São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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Serra e Paulo Renato culpam base aliada


da Reportagem Local

Políticos tucanos da área "desenvolvimentista" do governo criticaram a base aliada pela saída dos irmãos Mendonça de Barros e de André Lara Resende (BNDES).
O ministro José Serra (Saúde) disse ontem no Rio que a disputa dos partidos da base governista por espaço político contribuiu para o episódio do grampo.
Para Serra, as alianças do governo têm que ser revistas. "As alianças, do ponto de vista quantitativo, devem prosseguir, porque o governo precisa de maioria no Congresso. Agora, é inegável que elas precisam ser passadas a limpo."
"As alianças são necessárias, até por um problema quantitativo do governo de maioria no Congresso. Tem que se passar a limpo a forma como elas vêm funcionando. É revisar, ver exatamente o que aconteceu e por que está acontecendo".
"A procura de espaço político ajudou a que esse processo (o dos grampos) tivesse esse desenlace, ou seja, a disputa de partidos políticos, na expectativa de ganharem mais espaço uns às custas dos outros. Essa atitude, em vez de trazer espaço para esses partidos, prejudica o conjunto do funcionamento do governo", disse Serra.
Ele negou que o governo tenha saído arranhado do caso, mas afirmou que "o PSDB sai triste com esse desenlace".
² Crime que compensa
"Eu lamento, porque esse caso ameaça representar a promulgação, no Brasil, da lei do crime compensa. Essas gravações criminosas acabaram tendo um efeito, como se o crime compensasse."
Para Serra, a saída de Mendonça de Barros, André Lara Resende e José Roberto Mendonça de Barros não foi a melhor solução, mas foi decidida por eles com base em questões pessoais. O presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo ele, só aceitou a demissão.
Recusou-se a comentar o papel do diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, indicado por ele, no episódio.
O ministro Paulo Renato Souza (Educação) concordou com as críticas de Serra. Ele disse esperar que o "lamentável desfecho" das demissões sirva para que haja uma atitude menos preocupada com espaços políticos dentro do governo.
"É um momento de crise, de união. Espero que a saída deles leve a uma reflexão para o fim dessa luta interna por espaços políticos", afirmou Paulo Renato.
² Covas e Gustavo Franco
Defensor de primeira hora do nome de Mendonça de Barros para o ainda inexistente Ministério da Produção, o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), disse que não gostou "nada" da saída do ministro.
"Queria que ele continuasse", afirmou. Covas acrescentou que não viu irregularidades nas conversas telefônicas entre Mendonça de Barros e Lara Resende.
Pelo contrário: "O que eu ouvi é que, aparentemente, estavam falando mal de uma empresa que foi quem ganhou (o leilão). Quem foi favorecido com isso?".
Mesmo com a saída de Mendonça de Barros, Covas continua a defender a criação do Ministério da Produção.
Em sua opinião, o ministério criaria uma nova "vertente de ação" no governo, em contraposição à linha do ministro da Fazenda, Pedro Malan, mais centrada na defesa da estabilidade da moeda.
Covas ressaltou que "Malan faz a parte dele e faz bem feita".
Para Covas, o Ministério da Produção é uma "simbologia" que o governo Fernando Henrique Cardoso deve adotar.
Já o principal aliado de Malan, o presidente do BC, Gustavo Franco, disse que "só tem a lamentar" a saída de seus colegas.
"São pessoas que se destacam pela competência e pela ousadia. Acho que o desfecho em que estiveram envolvidos não engrandece ninguém", afirmou.
"Creio que a saída dessas pessoas não muda coisa alguma no processo de privatização, que é um programa do governo e do Brasil", completou Franco.



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