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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS
Para dom Odilo Scherer, ação pode prejudicar o governo; dom Antônio Queirós acha que não é a hora de pedir demissão do ministro
Desqualificar caseiro é "perigoso", diz CNBB
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em entrevista ontem, na sede da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil), o secretário-geral da entidade, dom Odilo Pedro
Scherer, afirmou que "pode ser
muito perigosa" uma eventual
tentativa do governo federal de
transformar em acusado o caseiro
Francenildo Costa, que afirma ter
visto o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) numa casa freqüentada por lobistas.
Desqualificar o depoimento do
caseiro, segundo o representante
da Igreja Católica, pode "deixar
mal" quem buscar tal iniciativa.
"É uma tentativa que pode ser
muito perigosa. Comprovado que
esse dinheiro [depositado na conta do caseiro] teve uma origem
[legal], fica muito mal para quem
quisesse usar esse argumento."
Ontem, dom Odilo se disse um
pouco desinformado em relação
ao noticiário. Por conta disso, colocou na condicional a quebra do
sigilo na Caixa. "Uma violação de
sigilo bancário sem autorização
seria muito grave, seria fazer algo
que viola a liberdade e a privacidade do cidadão."
Assim como dom Odilo, dom
Antônio Celso Queirós, vice-presidente da CNBB, também presente à entrevista, disse que este
não é o momento de pedir a cabeça do ministro. Ambos defendem
o término das investigações, para
evitar comentários precipitados.
A cautela em relação a Palocci,
porém, não se reflete na opinião
deles sobre a política econômica.
Ontem, dom Antônio elevou o
tom sobre os gastos em programas sociais. "Enquanto damos
uns trocados para os programas
sociais, nós damos milhões para o
pagamento dos juros da dívida."
A entrevista de ontem marcou o
encerramento de reunião do conselho permanente da CNBB, na
qual ficou decidida a elaboração
de um texto de orientações gerais
a ser entregue aos candidatos, que
deve ser divulgado no mês que
vem. Sobre isso, dom Antônio se
mostrou cético em relação aos
candidatos. "Não há nenhuma
pessoa salvadora para a política
de país nenhum, muito menos
para a política brasileira."
Dom Antônio também criticou
o andamento das investigações
sobre as denúncias de corrupção.
"É triste a gente ver um país entregue a esse diz-que-diz de esquina.
Realmente eu me sinto envergonhado. Torço que isso passe e se
apure o melhor possível."
Ao final, dom Odilo ironizou
tanto petistas como tucanos. Sobre o PT, se mostrou curioso de
como o partido irá tratar da questão ética na campanha eleitoral.
"Não sei como [o partido] vai fazer, porque realmente tem tantas
coisas aí que foram levantadas.
Acho que a opinião pública é que
dará a resposta." Sobre o PSDB,
comentou recente declaração do
governador Geraldo Alckmin de
que não há ladrões em São Paulo.
"Tem muito ladrão em São Paulo,
sim, há muitos assaltos na rua."
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