma foto", disse, no dia 8.

Museu
O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), um dos principais conselheiros de Lula, traduziu em termos práticos a divisão do presidente entre "civilizados" e "não-civilizados": "Quem tiver futuro vai conversar. Quem não tem, que vá pro museu ler pergaminhos". Lula já chamou para conversar o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que chegou a ameaçar "dar uma surra" no presidente, mas não falará de jeito nenhum com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), por exemplo.
Lula também anunciou que vai chamar o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, que fez duros ataques ao petista nas eleições. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é a principal liderança do PSDB contrária a uma conversa com o governo federal.
No início do primeiro mandato, Lula chamou todos os governadores para uma conversa, mas a agenda conjunta parou no Congresso. Passados quatro anos, a reforma tributária, motivo primordial do encontro, teve poucos avanços.
Lula reconheceu os problemas do primeiro mandato, disse que "não há mais governo de oposição nem governo de situação" e que a relação será "profissional". "A relação de amizade é para coisas íntimas de cada pessoa humana. A nossa relação tem de ser profissional."
Lula ressaltou que a "disputa político-ideológica terminou no dia da apuração" e disse que a escolha do povo já foi feita. "Certo ou errado, nós estamos aqui, eleitos. E eu espero que esteja certo."
O presidente acenou aos governadores com uma cooperação que, se de fato ocorrer, será bem diferente da tônica do primeiro mandato. "Quando vocês tiverem festas, não precisam me convidar. Mas, quando tiverem crises, por favor, eu serei parceiro para tentar ajudar a resolver esses problemas."
Lula deu um sinal de que efetivamente o novo ministério pode não sair neste ano. "Estou há mais de 15 dias determinado a não discutir montagem de governo, não discutir nomes", disse, para depois ironizar os jornalistas: "Eu sei que setores da imprensa já tiraram uns 30 ministros, já colocaram uns 50, e eu, que deveria tirar, não tirei nem coloquei nenhum".


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