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Para analistas, reforma enfraquece PT
Cientistas políticos dizem que, sem emplacar Marta em pasta mais forte, sigla terá dificuldade para encontrar sucessor de Lula
Especialistas afirmam que
novo ministério garante
base parlamentar mais forte
para o governo, mas é mais
político do que técnico
RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO
O novo ministério de Luiz
Inácio Lula da Silva é mais político do que técnico, mas atende
ao principal anseio do presidente ao substituir parte de sua
equipe: garantir uma base parlamentar maior e mais fiel.
Sem conseguir emplacar
Marta Suplicy nas Cidades ou
na Educação, o PT sai enfraquecido e sem um candidato
natural à sucessão de Lula.
Esse é um resumo da análise
dos cientistas políticos Fernando Abrucio (Fundação Getúlio
Vargas), Leôncio Martins Rodrigues (Unicamp) e Fábio
Wanderley Reis (UFMG) sobre
a reforma ministerial.
"O suporte ao governo no
Congresso atualmente é melhor do que o do início do primeiro mandato. Ainda que seja
preciso um pé atrás em relação
à confiabilidade do PMDB, as
condições estão surpreendentemente boas", afirma Reis.
Leôncio concorda, mas critica as mudanças feitas por Lula.
"O esforço todo, daí também a
demora, foi feito para conseguir amarrar uma base parlamentar mais forte, incluindo os
acordos com os antigos inimigos políticos, como o Geddel
[Vieira Lima, ministro da Integração Nacional]. Minha impressão é que esse ministério é
pior que o outro. Do ponto de
vista técnico, a substituição do
Márcio Thomaz Bastos pelo
Tarso Genro é ruim. O [Reinhold] Stephanes [ministro da
Agricultura] não é um especialista no setor agrícola; a Marta,
de Turismo, entende pouco",
afirma Leôncio.
Abrucio também vê um loteamento político nos ministérios, mas ressalva: "Se o presidente não monta a base governamental pela via dos ministérios, não governa. O Fernando
Henrique Cardoso teve o Renan Calheiros como ministro
da Justiça. O Tarso Genro é
quase o jurista-mor do país
perto dele", comenta.
Os três são unânimes na análise de que PT e Marta saem enfraquecidos na reforma. O partido queria ter a ex-prefeita numa pasta de maior orçamento,
mas teve que aceitar o Turismo.
"A maneira como o PT paulista tentou impor o nome da
Marta foi desastrosa. O Lula
deu um recado: "Vocês já têm
poder demais, contentem-se'",
disse Abrucio, para quem Marta ficou para trás na disputa pela sucessão no Planalto.
"Não dá para sair do ministério, concorrer à Prefeitura de
São Paulo e depois concorrer à
Presidência. Daqui a pouco ela
vai querer concorrer ao papado. Não dá para fazer essa corrida de obstáculos na política."
Leôncio vê o fracasso da
"operação Marta" como reflexo
de uma maior independência
de Lula em relação ao PT. "O
Lula teve votação muito maior
do que a do PT nos Estados. Esse fato colocou o PT numa situação sem muita legitimidade
para exigir espaço no ministério. O PT sempre foi mais fraco
do que o Lula, mas o Lula sempre precisava do PT. Agora, ele
está se tornando mais independente do partido", disse.
Em 2002, FHC escolheu o
ministro José Serra (Saúde) como seu candidato. Na avaliação
de Reis, Lula teria uma tarefa
difícil se tentasse escolher no
ministério o seu sucessor.
"Eu não vejo nenhum candidato óbvio, ninguém que tenha
saído fortalecido como candidato potencial no partido, ou
mesmo na coalizão, com essa
composição do ministério."
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