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No recesso, deputados usam verba de R$ 6 mi da Câmara
Dinheiro é soma de indenizações por gastos nos Estados de 488 congressistas nas férias
Parlamentares pediram,em média, ressarcimentode R$ 12 mil em janeiro; gasto foi ainda maior entre os que não foram reeleitos
RANIER BRAGON
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara reembolsou 488
deputados federais num total
de R$ 5,9 milhões por supostos
gastos de trabalho durante janeiro, mês de recesso do Congresso Nacional. Mais de duas
centenas de deputados que encerraram o mandato naquele
mês tiveram os maiores reembolsos, R$ 13 mil em média para cada um, o que representa
87% da verba prevista.
O Congresso Nacional entrou em recesso em 23 de dezembro e só retomou a atividade no último dia 1º. Apesar disso, todos os 513 deputados continuaram tendo direito à chamada "verba indenizatória",
que destina R$ 15 mil mensais
para gastos com consultorias,
pagamento de aluguel de escritórios, combustível, alimentação, hospedagem e "divulgação
do mandato", entre outros.
Apenas 25 abriram mão do
benefício no mês de janeiro.
Ao apurar a justificativa dos
deputados para os gastos no
mês de férias, a Folha se deparou com casos controversos como o do líder da bancada do
PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), o que mais gastou no
mês, R$ 25,5 mil (o valor que
excede R$ 15 mil é reembolsado nos meses seguintes).
O peemedebista afirmou ter
usado parte do dinheiro, reservado para divulgação do mandato parlamentar, para pagar o
jornal "Tribuna do Norte", de
Natal, pela publicação de notícias sobre suas atividades em
Brasília. Alves, que é diretor-presidente do jornal, disse não
considerar indevida a "compra
de reportagens" nem o direcionamento de dinheiro público
ao seu jornal.
"Não tenho rendimento do
jornal, não recebo nada do jornal. Quem dirige são os diretores, não tenho nenhuma retirada do jornal." Mas quem faz as
retiradas, a família? "É. A rigor,
jornal lucro não dá. Só a Folha.
[Na Tribuna] é uma reclamação, uma choradeira danada."
Em outro caso, João Caldas
(PR-AL), que não se reelegeu
depois de ser acusado de envolvimento com o escândalo dos
sanguessugas, admite o uso de
R$ 15 mil em janeiro, o limite
da verba, para que os eleitores
"não se esqueçam" dele. Tudo
dentro da rubrica "divulgação
do mandato parlamentar".
"Quem não se comunica se
trumbica", avalia. "Político tem
que interagir com a sociedade.
E só interage se comunicar",
disse, concluindo: "A Câmara e
o Senado, se fossem duas empresas, seriam falidas. Não há
racionalidade no Parlamento,
tudo é exagerado".
Outro exemplo questionável
reúne os suplentes que assumiram apenas nas férias de janeiro. Todos eles foram reembolsados por supostos gastos de
trabalho, entre eles, José Rajão
(PSDB-DF), que afirmou ter
gasto R$ 14,5 mil com "consultorias, assessorias, pesquisas e
trabalhos técnicos". "Se eu tenho que prestar contas, é para a
Câmara, e não a vocês", disse.
O total de R$ 5,9 milhões reservado pela Câmara para
reembolso dos 488 deputados
por trabalhos em janeiro dá
uma média de R$ 12 mil para
cada parlamentar. Entre os 241
deputados não-reeleitos, a média sobe para R$ 13 mil.
Já 71 deputados que foram
acusados de participação ou no
esquema dos sanguessugas ou
no esquema do mensalão, o
reembolso médio foi ainda
maior, de R$ 13,5 mil.
Defesa
O deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), que chefia a área
administrativa da Câmara, defendeu o uso da verba em janeiro afirmando que os gastos de
manutenção dos escritórios estaduais dos deputados se mantêm naquele mês e que, para os
não-reeleitos, o custo de desativação pode ser até superior.
Serraglio, que não apresentou até agora nenhum valor a
ser reembolsado por gastos em
janeiro, admite, entretanto,
que "pode haver malandragem". "Cada caso é um caso, pode ter malandragem, como pode não ter. Vi um cara, que tenho o maior respeito por ele,
com um valor alto lá atrás. Disse "Meu Deus, esse cara com esse valor, muito acima". E eu tenho convicção de que ele não
fez bobagem", afirmou.
A Câmara não permite o
acesso às prestações de contas
dos deputados relativa à "verba
indenizatória". Serraglio diz
ser favorável à abertura da consulta, mas ressalva que essa
tem que ser uma decisão da
Mesa Diretora, composta por
mais seis colegas, entre eles o
presidente da Câmara, Arlindo
Chinaglia (PT-SP).
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