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DESGASTE PETISTA
Críticas de presidente da Câmara criam crise no comando de Lula
João Paulo mira em líderes do PT, mas acerta em Dirceu
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O ataque do presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo
Cunha, à articulação política do
governo Luiz Inácio Lula da Silva
foi precedido de um telefonema
àquele que, em tese, seria o alvo
principal, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. A intenção,
segundo manifestou a assessores,
era criticar os líderes do governo
no Congresso, numa disputa por
espaço no comando político.
Na sexta-feira, João Paulo afirmou: "Estamos batendo cabeça.
O governo está um pouco desorientado na condução política.
Precisa acertar o passo".
A declaração parecia ser uma
trombada direta com Dirceu, o
principal articulador da candidatura de João Paulo à Presidência
na Câmara. Mas ela foi combinada na quarta-feira à noite, em telefonema de João Paulo ao ministro-chefe da Casa Civil.
Naquele dia, o PFL, com uma
bancada de 77 deputados, havia
conseguido obstruir a pauta de
votação da Câmara por quatro
horas. Obstrução é uma estratégia
não prevista nos regimentos do
Congresso em que parlamentares
de um partido permanecem em
plenário, mas não são contados
como quórum para a sessão. Assim, a pauta fica obstruída enquanto não houver o quórum parlamentar mínimo para votação (257 dos 513 deputados).
Na semana anterior, PFL e
PSDB já tinham usado a tática da
obstrução e conseguido adiar a
votação de uma medida provisória que trancava a pauta.
Cobrado pelo ministro da Casa
Civil, João Paulo queixou-se, dizendo que Dirceu precisava "organizar sua tropa", no caso, Aldo
Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Câmara, e Nelson Pellegrino (PT-BA), líder do partido.
Como no Senado, o PFL também havia conseguido obstruir a
pauta, a crítica foi estendida ao líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e ao líder da bancada, Tião Viana (PT-AC).
João Paulo disse a Dirceu que
externaria suas críticas à condução política dos líderes, como um
alerta. Avaliava que o governo Lula precisa dar sinais de força no
Congresso, em especial para assegurar as reformas tributária e previdenciária, consideradas cruciais
para a política econômica.
O plano é colocar em votação as
duas reformas até julho e dedicar
o segundo semestre às leis regulamentadoras necessárias.
Dirceu aceitou a argumentação,
mas não imaginava que seria tomado como alvo principal das
críticas. Na quinta-feira, reuniu os
líderes na Câmara e no Senado na
tentativa de rever as linhas de
ação no Congresso, reunião que
se repetiu na noite de ontem.
Na sexta-feira, ao saber das declarações de João Paulo em São
Paulo, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, saiu em defesa
de Dirceu. "A condução política
do governo está a cargo do ministro-chefe da Casa Civil, que já obteve várias vitórias importantes,
como a eleição das Mesas da Câmara e do Senado."
À resposta pública de Dulci,
apontando algo próximo a ingratidão na frase de João Paulo, sucedeu-se um telefonema ao presidente da Câmara na noite de sexta-feira. Depois de três horas de
tentativa de contato, Dulci localizou João Paulo no interior do Estado. Atribuiu suas declarações ao
relato -supostamente carregado
no tom- que os jornalistas haviam feito das frases do deputado.
Ficou o dito pelo não dito, mas
os alvos de João Paulo eram os líderes do governo no Congresso.
Certo de que não tem como entrar numa disputa política com
Dirceu -desde a campanha eleitoral o nome político mais forte
de Lula-, João Paulo tenta se fortalecer e ocupar espaços. Restringir a ação de Rebello e Pellegrino
na Câmara, é uma forma de tal.
Petistas reagiram acusando a
"falta de habilidade" de João Paulo na presidência da Casa como
um dos motivos para as dificuldades encontradas no plenário.
Culpam o deputado pelas dificuldades na tentativa de votação
da proposta de emenda constitucional que abre espaço para a autonomia do Banco Central.
Enfrentando críticas dentro do
próprio PT, a emenda foi colocada por João Paulo na pauta de votações da semana passada, mesmo sem a liderança do governo na
Câmara ter conseguido um acordo que desse a garantia suficiente
da obtenção dos 308 votos necessários à aprovação.
A base oficial do governo na Câmara é de 253 deputados. Com a
adesão do PMDB, o governo conseguiria a base formal de 323 deputados, uma margem apertada
para a votação de emendas constitucionais em razão de ausências
e defecções.
Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília
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