São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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"OPERAÇÃO LIMPEZA"
Diretor-geral da PF promete afastar cerca de 40 acusados de envolvimento em crimes
PF prepara demissão de mais policiais

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, enviou circular para as 27 superintendências estaduais do órgão com o objetivo de afastar os policiais que respondem a processos judiciais por supostos crimes contra a administração pública.
A nova "faxina" na Polícia Federal deve atingir cerca de 40 policiais, de acordo com levantamento entregue em junho passado pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
O levantamento determinado pelo diretor-geral irá concluir a "operação limpeza" desencadeada há seis meses pelo ministro Renan Calheiros (Justiça), com o afastamento de 62 policiais suspeitos.
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Desvio de verba e propina
Quatro policiais já foram afastados este mês. Entre eles estão a ex-superintendente do órgão em Roraima Suely Goerish e o ex-superintendente no Rio de Janeiro Édson Antonio de Oliveira.
Suely é acusada de desviar verbas públicas quando exerceu o cargo durante dois anos antes de retornar a Brasília. Oliveira responde a processo sob a acusação de ter recebido suposta propina de bicheiros no Rio de Janeiro. Os dois foram procurados pela Folha ontem, mas não foram localizados para falar sobre as acusações.
Em São Paulo, já está certo o afastamento do delegado Wilson Alfredo Perpétuo, por ter sido condenado em primeira instância sob a acusação de facilitar contrabando. Amigo de Chelotti, ele dirigia a delegacia da Polícia Federal em Ribeirão Preto (interior do Estado), de onde saiu em junho passado.
Estão sujeitos a afastamento policiais que respondem a processos judiciais com base em crimes previstos nos artigos 312, 313, 316, 317 e 318 do Código Penal.
Eles não poderão exercer atividades policiais, mas continuarão a receber seus salários até a conclusão dos processos.
Esses artigos se referem a crimes de peculato (apropriação indevida de bem ou de dinheiro), concussão (obter vantagem indevida), corrupção ativa e passiva e facilitação de contrabando.
A medida foi exigida há duas semanas pelo ministro da Justiça, ao descobrir que a PF não havia concluído a "operação limpeza" iniciada em junho de 98, quando foram afastados principalmente policiais investigados em processos administrativos por falta grave.
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De volta ao passado
O diretor da PF disse à Folha que não adotou antes o afastamento dos policiais acusados na Justiça por não ter recebido nenhuma orientação nesse sentido.
Para ele, não estava claro que a reedição da medida provisória que tornou obrigatória a "suspensão preventiva" de policiais acusados em processos disciplinares sob a acusação de falta grave, como corrupção e envolvimento com traficantes, também seria aplicável para os policiais denunciados anteriormente à Justiça.
Na interpretação de Chelotti, o afastamento só seria adotado em novos casos. "Em direito, há sempre interpretações diferentes", disse o diretor da PF.
O saneamento da Polícia Federal foi adotado em razão de pressões da Procuradoria Geral da República por causa de ameaças de morte que estavam sendo feitas a duas procuradoras, Maria Cristiana Amorim e Anaiva Oberst Cordovil. Elas investigavam policiais federais suspeitos.
As ameaças desencadearam uma crise entre a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal após o assassinato do ex-corregedor da Polícia Federal em São Paulo Alcioni Serafim Santana.
Ele investigava colegas suspeitos com a ajuda da procuradora Maria Cristiana Amorim. Foi morto a tiros na frente de sua casa no dia 27 de maio passado.
O saneamento da PF foi baseado em medida provisória editada no dia 30 de junho de 98.
Na reedição da medida provisória, publicada no início de agosto, passou a constar também a aplicação da "suspensão preventiva" para os policiais acusados em processos judiciais.



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