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COMBATE À SECA
Metade do dinheiro previsto -US$ 600 milhões- terá de ser gasta com produtos e serviços espanhóis
Projeto sigiloso prevê verba da Espanha
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
O governo brasileiro prepara sigilosamente um megaprojeto de
combate aos efeitos da seca, avaliado inicialmente em US$ 600 milhões, com recursos da Espanha.
Metade dessa verba terá de ser gasta com produtos e serviços de empresas espanholas.
O total do programa poderá chegar a US$ 3 bilhões, com a inclusão
do projeto de transposição das
águas do rio São Francisco, avaliado em US$ 1,5 bilhão. Os espanhóis já manifestaram interesse no
projeto.
Os espanhóis queriam inicialmente que 85% dos recursos fossem gastos na Espanha, mas o governo brasileiro conseguiu reduzir
esse percentual para 50%.
A Polícia Federal fechou um contrato semelhante com a França, para compra de equipamentos, com
a obrigação de gastar naquele país
100% dos recursos financiados.
O dinheiro será liberado pela estatal espanhola Expansion Exterior, uma empresa de desenvolvimento que empresta dinheiro a
outros países para estimular a
compra de produtos, tecnologia e
serviços espanhóis.
Empresas espanholas poderão
formar "joint ventures" com empresas brasileiras para produzir no
Brasil equipamentos necessários
ao projeto. O objetivo será a redução do custo de transporte dos
produtos.
²
Núcleos de produção
O projeto de combate à seca, preparado pela Secretaria de Políticas
Regionais, não prevê obras de irrigação, mas sim a implantação de
núcleos de produção agrícola em
nove Estados do Nordeste.
O projeto vai beneficiar também
o nordeste de Goiás, Estado do ministro Ovídio de Ângelis, responsável pela elaboração do programa
no âmbito da Câmara de Políticas
Regionais. Essa região não está incluída no Polígono das Secas.
Cada núcleo reunirá produtores
em cooperativas e se dedicará a um
tipo específico de produto, como
algodão, fruticultura, hortifrutigranjeiros, entre outros. Serão excluídas culturas de produção mais
cara, como o arroz irrigado, por
exemplo.
O governo cederá recursos para a
implantação do projeto (terra, sementes, insumos), armazenamento, transporte e comercialização.
Também implantará infra-estrutura em cada núcleo, como serviços de saúde, educação, segurança,
telefone e comércio.
O governo vai procurar parcerias
com a iniciativa privada para determinados projetos. Uma empresa privada poderá instalar, por
exemplo, uma fábrica de fios ou
mesmo uma malharia nas proximidades de um núcleo de produção de algodão.
²
Histórico
O primeiro contato entre os dois
governos para tratar do assunto
ocorreu quando o presidente Fernando Henrique Cardoso esteve
na Espanha em abril no ano passado. FHC pediu que o ministro Ovídio de Ângelis (Políticas Regionais) tocasse o projeto.
O ministro esteve na Espanha no
final do ano passado para conhecer projetos do governo espanhol
na região semi-árida daquele país.
Procurado pela Folha na semana
passada, o ministro não quis falar
sobre detalhes técnicos do projeto.
De Ângelis disse que só poderá
dar informações sobre o funcionamento do programa após a sua
aprovação pelo Conselho de Políticas Regionais, que tem o ministro
Clóvis Carvalho (Casa Civil) como
presidente. O ministro de Políticas
Regionais é o secretário-executivo
do conselho.
Após aprovado pelo conselho, o
projeto passará por uma fase de
detalhamento, quando serão ouvidos governos estaduais, universidades, ONGs e órgãos do governo
federal, como a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste). Essa fase vai ter uma
duração de 90 dias.
Fechado o projeto, os dois governos irão preparar o contrato de financiamento. Como se trata de
empréstimo externo, o projeto terá
de ser aprovado pelo Senado. Serão gastos mais 90 dias. A implantação do projeto deve começar,
portanto, no segundo semestre.
²
Outro lado
De Ângelis afirmou que considera natural a cláusula contratual
que exige a compra de produtos
espanhóis (50% do total). "O governo concede o financiamento
justamente para estimular a compra de produtos no seu país. Mas
os juros compensam: são de apenas 3,75% ao ano", disse.
O ministro disse que não haverá
perigo de compras superfaturadas
porque o contrato vai estabelecer
os preços máximos de cada produto, com base no mercado internacional. Além disso, disse, o governo brasileiro vai fazer licitações
entre empresas espanholas.
De Ângelis afirmou que a região
nordeste de Goiás foi incluída no
projeto porque apresenta as mesmas características geoeconômicas do Nordeste brasileiro.
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