São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para analistas, reforma enfraquece PT

Cientistas políticos dizem que, sem emplacar Marta em pasta mais forte, sigla terá dificuldade para encontrar sucessor de Lula

Especialistas afirmam que novo ministério garante base parlamentar mais forte para o governo, mas é mais político do que técnico

RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO

O novo ministério de Luiz Inácio Lula da Silva é mais político do que técnico, mas atende ao principal anseio do presidente ao substituir parte de sua equipe: garantir uma base parlamentar maior e mais fiel.
Sem conseguir emplacar Marta Suplicy nas Cidades ou na Educação, o PT sai enfraquecido e sem um candidato natural à sucessão de Lula.
Esse é um resumo da análise dos cientistas políticos Fernando Abrucio (Fundação Getúlio Vargas), Leôncio Martins Rodrigues (Unicamp) e Fábio Wanderley Reis (UFMG) sobre a reforma ministerial.
"O suporte ao governo no Congresso atualmente é melhor do que o do início do primeiro mandato. Ainda que seja preciso um pé atrás em relação à confiabilidade do PMDB, as condições estão surpreendentemente boas", afirma Reis.
Leôncio concorda, mas critica as mudanças feitas por Lula. "O esforço todo, daí também a demora, foi feito para conseguir amarrar uma base parlamentar mais forte, incluindo os acordos com os antigos inimigos políticos, como o Geddel [Vieira Lima, ministro da Integração Nacional]. Minha impressão é que esse ministério é pior que o outro. Do ponto de vista técnico, a substituição do Márcio Thomaz Bastos pelo Tarso Genro é ruim. O [Reinhold] Stephanes [ministro da Agricultura] não é um especialista no setor agrícola; a Marta, de Turismo, entende pouco", afirma Leôncio.
Abrucio também vê um loteamento político nos ministérios, mas ressalva: "Se o presidente não monta a base governamental pela via dos ministérios, não governa. O Fernando Henrique Cardoso teve o Renan Calheiros como ministro da Justiça. O Tarso Genro é quase o jurista-mor do país perto dele", comenta.
Os três são unânimes na análise de que PT e Marta saem enfraquecidos na reforma. O partido queria ter a ex-prefeita numa pasta de maior orçamento, mas teve que aceitar o Turismo.
"A maneira como o PT paulista tentou impor o nome da Marta foi desastrosa. O Lula deu um recado: "Vocês já têm poder demais, contentem-se'", disse Abrucio, para quem Marta ficou para trás na disputa pela sucessão no Planalto.
"Não dá para sair do ministério, concorrer à Prefeitura de São Paulo e depois concorrer à Presidência. Daqui a pouco ela vai querer concorrer ao papado. Não dá para fazer essa corrida de obstáculos na política."
Leôncio vê o fracasso da "operação Marta" como reflexo de uma maior independência de Lula em relação ao PT. "O Lula teve votação muito maior do que a do PT nos Estados. Esse fato colocou o PT numa situação sem muita legitimidade para exigir espaço no ministério. O PT sempre foi mais fraco do que o Lula, mas o Lula sempre precisava do PT. Agora, ele está se tornando mais independente do partido", disse.
Em 2002, FHC escolheu o ministro José Serra (Saúde) como seu candidato. Na avaliação de Reis, Lula teria uma tarefa difícil se tentasse escolher no ministério o seu sucessor.
"Eu não vejo nenhum candidato óbvio, ninguém que tenha saído fortalecido como candidato potencial no partido, ou mesmo na coalizão, com essa composição do ministério."


Texto Anterior: Janio de Freitas: Variações pouco variadas
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.