São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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JANIO DE FREITAS

Variações pouco variadas


Ficou evidente na "demonstração de força" que a localização de foragidos já era conhecida da polícia

A "DEMONSTRAÇÃO de força" que o Conselho Nacional dos Chefes de Polícia fez realizar "em todo o país" na sexta-feira, por inegável ciúme do realce alcançado pela Polícia Federal, teve resultado no mínimo contraditório, para não dizer que o "show" preparado deu ainda mais razões à população de temer por sua segurança.
A quantidade recorde de prisões em São Paulo, 1.165 com a mobilização de 21 mil policiais, leva a duas observações imediatas. O milhar de presos, detidos e averiguados não tem a ver todo ele com segurança. Há casos de pensões alimentícias em atraso, apreensões de contrabando e produtos piratas, irregularidades de veículos, por exemplo. Mas também há o recolhimento de grande quantidade de cocaína, ecstasy e maconha, a apreensão de 257 armas e a prisão de 257 procurados, além de 1.395 mandados de busca e apreensão que aguardavam cumprimento.
Positivos embora, esses últimos números questionam a atitude policial anterior. Ficou evidente que a localização de foragidos, depósitos de entorpecentes e de muitos dos 583 presos em flagrante, assim como os centros de produtos piratas e contrabando, já era bem conhecida da polícia. Por que policiais não os foram buscar em ações do seu dia-a-dia, só o fazendo quando combinada uma pretensa "demonstração de força" com vistas, também, a "melhores salários e condições de trabalho"?
Nos demais estados comprometidos com o plano da "demonstração", o resultado foi quase sempre cômico (Minas não viu motivo para ser solidária à operação). No Rio, os 2 mil policiais da "demonstração" só conseguiram apreender 17 armas e deter 70 pessoas, número engordado com o recolhimento de menores de rua. A violenta Bahia mobilizou mais de mil policiais, cento e tantos delegados -e só deteve 72 pessoas. Não menos violento, o Maranhão fez a sua "demonstração de força": prendeu um. O Paraná deteve apenas 29, mas fez o show de quem houvesse extirpado a insegurança no continente.
E por aí foi, de fato, a demonstração do que não precisava mais ser demonstrado.
 
Enquanto exerceu o jornalismo, Miguel Jorge o fez como um profissional merecedor de respeito. Dirigir uma redação importante, como foi seu caso no "Estado de S. Paulo", implica riscos éticos e morais permanentes, imensos e ardilosos. Não são muitos os que passam no teste. Miguel Jorge leva esse diploma para o Ministério do Desenvolvimento, a par, e a meu ver acima, da experiência obtida na Volkswagen e no Santander.
A ressalva que lhe faz um ou outro dirigente empresarial paulista, pelo que seria falta de experiência em indústria, não tem fundamento. E, pior ainda, ignora que política de desenvolvimento é, antes de tudo, política.
 
Para não passar uma imagem de leviandade, Lula deve anistiar os usineiros de São Paulo punidos (?) por forçarem bóias-frias a 14 horas de trabalho, ao sol, sem ferramentas apropriadas, sem alimentação decente e até sem água limpa para a sede.
Ou tais usineiros, como os designou Lula, são "heróis do Brasil e do mundo", e não devem ser punidos por simples fiscais do Ministério do Trabalho, portanto, do próprio governo Lula; ou o deslumbramento infantilizante de Lula levou-o a acobertar exploradores de mulheres e homens da miséria. Já que não pode anistiar-se, a solução só pode ser a anistia dos malfeitores que merecem a sua louvação.


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