São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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PT quer "critério político" para propaganda

Valter Pomar, da Executiva Nacional, defende que distribuição de verbas da publicidade oficial não siga critérios de mercado

Proposta deve ser debatida pelo Diretório Nacional do partido no fim de semana e conta com a simpatia de setores do governo federal


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após a reeleição, marcada pelo escândalo da tentativa de compra de dossiê antitucano por petistas e de acusações de membros do partido à mídia, o PT pôs o tema no topo da agenda. Deve ser incluído na resolução final da reunião do Diretório Nacional petista, que ocorre amanhã e domingo em São Paulo. Também estará na pauta do seu 3º Congresso, em 2007.
Sob o pretexto de "democratizar as comunicações", o PT deve discutir mudanças nos critérios para distribuição de publicidade oficial. Essa revisão vem sendo levantada, entre outros, pelo secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, um dos integrantes da Executiva Nacional do partido. Ele defende critérios políticos para o emprego das verbas, não só de mercado.
"A mídia brasileira é muito monopolista. É um grupo pequeno de empresas controlado por um grupo pequeno de famílias. Isso vai criando uma espécie de círculo vicioso. Como são grandes, recebem uma cota maior, e graças a essa cota maior continuam grandes", disse. No PT, cresce o sentimento de que o governo federal, ao destinar suas verbas oficiais de propaganda, estaria fortalecendo meios que lhe são hostis. O governo deve gastar cerca de R$ 1 bilhão este ano com publicidade, incluindo os gastos das estatais.
Na opinião de Pomar, "elogios públicos a Roberto Marinho não levaram a uma mudança da Globo em relação a nós. A crença de que os meios de comunicação monopolistas seriam capazes de dar um tratamento democrático se revelou infundado. O conceito que prevaleceu no governo e no partido foi ingênuo. Existe uma parte dos meios de comunicação que nos trata como inimigos".
No final da campanha, o PT lançou um documento com propostas para o tema. Na versão preliminar, que a Folha revelou em 28 de agosto, havia um projeto de criação da Secretaria da Democratização das Comunicações. Na versão final, a idéia foi excluída.
Segundo a Casa Civil, ela não será ressuscitada. O texto também pedia o incentivo econômico a jornais e revistas "independentes", mas sem explicar como isso não transformaria tais veículos menores em órgãos oficiosos do Planalto.
Segundo Pomar, "você não pode dizer que o jornaleco de quinta categoria da cidade tal, propriedade de um grupo político local, é diferente da Folha. Ambos são propriedade familiar". Para ele, o esforço de "desconcentração" envolveria repassar mais recursos à mídia regional: "A coisa não pode ser resolvida no terreno do mercado, tem que ser resolvida no terreno da política. No terreno do mercado pode ser lógico você investir uma verba muito grande nos meios com uma cobertura muito grande. Mas isso conduz a mais monopólio".
Para o secretário de Comunicação do PT, Humberto Costa, o ideal seria combinar dois critérios de distribuição de publicidade: a "democratização" dos meios de comunicação e a necessidade de o governo veicular sua mensagem: "Tem que haver referência à democratização dos meios, mas há o fato de que o governo precisa fazer sua mensagem chegar à sociedade. Isso depende de tiragem e mercado", disse.


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