São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Lula discute hoje em reunião próximos passos para tentar abafar crise causada por Waldomiro Diniz, ex-assessor do Planalto

Ato pró-Dirceu recebe críticas e divide PT

KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Parte da cúpula do governo tem dúvida sobre a conveniência política do ato de desagravo ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, preparado pelo PT. A oposição já ataca o ato, previsto para a próxima quarta-feira, em Brasília.
Em reunião marcada para hoje à tarde no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutirá os próximos passos para tentar abafar a crise política desencadeada pelo caso Waldomiro Diniz e se é conveniente deixar nascer a CPI dos Bingos, que já tem assinaturas suficientes no Senado para ser instalada.
Ontem, Lula recebeu no Palácio da Alvorada o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Há preocupação dos dois em evitar que a crise política contamine a economia e paralise o governo.
Nesse contexto, a Folha apurou que alguns ministros avaliam que o ato de desagravo, ao contrário de ajudar o governo a superar a crise, pode colocar mais lenha na fogueira. Também soa como ação "defensiva", em contraste com iniciativas "ofensivas" como foi a medida provisória que proibiu o funcionamento dos bingos.
Mais: o desagravo a Dirceu interessa mais ao PT do que ao governo porque o ministro da Casa Civil é visto pelo partido como o nome que defende as bandeiras tradicionais da legenda no governo. Aliados do PMDB e o grupo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) também têm interesse na manutenção de Dirceu no posto numa posição de maior dependência do apoio deles. Ou seja, valorizam-se e podem cobrar caro do governo.
Por isso, há membros da cúpula do governo que dizem que o ato de desagravo seria um erro e deveria ser suspenso. Eles lembram que a estratégia do PT de investir contra seus adversários políticos na semana passada rendeu mais prejuízos do que dividendos ao governo, levando setores do PSDB e do PFL, antes reticentes, a apoiar uma CPI específica do caso Waldomiro, o que desagrada o Palácio do Planalto.
Mais interessante, avaliam, seria insistir na chamada "agenda positiva", tentando reacender o debate sobre reforma política e priorizando projetos que o governo avalia fundamentais para o crescimento econômico. Dois desses projetos estão no Senado, onde tramita o pedido de CPI do caso Waldomiro. São eles: a medida provisória do setor elétrico e o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
A crise política foi gerada pela divulgação do vídeo gravado em 2002 no qual Waldomiro, homem da confiança de Dirceu, pede propina e contribuição de campanha a Carlinhos Cachoeira, empresário do bingo. Na época, ele era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), no governo Benedita da Silva (PT).
Em 2003, Waldomiro foi trabalhar na Subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, onde ficou até o final de janeiro, quando foi transferido na reforma ministerial para a Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais. Na Casa Civil, teve encontro com Cachoeira e representantes de empresa interessada em renovar contrato com o governo federal.

PFL ataca
"Esse ato [de desagravo a Dirceu] significa que a reação do PT em relação ao caso Waldomiro não é de indignação, e sim algo com o que se pode conviver. Não é para se indignar com o episódio. Esse desagravo vai deixar o governo do tamanho do Waldomiro", disse o líder do PFL, senador José Agripino (RN). "Não é um ato de ataque a ninguém, mas o PT não pode ficar parado diante de tantos ataques que está sofrendo. Estamos usando o caminho de sempre, a defesa", afirmou o presidente do PT, José Genoino.
Segundo petistas, além de homenagem a Dirceu, o ato seria demonstração de apoio a Lula.


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