São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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Demissões fortalecem posição do presidente do Congresso

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), sai fortalecido com as demissões anunciadas ontem.
Há uma semana ACM bombardeava o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) nos bastidores. Para consumo externo, mantinha-se neutro.
O senador, segundo a Folha apurou, tem interesse no enfraquecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso. Imagina que poderá ganhar mais espaço na montagem do segundo mandato.
Com as demissões, ACM agora pretende se apresentar como o grande obstáculo para a instalação de uma CPI sobre o caso dos grampos. Defenderá o governo para colher recompensas no futuro.
Como prêmio, o presidente do Senado espera ampliar seu espaço político. ACM tem hoje dois ministérios comandados por políticos de seu grupo -Raimundo Brito (Minas e Energia) e Waldeck Ornélas (Previdência).
Os parlamentares carlistas no Congresso consideram as duas pastas de pouca importância. Além disso, Brito é um político que não agradou inteiramente a ACM nas Minas e Energia. Deve deixar o cargo a partir de janeiro.
A meta de ACM, segundo a Folha apurou, é trocar Waldeck Ornélas da Previdência para o Ministério do Planejamento. Além disso, como entregaria a pasta das Minas e Energia, pretende colocar um antigo aliado, Rodolfo Tourinho, na presidência do BNDES ou na Secretaria da Receita Federal (leia texto à pág. 1-14).
No caso de Ornélas, o Ministério da Previdência é visto por ACM como um cargo que estaria aquém das capacidades de seu afilhado. Embora o Planejamento seja uma pasta sem muitas atribuições, dá mais prestígio a seu ocupante, que participa de todas as reuniões importantes da equipe econômica.
Por designação de ACM, Rodolfo Tourinho atualmente tem ajudado a equipe econômica na elaboração da reforma tributária.
Tourinho foi diretor financeiro da empreiteira baiana OAS. Saiu do cargo para ser secretário da Fazenda da Bahia, quando ACM assumiu o governo do Estado, em 91. Quando seu padrinho se tornou senador, permaneceu com o governador Paulo Souto (PFL).
Neste ano, Tourinho foi eleito primeiro suplente de Paulo Souto -que, a mando de ACM, deixara o governo para disputar a eleição para o Senado pelo PFL da Bahia.
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Ministério da Produção
Ontem, em São Paulo, ACM afirmou que a demissão de Mendonça de Barros não inviabiliza a criação do Ministério da Produção e estimou a instalação da nova pasta em, no máximo, quatro meses.
Principal personagem da crise causada pela divulgação de gravações clandestinas de telefonemas que revelaram sua preferência pelo banco Opportunity no leilão da Tele Norte Leste, Mendonça de Barros era cotado para o cargo.
"(O ministério) é um desejo do presidente. Claro que, para dar tempo, tem de trabalhar bastante. Mas, se não sair em janeiro, sairá dentro de três, quatro meses."
A criação da pasta e o favoritismo de Mendonça de Barros para o comando vinha provocando conflitos entre o PSDB, o PFL e o PMDB. ACM negou, entretanto, que a demissão possa levar membros de seu partido ao cargo.
"Pode ser do PFL, do PSDB, do PMDB. O importante é que seja um homem capaz e de confiança do presidente. Partidos não podem impor ao presidente ministros. Nem o (partido) dele (FHC). Isso vale para todos os ministérios. O presidente tem a base partidária, que tem de atender, mas ele foi eleito para fazer o melhor para o Brasil. Acreditamos também que os partidos políticos queiram o melhor para o país", disse.
O senador avaliou como "injusta" a suspeita de manipulação por Mendonça de Barros do leilão.
"Estão sendo muito injustos com o ministro e com o BNDES. O ministro tinha uma preferência clara pelo consórcio Opportunity. Ele confirmou isso com muito caráter, o que muitos não diriam. Mas esse foi o consórcio que perdeu. Logo, ele não influenciou na vitória."
"O ministro trabalhou para os dois consórcios e os órgãos do governo ajudaram os dois. Isso mostra sua imparcialidade", completou ACM, que descartou uma CPI para investigar o caso.
De acordo com o senador, Mendonça de Barros deixou o governo por vontade própria. "Sei que o propósito do presidente era mantê-lo. Ele (o ministro) deve ter achado que o noticiário não correspondia ao que ele pensava. Sentiu-se injustiçado."
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Com a Reportagem Local



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