São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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ELIO GASPARI

De Rolim@TAM.com para Constantino@Gol.com


Escrevo para o dono da Gol porque a TAM, empresa que criei, resolveu virar Varig depois de velha

CARO Constantino de Oliveira Jr.,
Tenho ocupado minha eternidade em conversas com grandes empreendedores. Passo férias em Parati com o Amadeo Giannini. No dia 18 de abril de 1906, ele tinha um pequeno banco em São Francisco e acordou com a cidade arruinada por um terremoto. Alugou uma carroça, foi ao cofre e tirou o que tinha. Eram uns US$ 2 milhões. Enquanto os outros banqueiros fecharam suas casas, Giannini montou uma barraca nas docas e ofereceu dinheiro emprestado pedindo a garantia da assinatura e do fio do bigode. Assim nasceu o Bank of America, o segundo maior banco dos Estados Unidos.
O que está acontecendo nos aeroportos brasileiros é um cataclisma. Os cidadãos compram uma passagem, vão tomar o avião e descobrem que viraram refugiados de Ruanda. A Infraero, os controladores de vôo e os burocratas da Anac deixam o povo como bucha de canhão da inépcia e de pleitos funcionais. Jogam no fogo a nossa credibilidade e o respeito profissional dos nossos funcionários, obrigados a tensões insuportáveis e a papéis vexatórios. Desmoralizam-nos.
Apesar disso, as filas para o check-in, a falta de atendentes e de informações nada tem a ver com a lambança dos aerocratas. São produto da desconsideração das empresas e da prepotência de diretores capazes de acreditar que um problema deixa de existir quando o nome da companhia está fora do noticiário. Lembra o pessoal que apagava logotipos em aviões sinistrados?
Você tem que virar Giannini. Escrevo para o dono da Gol, e não para o Marco Antonio Bologna, da TAM, empresa que criei, porque ele sabe o que deve fazer. Se não faz, falta de sorte da empresa. Resolveu virar Varig depois de velha. Os diretores da Gol vão perguntar: fazer o quê? Insinuarão que o Rolim sempre foi meio maluco.
Como sei o que falam de mim, vou ficar calado. Ontem almocei com uns amigos e pedi que dessem idéias para que as companhias aéreas brasileiras saíssem da fritura em que foram jogadas pelos aerocratas. Alguns parecem desconhecidos. Bobagem. São todos gênios do capitalismo, gente cujo sucesso empresarial derivou da confiança e do respeito da freguesia. Aqui vão as sugestões, com o nome de cada autor:
 Amadeo Giannini (1870-1949). "Anuncie uma tabela de créditos. Para cada dez minutos de atraso, dê um bônus em milhas a serem voadas. Com mil pontos, o cliente ganha um percurso equivalente a um vôo Rio-São Paulo, sob determinadas condições. Você sabe que o custo disso é mínimo."
 Martha Harper (1857-1950). Ela começou a vida como empregada doméstica. Criou redes de salões de beleza para as mulheres americanas que entravam no mercado de trabalho: "Distribua kits com lanches e pães de queijo a todos os passageiros que deverão esperar mais de meia hora. Dê brinquedos e travesseiros às crianças. Coloque carrinhos com revistas, café e refrigerantes nos saguões e salas de embarque. Sirva clientes de todas as companhias. Você pode oferecer os serviços de uma brigada de manicures para as senhoras. Isso não lhe custará mais que R$ 5 por pessoa. (O Charles De Gaulle, em Paris, tem até massagem chinesa.) Se algum burocrata contestar a iniciativa, chame a imprensa."
 Juan Terry Trippe (1899-1981). Trippe fundou a Pan American e o mercado de aviação internacional. Foi com ele que aprendi que nunca devemos interromper o discurso de um burocrata, por mais asnático que seja. Juan é mau como pica-pau: "Ao fim de cada dia, divulgue um relatório com a explicação detalhada do que aconteceu com cada vôo da Gol. Por que atrasou, quanto tempo ficou na pista e que ordens recebeu. Se os aerocratas querem avacalhar o mercado, que se avacalhem".
 Walt Disney (1901-1966). "A idéia é do Tio Patinhas: dê três ingressos de cinema a cada criança que esperar mais de 30 minutos pela partida de seu vôo."
Saudações napoleônicas,
Rolim Amaro

VAI TRABALHAR?
Lula voltou ao ponto de partida de todas as discussões econômicas do governo. Descobriu que com juros altos e dólar barato a economia voa pelo piloto automático (sem transponder, como FFHH percebeu em três ocasiões).
Com juros baixos e dólar mais caro pode-se ter crescimento, mas é preciso que os pilotos trabalhem todo o tempo. Para cada minuto mal operado, recebe-se uma conta sob a forma de estagnação e desordem.

LULA FAZ ESTILO
Ao contrário do que sucedeu na Bolívia, na Venezuela e no Equador, os EUA deverão ficar longe da disputa pela Presidência do Paraguai. A eleição será em abril de 2008. De um lado há um candidato da situação, com tudo o que isso significa em termos de relações incestuosas com o crime e a contravenção. De outro, a candidatura esquerdista do bispo Fernando Lugo. Após várias gerações ao longo das quais a diplomacia americana apoiou o tipo que denominava "o nosso f. da p.", pode surgir um novo personagem: "o nosso esquerdista".

DECOLAGEM
Se o doutor Milton Zuanazzi, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, renunciar ao seu cargo, será recebido em triunfo no Palácio do Planalto. Ele tornou-se a prova de dois males da política nacional: 1) A concessão de poderes e mandatos a diretores de agências reguladoras, sem saídas de emergência para casos de indicações desastrosas. Erro do tucanato. 2) O aparelhamento petista, capaz de colocar Zuanazzi, um quadro pedestre da burocracia do turismo, na direção de uma agência de aviação.

BOA NOTÍCIA
As coisas boas também acontecem. Depois de nove anos de espera, a Câmara Municipal da cidade de São Paulo salvou mais de 40 quadros que estão sob sua guarda.
Graças à criação de um ateliê de restauro, recuperaram-se dois imensos painéis de Clóvis Graciano -que haviam passado 15 anos sob o sol- e um esplêndido retrato de Fábio da Silva Prado, feito por Cândido Portinari. Além deles, um dos melhores retratos do governador Bernardino de Campos, pintado por Ernest Pfaf. Há ainda um Marechal Deodoro, de Benedito Calixto.
Numa época em que falar em presidente de Mesa de Poder Legislativo parece ameaça aos costumes, vale o registro de que o problema foi resolvido pelo vereador Roberto Tripoli. Foi dele a iniciativa de permitir ao conservador Domingo Tellechea que trabalhasse em sossego sobre a coleção.

BLINDAGEM
Diante da desidratação da candidatura de Aldo Rebelo à presidência da Câmara, tem gente no Itamaraty calafetando frestas de janelas. Temem que o doutor se convença de que o governo precisa de sua ajuda em alguma posição no exterior.

PACOTE BONZINHO
É bastante provável que o pacote do progresso tenha duas cerejas para empresários que gostam de ganhar dinheiro com recursos alheios. Serão ampliados os prazos de depósito, pelas empresas, de impostos devidos à Viúva. Em tese, isso dá respiro ao capital de giro dos empresários. Na prática, trata-se de mágica besta, com dinheiro dos outros.


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