São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nonô vira o "trator" do presidente

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em seu primeiro mês como presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) delegou a um alagoano com fama de "trator" a tarefa de comandar as votações mais espinhosas da Casa.
José Thomaz Nonô (PFL-AL), 57, primeiro-vice-presidente da Câmara, assumiu a Mesa na votação da Lei de Biossegurança e da PEC paralela da Previdência, as duas principais matérias até agora apreciadas na gestão Severino.
Fez isso por um "acordo informal" com o pepista, que, enquanto a discussão corria solta, podia ser encontrado recebendo parlamentares em seu gabinete.
"Sempre que o presidente tiver dificuldades para presidir alguma sessão, a presidência caberá a mim, até porque isso é regimental. Não existe um acordo entre nós, é algo informal e eventual", afirma Nonô. Em seu sexto mandato, Nonô é experiente na arte de conduzir sessões. Já presidiu a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Na Constituinte, foi o responsável pela Comissão de Organização do Estado. Até um mês atrás, era o líder da oposição na Câmara.
Seu estilo em plenário é duro. Na votação da PEC paralela, não teve pudores de cortar a palavra de deputados que tentavam falar. "Vossa Excelência não tem direito, a palavra está com essa presidência", disse a um deputado.
Com outro parlamentar, que insistia em registrar verbalmente o voto, perdeu a paciência. "Vossa Excelência, por favor, colabore!"
Reservadamente, deputados respiram aliviados com o entendimento Severino-Nonô: inexperiente, o presidente teria se perdido em meio ao caos de votações.
Severino, no comando da Mesa, protagonizou duas cenas comentadas recentemente. Primeiro, ameaçou derrubar a votação da Lei de Biossegurança, a qual se opunha, ao ser criticado por desconsiderar uma decisão dos líderes no plenário. Segundo, bateu boca com o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) após tê-lo atacado ao negar seu pedido para abrir processo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Sou absolutamente intolerante quanto ao desrespeito às regras regimentais e intransigente quanto à desordem", afirma Nonô, que rejeita o rótulo de trator. "Mas sou aberto ao diálogo, recebo cumprimentos de deputados de oposição e do governo."
Nonô irritou petistas na última quarta-feira ao encerrar abruptamente a sessão da PEC paralela por falta de quórum, quando era votado um dos destaques propostos pela oposição. Tudo indicava que seria rejeitado. "Aqui não existem mais regras regimentais de condução da sessão, fica tudo a critério do presidente", diz José Pimentel (PT-CE), relator da reforma da Previdência.
O pefelista defende seus atos. No exemplo específico da PEC, disse que seguiu o regimento ao deixar a votação correr por 15 minutos e encerrá-la quando o quórum não foi atingido. "Cumpri o regimento. Dessa vez o PT não gostou, mas, quando votamos a Biossegurança, governistas me parabenizaram", diz.
O deputado admite um certo pavio curto. "Sou irritadiço, mas também bem-humorado. Só quero que deputados e jornalistas possam ir para casa o mais rápido possível nas sessões."
A assessoria de Severino disse que ele tem se ausentado de algumas sessões em razão da demanda por compromissos no início de sua gestão e que isso deve ser uma fase transitória, mas que continua negociando com deputados.


Texto Anterior: Governo e oposição criticam plano de mutirão de Severino
Próximo Texto: Combustível Verde: Biodiesel evitará guerra por petróleo, diz Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.