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Nonô vira o "trator" do presidente
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em seu primeiro mês como presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) delegou a um
alagoano com fama de "trator" a
tarefa de comandar as votações
mais espinhosas da Casa.
José Thomaz Nonô (PFL-AL),
57, primeiro-vice-presidente da
Câmara, assumiu a Mesa na votação da Lei de Biossegurança e da
PEC paralela da Previdência, as
duas principais matérias até agora
apreciadas na gestão Severino.
Fez isso por um "acordo informal" com o pepista, que, enquanto a discussão corria solta, podia
ser encontrado recebendo parlamentares em seu gabinete.
"Sempre que o presidente tiver
dificuldades para presidir alguma
sessão, a presidência caberá a
mim, até porque isso é regimental. Não existe um acordo entre
nós, é algo informal e eventual",
afirma Nonô. Em seu sexto mandato, Nonô é experiente na arte de
conduzir sessões. Já presidiu a
Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Na
Constituinte, foi o responsável
pela Comissão de Organização do
Estado. Até um mês atrás, era o líder da oposição na Câmara.
Seu estilo em plenário é duro.
Na votação da PEC paralela, não
teve pudores de cortar a palavra
de deputados que tentavam falar.
"Vossa Excelência não tem direito, a palavra está com essa presidência", disse a um deputado.
Com outro parlamentar, que insistia em registrar verbalmente o
voto, perdeu a paciência. "Vossa
Excelência, por favor, colabore!"
Reservadamente, deputados
respiram aliviados com o entendimento Severino-Nonô: inexperiente, o presidente teria se perdido em meio ao caos de votações.
Severino, no comando da Mesa,
protagonizou duas cenas comentadas recentemente. Primeiro,
ameaçou derrubar a votação da
Lei de Biossegurança, a qual se
opunha, ao ser criticado por desconsiderar uma decisão dos líderes no plenário. Segundo, bateu
boca com o deputado Alberto
Goldman (PSDB-SP) após tê-lo
atacado ao negar seu pedido para
abrir processo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Sou absolutamente intolerante
quanto ao desrespeito às regras
regimentais e intransigente quanto à desordem", afirma Nonô, que
rejeita o rótulo de trator. "Mas sou
aberto ao diálogo, recebo cumprimentos de deputados de oposição
e do governo."
Nonô irritou petistas na última
quarta-feira ao encerrar abruptamente a sessão da PEC paralela
por falta de quórum, quando era
votado um dos destaques propostos pela oposição. Tudo indicava
que seria rejeitado. "Aqui não
existem mais regras regimentais
de condução da sessão, fica tudo a
critério do presidente", diz José
Pimentel (PT-CE), relator da reforma da Previdência.
O pefelista defende seus atos.
No exemplo específico da PEC,
disse que seguiu o regimento ao
deixar a votação correr por 15 minutos e encerrá-la quando o quórum não foi atingido. "Cumpri o
regimento. Dessa vez o PT não
gostou, mas, quando votamos a
Biossegurança, governistas me
parabenizaram", diz.
O deputado admite um certo
pavio curto. "Sou irritadiço, mas
também bem-humorado. Só quero que deputados e jornalistas
possam ir para casa o mais rápido
possível nas sessões."
A assessoria de Severino disse
que ele tem se ausentado de algumas sessões em razão da demanda por compromissos no início de
sua gestão e que isso deve ser uma
fase transitória, mas que continua
negociando com deputados.
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