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Demissões fortalecem posição do presidente do Congresso
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), sai fortalecido com as
demissões anunciadas ontem.
Há uma semana ACM bombardeava o ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros (Comunicações) nos bastidores. Para consumo externo, mantinha-se neutro.
O senador, segundo a Folha apurou, tem interesse no enfraquecimento do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Imagina que
poderá ganhar mais espaço na
montagem do segundo mandato.
Com as demissões, ACM agora
pretende se apresentar como o
grande obstáculo para a instalação
de uma CPI sobre o caso dos grampos. Defenderá o governo para colher recompensas no futuro.
Como prêmio, o presidente do
Senado espera ampliar seu espaço
político. ACM tem hoje dois ministérios comandados por políticos de seu grupo -Raimundo Brito (Minas e Energia) e Waldeck
Ornélas (Previdência).
Os parlamentares carlistas no
Congresso consideram as duas
pastas de pouca importância.
Além disso, Brito é um político que
não agradou inteiramente a ACM
nas Minas e Energia. Deve deixar o
cargo a partir de janeiro.
A meta de ACM, segundo a Folha apurou, é trocar Waldeck Ornélas da Previdência para o Ministério do Planejamento. Além disso, como entregaria a pasta das
Minas e Energia, pretende colocar
um antigo aliado, Rodolfo Tourinho, na presidência do BNDES ou
na Secretaria da Receita Federal
(leia texto à pág. 1-14).
No caso de Ornélas, o Ministério
da Previdência é visto por ACM
como um cargo que estaria aquém
das capacidades de seu afilhado.
Embora o Planejamento seja uma
pasta sem muitas atribuições, dá
mais prestígio a seu ocupante, que
participa de todas as reuniões importantes da equipe econômica.
Por designação de ACM, Rodolfo Tourinho atualmente tem ajudado a equipe econômica na elaboração da reforma tributária.
Tourinho foi diretor financeiro
da empreiteira baiana OAS. Saiu
do cargo para ser secretário da Fazenda da Bahia, quando ACM assumiu o governo do Estado, em 91.
Quando seu padrinho se tornou
senador, permaneceu com o governador Paulo Souto (PFL).
Neste ano, Tourinho foi eleito
primeiro suplente de Paulo Souto
-que, a mando de ACM, deixara
o governo para disputar a eleição
para o Senado pelo PFL da Bahia.
²
Ministério da Produção
Ontem, em São Paulo, ACM afirmou que a demissão de Mendonça
de Barros não inviabiliza a criação
do Ministério da Produção e estimou a instalação da nova pasta
em, no máximo, quatro meses.
Principal personagem da crise
causada pela divulgação de gravações clandestinas de telefonemas
que revelaram sua preferência pelo
banco Opportunity no leilão da
Tele Norte Leste, Mendonça de
Barros era cotado para o cargo.
"(O ministério) é um desejo do
presidente. Claro que, para dar
tempo, tem de trabalhar bastante.
Mas, se não sair em janeiro, sairá
dentro de três, quatro meses."
A criação da pasta e o favoritismo de Mendonça de Barros para o
comando vinha provocando conflitos entre o PSDB, o PFL e o
PMDB. ACM negou, entretanto,
que a demissão possa levar membros de seu partido ao cargo.
"Pode ser do PFL, do PSDB, do
PMDB. O importante é que seja
um homem capaz e de confiança
do presidente. Partidos não podem impor ao presidente ministros. Nem o (partido) dele (FHC).
Isso vale para todos os ministérios.
O presidente tem a base partidária,
que tem de atender, mas ele foi
eleito para fazer o melhor para o
Brasil. Acreditamos também que
os partidos políticos queiram o
melhor para o país", disse.
O senador avaliou como "injusta" a suspeita de manipulação por
Mendonça de Barros do leilão.
"Estão sendo muito injustos com
o ministro e com o BNDES. O ministro tinha uma preferência clara
pelo consórcio Opportunity. Ele
confirmou isso com muito caráter,
o que muitos não diriam. Mas esse
foi o consórcio que perdeu. Logo,
ele não influenciou na vitória."
"O ministro trabalhou para os
dois consórcios e os órgãos do governo ajudaram os dois. Isso mostra sua imparcialidade", completou ACM, que descartou uma CPI
para investigar o caso.
De acordo com o senador, Mendonça de Barros deixou o governo
por vontade própria. "Sei que o
propósito do presidente era mantê-lo. Ele (o ministro) deve ter
achado que o noticiário não correspondia ao que ele pensava. Sentiu-se injustiçado."
²
Com a Reportagem Local
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