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JANIO DE FREITAS
Variações pouco variadas
Ficou evidente na "demonstração de força" que a localização de foragidos já era conhecida da polícia
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A "DEMONSTRAÇÃO de força"
que o Conselho Nacional dos
Chefes de Polícia fez realizar
"em todo o país" na sexta-feira, por
inegável ciúme do realce alcançado
pela Polícia Federal, teve resultado
no mínimo contraditório, para não
dizer que o "show" preparado deu
ainda mais razões à população de temer por sua segurança.
A quantidade recorde de prisões
em São Paulo, 1.165 com a mobilização de 21 mil policiais, leva a duas observações imediatas. O milhar de presos, detidos e averiguados não
tem a ver todo ele com segurança. Há
casos de pensões alimentícias em
atraso, apreensões de contrabando e
produtos piratas, irregularidades de
veículos, por exemplo. Mas também
há o recolhimento de grande quantidade de cocaína, ecstasy e maconha,
a apreensão de 257 armas e a prisão
de 257 procurados, além de 1.395
mandados de busca e apreensão que
aguardavam cumprimento.
Positivos embora, esses últimos
números questionam a atitude policial anterior. Ficou evidente que a localização de foragidos, depósitos de entorpecentes e de muitos dos 583
presos em flagrante, assim como os
centros de produtos piratas e contrabando, já era bem conhecida da polícia. Por que policiais não os foram buscar em ações do seu dia-a-dia, só o
fazendo quando combinada uma
pretensa "demonstração de força"
com vistas, também, a "melhores salários e condições de trabalho"?
Nos demais estados comprometidos com o plano da "demonstração",
o resultado foi quase sempre cômico
(Minas não viu motivo para ser solidária à operação). No Rio, os 2 mil
policiais da "demonstração" só conseguiram apreender 17 armas e deter
70 pessoas, número engordado com
o recolhimento de menores de rua. A
violenta Bahia mobilizou mais de mil
policiais, cento e tantos delegados -e
só deteve 72 pessoas. Não menos violento, o Maranhão fez a sua "demonstração de força": prendeu um.
O Paraná deteve apenas 29, mas fez o
show de quem houvesse extirpado a
insegurança no continente.
E por aí foi, de fato, a demonstração do que não precisava mais ser demonstrado.
Enquanto exerceu o jornalismo,
Miguel Jorge o fez como um profissional merecedor de respeito. Dirigir
uma redação importante, como foi
seu caso no "Estado de S. Paulo", implica riscos éticos e morais permanentes, imensos e ardilosos. Não são muitos os que passam no teste. Miguel Jorge leva esse diploma para o
Ministério do Desenvolvimento, a
par, e a meu ver acima, da experiência obtida na Volkswagen e no Santander.
A ressalva que lhe faz um ou outro
dirigente empresarial paulista, pelo
que seria falta de experiência em indústria, não tem fundamento. E, pior
ainda, ignora que política de desenvolvimento é, antes de tudo, política.
Para não passar uma imagem de leviandade, Lula deve anistiar os usineiros de São Paulo punidos (?) por
forçarem bóias-frias a 14 horas de trabalho, ao sol, sem ferramentas apropriadas, sem alimentação decente e
até sem água limpa para a sede.
Ou tais usineiros, como os designou Lula, são "heróis do Brasil e do
mundo", e não devem ser punidos
por simples fiscais do Ministério do
Trabalho, portanto, do próprio governo Lula; ou o deslumbramento infantilizante de Lula levou-o a acobertar
exploradores de mulheres e homens
da miséria. Já que não pode anistiar-se, a solução só pode ser a anistia dos
malfeitores que merecem a sua louvação.
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