São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Fazenda confirma que presidente da comissão acertou detalhes de depoimento com o ministro, que irá falar como convidado

Senador confirma o depoimento à CPI de Palocci para amanhã

LUIZ FRANCISCO
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O depoimento do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) à CPI dos Bingos foi marcado para amanhã, após os trabalhos do plenário no Senado, disse o senador Efraim Morais (PFL-PB), presidente da comissão.
Palocci vai depor na condição de convidado, ou seja, ele só comparecerá se desejar.
Ontem, durante o depoimento à CPI de dois delegados de polícia que atuaram no caso Celso Daniel, o senador paraibano telefonou ao ministro e definiu com ele a data e o horário do depoimento.
O Ministério da Fazenda confirmou que Palocci realmente "conversou por telefone com Efraim e foram discutidos a ida dele à CPI e o horário [do depoimento], sendo que a própria comissão iria anunciar oficialmente [o resultado da conversa]".
A assessoria do ministério não informou, porém, se Palocci fez alguma exigência para depor.
"O ministro não se mostrou preocupado com horário ou com qualquer outro assunto. Mostrou apenas interesse em atender a CPI", disse Efraim.

Governo
O governo ainda tentava barrar a ida de Palocci à CPI, embora o ministro tivesse comunicado no sábado ao primeiro-vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), membro da comissão, a intenção de aceitar o convite.
Anteontem à noite, Efraim anunciou que ligou ao ministro e obteve a confirmação dele, mas faltava apenas definir a data.
A avaliação da cúpula do Palácio do Planalto, em reunião anteontem, era que seria uma derrota o comparecimento do ministro à CPI para tratar de suspeitas de corrupção no tempo em que era prefeito de Ribeirão Preto (SP), em 2001 e 2002.
"O ministro vai falar sobre esses assuntos que estão todos os dias [no noticiário]: Ribeirão Preto; seus assessores; dólares de Cuba, entre outros", afirmou Efraim.
A estratégia do Planalto era avaliar, antes de o ministro aceitar ir à CPI dos Bingos, se os senadores governistas, numa eventual votação na comissão, derrubariam a convocação obrigatória. Essa votação, segundo Efraim, ocorreria nesta semana, se Palocci não aceitasse o convite para depor espontaneamente.
Ainda segundo o senador, os integrantes da CPI dos Bingos não vão levar em consideração os depoimentos anteriores de Palocci na Câmara e na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, em novembro passado. Na ocasião, parlamentares da oposição evitaram fazer perguntas sobre suspeitas de corrupção e se concentraram na política econômica.
"Aqui será um outro depoimento, ele [Palocci] vem como convidado. Então, quem tem de trazer ou não documentos é o ministro", afirmou Efraim.
O depoimento de Palocci foi marcado depois de uma longa negociação entre políticos da oposição e da base aliada. Desde outubro, a votação do requerimento de convocação do ministro da Fazenda vinha sendo adiada. Uma saída foi transformar a obrigação de comparecer à comissão em convite, o que acabou sendo aceito pelo ministro.
Políticos da oposição já afirmaram que não devem colocar o ministro "contra a parede" durante o depoimento.

Suspeitas
Palocci responderá à acusação de seu ex-secretário de Governo na Prefeitura de Ribeirão Preto em 1993 e 1994, Rogério Buratti. Em depoimento à Polícia Civil e CPI em agosto passado, Buratti afirmou que a empresa Leão & Leão pagava à prefeitura, com consentimento de Palocci, em 2001 e 2002, propina de R$ 50 mil. O dinheiro seria para o PT.
Outro caso investigado pela CPI é a suspeita de que Cuba tenha enviado até US$ 3 milhões para a campanha presidencial do PT em 2002, coordenada por Palocci. O dinheiro teria sido transportado de Brasília a São Paulo por dois ex-assessores do ministro da prefeitura, Vladimir Poleto e Ralf Barquete (morto em 2004). Buratti também confirma a história.


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