São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Coronel extraditado pelo Brasil dará o 1º depoimento à Justiça

Acusado de crimes na ditadura, Manuel Cordero chegou sábado à Argentina

Duda Pinto - 23.jan.10/France Presse
Manuel Cordero é levado para ser extraditado para a Argentina

DE BUENOS AIRES

É aguardado para hoje, em Buenos Aires, o primeiro depoimento à Justiça do coronel reformado uruguaio Juan Manuel Cordero, 71, extraditado pelo Brasil no último sábado. Cordero é acusado de violações dos direitos humanos durante a a ditadura militar argentina.
Os crimes imputados a ele, cometidos no marco da chamada Operação Condor (união das ditaduras do Cone Sul em ações repressivas nas décadas de 1960 e 1970) incluem a responsabilidade pelo desaparecimento de 11 militantes e o sequestro de um bebê.
Entre as supostas vítimas de Cordero está a argentina María Claudia García Iruretagoyena, nora do poeta Juan Gelman. A ditadura apropriou-se do bebê que María Claudia teve com Marcelo Gelman, seu marido, também desaparecido.
Depois de 23 anos de busca e com o apoio de 100 mil assinaturas em sua "Carta Aberta ao Meu Neto", Gelman, que desconhecia o sexo do bebê, conseguiu identificar e localizar no Uruguai a neta, Macarena.
"Que ele seja julgado como deve ser", disse Macarena Gelman, após saber da extradição de Cordero.
O processo contra Cordero está hoje sob a responsabilidade do juiz Norberto Oyarbide, um dos mais notórios e polêmicos da Argentina.
Oyarbide, que reconstruiu sua imagem depois de um escândalo sexual que quase o fez perder o cargo nos anos 1990, tem hoje sob sua alçada a maioria das causas que envolvem suspeita de corrupção no governo Cristina Kirchner.
O juiz foi intensamente criticado pela imprensa argentina por sua recente decisão de inocentar Néstor e Cristina Kirchner na causa que investigava suposto enriquecimento ilícito do casal, cujo patrimônio aumentou 158% em 2008.
Supõe-se que, após o depoimento para Oyarbide, Cordero permaneça no presídio de Marcos Paz, a 48 km de Buenos Aires, onde está detido o ex-capitão da Marinha Alfredo Astiz, o Anjo Louro da Morte.
Também estão no presídio outros acusados na chamada megacausa Esma (Escola de Mecânica da Marinha), que foi o principal centro clandestino de repressão da ditadura em Buenos Aires. O julgamento dos repressores da Esma começou em dezembro passado, em Buenos Aires, e está em curso.


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