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"Lula e Chávez não são tão diferentes", afirma Wallerstein
Sociólogo americano relaciona crescimento da esquerda na América Latina à perda do poder político dos EUA
Para intelectual, o desafio desses países é o progresso social; Lula teve de lidar com as "expectativas do povo e promessas não cumpridas"
Ana Flor/Folha Imagem
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O sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein no Fórum Social Mundial, em Nairóbi |
ANA FLOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NAIRÓBI
A chegada ao poder das esquerdas em muitos países latino-americanos ocorreu por
conta de uma perda real de poder político dos EUA. A opinião
é do sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein, 76,
pesquisador sênior na Universidade Yale e autor de "O Declínio do Poder Americano".
Depois de chegar ao poder, os
governos de esquerda na região
enfrentam o desafio de se manter no poder, o que só ocorrerá,
segundo Wallerstein, se trabalharem para construir progresso social. O sociólogo compara
Lula a Chávez e diz: "Eles não
são tão diferentes assim". Presença assídua no Fórum Social,
Wallerstein falou à Folha, em
Nairóbi, no Quênia.
FOLHA - O sr. é um freqüentador
assíduo do Fórum Social Mundial.
Qual o mérito do encontro?
IMMANUEL WALLERSTEIN - Foi um
feito enorme, que começou
com uma iniciativa de um grupo de brasileiros, mas teve uma
aceitação global porque preencheu uma necessidade de indivíduos e grupos sociais que lutam contra opressão, globalização e neoliberalismo. É o acontecimento mais importante de
resistência na atualidade".
FOLHA - Como o sr. vê a situação
atual da América Latina?
WALLERSTEIN - Nós vimos, nos
últimos cinco anos, o crescimento de movimentos de esquerda da América Latina, com
menor simpatia e influência
dos EUA. Isto não teria acontecido algum tempo atrás por
causa da influência e poder dos
EUA na região no passado. É
desconfortável para os EUA ter
tantos governos de esquerda no
seu quintal. O que mudou? Não
o pensamento na América Latina, nem a política dos EUA. O
que mudou foi o declínio de poder político real dos EUA no
mundo. A região se beneficiou
da distração dos EUA em outras partes do mundo para fazer um movimento mais à esquerda. Os EUA vivem uma
perda real de poder político.
FOLHA - Quais os desafios desses
novos governos?
WALLERSTEIN - O desafio atual
dos governos de esquerda da
América Latina é o de se sustentarem e, se quiserem se
manter no poder, mostrar progresso social de verdade. Foi isso que colocou Lula numa situação difícil, as expectativas
do povo e as promessas não
cumpridas. Mas ele recebeu
uma segunda chance. Terá de
mostrar resultados reais se quiser manter seu grupo no poder.
Este é o desafio em todos os
países: como se manter no poder sendo de esquerda. A alternativa é que deixem de ser de
esquerda, mas não é desejável.
FOLHA - Na sua opinião, o presidente Lula ainda é de esquerda?
WALLERSTEIN - Sim, acredito que
ainda é um líder de centro-esquerda. Tanto que reúne movimentos sociais - o MST o critica, mas o apóia - e intelectuais,
como Emir Sader, que é um crítico do governo, mas ainda
acredita na proposta de Lula.
Comparado a [Hugo] Chávez
[presidente da Venezuela], Lula pode não parecer de esquerda. Mas eles não são tão diferentes. Lula fala bem de Chávez
e Chávez fala bem de Lula. Por
mais que outras forças tentem
colocá-los em pontas diferentes, eles compartilham uma
proximidade.
Em 2005, no Fórum de Porto
Alegre, Chávez foi recebido por
uma massa enorme da esquerda no Brasil. Ao discursar, ele
disse que apesar de eles não
gostarem do que iam ouvir, ele
falaria que Lula era um homem
bom. O público não gostou, mas
Chávez fez questão de ir ao Brasil e mostrar que apóia Lula.
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