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ELIO GASPARI
De Rolim@TAM.com para Constantino@Gol.com
Escrevo para o dono da Gol porque a TAM, empresa
que criei, resolveu virar
Varig depois de velha
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CARO Constantino de Oliveira Jr.,
Tenho ocupado minha eternidade em conversas com grandes
empreendedores. Passo férias em Parati com o Amadeo Giannini. No dia 18
de abril de 1906, ele tinha um pequeno
banco em São Francisco e acordou com
a cidade arruinada por um terremoto.
Alugou uma carroça, foi ao cofre e tirou
o que tinha. Eram uns US$ 2 milhões.
Enquanto os outros banqueiros fecharam suas casas, Giannini montou uma
barraca nas docas e ofereceu dinheiro
emprestado pedindo a garantia da assinatura e do fio do bigode. Assim nasceu
o Bank of America, o segundo maior
banco dos Estados Unidos.
O que está acontecendo nos aeroportos brasileiros é um cataclisma. Os cidadãos compram uma passagem, vão
tomar o avião e descobrem que viraram
refugiados de Ruanda. A Infraero, os
controladores de vôo e os burocratas da
Anac deixam o povo como bucha de canhão da inépcia e de pleitos funcionais.
Jogam no fogo a nossa credibilidade e o
respeito profissional dos nossos funcionários, obrigados a tensões insuportáveis e a papéis vexatórios. Desmoralizam-nos.
Apesar disso, as filas para o check-in,
a falta de atendentes e de informações
nada tem a ver com a lambança dos aerocratas. São produto da desconsideração das empresas e da prepotência de
diretores capazes de acreditar que um
problema deixa de existir quando o nome da companhia está fora do noticiário. Lembra o pessoal que apagava logotipos em aviões sinistrados?
Você tem que virar Giannini. Escrevo
para o dono da Gol, e não para o Marco
Antonio Bologna, da TAM, empresa
que criei, porque ele sabe o que deve fazer. Se não faz, falta de sorte da empresa. Resolveu virar Varig depois de velha. Os diretores da Gol vão perguntar:
fazer o quê? Insinuarão que o Rolim
sempre foi meio maluco.
Como sei o que falam de mim, vou ficar calado. Ontem almocei com uns
amigos e pedi que dessem idéias para
que as companhias aéreas brasileiras
saíssem da fritura em que foram jogadas pelos aerocratas. Alguns parecem
desconhecidos. Bobagem. São todos
gênios do capitalismo, gente cujo sucesso empresarial derivou da confiança
e do respeito da freguesia. Aqui vão as
sugestões, com o nome de cada autor:
Amadeo Giannini (1870-1949).
"Anuncie uma tabela de créditos. Para
cada dez minutos de atraso, dê um bônus em milhas a serem voadas. Com
mil pontos, o cliente ganha um percurso equivalente a um vôo Rio-São Paulo,
sob determinadas condições. Você sabe que o custo disso é mínimo."
Martha Harper (1857-1950). Ela
começou a vida como empregada doméstica. Criou redes de salões de beleza para as mulheres americanas que
entravam no mercado de trabalho:
"Distribua kits com lanches e pães de
queijo a todos os passageiros que deverão esperar mais de meia hora. Dê brinquedos e travesseiros às crianças. Coloque carrinhos com revistas, café e refrigerantes nos saguões e salas de embarque. Sirva clientes de todas as companhias. Você pode oferecer os serviços
de uma brigada de manicures para as
senhoras. Isso não lhe custará mais que
R$ 5 por pessoa. (O Charles De Gaulle,
em Paris, tem até massagem chinesa.)
Se algum burocrata contestar a iniciativa, chame a imprensa."
Juan Terry Trippe (1899-1981).
Trippe fundou a Pan American e o
mercado de aviação internacional. Foi
com ele que aprendi que nunca devemos interromper o discurso de um burocrata, por mais asnático que seja.
Juan é mau como pica-pau: "Ao fim de
cada dia, divulgue um relatório com a
explicação detalhada do que aconteceu
com cada vôo da Gol. Por que atrasou,
quanto tempo ficou na pista e que ordens recebeu. Se os aerocratas querem
avacalhar o mercado, que se avacalhem".
Walt Disney (1901-1966). "A idéia
é do Tio Patinhas: dê três ingressos de
cinema a cada criança que esperar mais
de 30 minutos pela partida de seu vôo."
Saudações napoleônicas,
Rolim Amaro
VAI TRABALHAR?
Lula voltou ao ponto de partida de todas as discussões econômicas do governo. Descobriu
que com juros altos e dólar barato a economia voa pelo piloto
automático (sem transponder,
como FFHH percebeu em três
ocasiões).
Com juros baixos e dólar
mais caro pode-se ter crescimento, mas é preciso que os pilotos trabalhem todo o tempo.
Para cada minuto mal operado,
recebe-se uma conta sob a forma de estagnação e desordem.
LULA FAZ ESTILO
Ao contrário do que sucedeu
na Bolívia, na Venezuela e no
Equador, os EUA deverão ficar
longe da disputa pela Presidência do Paraguai. A eleição será
em abril de 2008. De um lado
há um candidato da situação,
com tudo o que isso significa
em termos de relações incestuosas com o crime e a contravenção. De outro, a candidatura esquerdista do bispo Fernando Lugo. Após várias gerações ao longo das quais a diplomacia americana apoiou o tipo
que denominava "o nosso f. da
p.", pode surgir um novo personagem: "o nosso esquerdista".
DECOLAGEM
Se o doutor Milton Zuanazzi,
presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, renunciar
ao seu cargo, será recebido em
triunfo no Palácio do Planalto.
Ele tornou-se a prova de dois
males da política nacional: 1) A
concessão de poderes e mandatos a diretores de agências reguladoras, sem saídas de emergência para casos de indicações
desastrosas. Erro do tucanato.
2) O aparelhamento petista, capaz de colocar Zuanazzi, um
quadro pedestre da burocracia
do turismo, na direção de uma
agência de aviação.
BOA NOTÍCIA
As coisas boas também acontecem. Depois de nove anos de
espera, a Câmara Municipal da
cidade de São Paulo salvou
mais de 40 quadros que estão
sob sua guarda.
Graças à criação de um ateliê
de restauro, recuperaram-se
dois imensos painéis de Clóvis
Graciano -que haviam passado 15 anos sob o sol- e um esplêndido retrato de Fábio da Silva Prado, feito por Cândido
Portinari. Além deles, um dos
melhores retratos do governador Bernardino de Campos,
pintado por Ernest Pfaf. Há
ainda um Marechal Deodoro,
de Benedito Calixto.
Numa época em que falar em
presidente de Mesa de Poder
Legislativo parece ameaça aos
costumes, vale o registro de que
o problema foi resolvido pelo
vereador Roberto Tripoli. Foi
dele a iniciativa de permitir ao
conservador Domingo Tellechea que trabalhasse em sossego sobre a coleção.
BLINDAGEM
Diante da desidratação da
candidatura de Aldo Rebelo à
presidência da Câmara, tem
gente no Itamaraty calafetando
frestas de janelas. Temem que
o doutor se convença de que o
governo precisa de sua ajuda
em alguma posição no exterior.
PACOTE BONZINHO
É bastante provável que o pacote do progresso tenha duas
cerejas para empresários que
gostam de ganhar dinheiro com
recursos alheios. Serão ampliados os prazos de depósito, pelas
empresas, de impostos devidos
à Viúva. Em tese, isso dá respiro
ao capital de giro dos empresários. Na prática, trata-se de mágica besta, com dinheiro dos
outros.
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