São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Lula e Bush dão última chance a Doha

Presidentes aproveitarão encontro em Camp David, no sábado, para mostrar frente unida em rodada de comércio exterior

Se norte-americano não destravar negociação até o meio do ano, só o próximo presidente dos EUA o fará, afirma professor de Harvard

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Quando se abraçarem diante da imprensa, nas montanhas de Camp David, no Estado de Maryland, às 14h25 do próximo sábado (15h25 de Brasília), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush estarão pressionados pelo tempo.
Não da reunião, que terá durado algumas horas e será seguida de churrasco. Mas do tempo de direito que resta ao republicano no poder, 22 meses, e o que resta de fato, bem menor. "Se Bush não avançar nada em relação à Rodada Doha até o meio desse ano, podemos esperar pelo próximo presidente", disse o acadêmico Robert Z. Lawrence, de Harvard.
O professor de comércio internacional e investimento da John F. Kennedy School of Government, acredita que a aproximação da disputa presidencial de 2008 restringirá a capacidade de negociação de Bush.
"Historicamente, todos os grandes acordos comerciais foram aprovados com os EUA no primeiro ou no segundo ano de mandato do presidente", disse Lawrence. Bush está na metade final de seu segundo termo. "Mas estou otimista, pois tanto Brasil quanto EUA têm interesse em avançar na negociação."
As negociações da rodada da Organização Mundial do Comércio empacaram no meio de 2006. De um lado, representando os países em desenvolvimento, o Brasil quer a redução de subsídios agrícolas de norte-americanos e europeus, que por sua vez querem mais abertura dos setores industrial e de serviços daqueles países.
O otimismo do professor é replicado por diplomatas de ambos os países com os quais a reportagem conversou, alguns dos quais pediram que seus nomes fossem preservados.
O clima geral que descreveram em relação à negociação da rodada é de "agora ou nunca". "Não aguarde nenhum grande anúncio a esse respeito ao final da reunião", disse um diplomata brasileiro familiar com as negociações. "Mas saiba que esse terá sido um dos, senão o principal, tema da conversa."

Em São Paulo
No encontro entre os dois presidentes em São Paulo, o próprio Lula havia dito: "É como um jogo de cartas. Certamente o presidente Bush tem a sua no bolso do colete. O Brasil tem a dele, e a União Européia também. Em algum momento, vamos colocar as cartas na mesa e vamos ver se seremos ou não capazes de fazer o acordo."
A avaliação é a de que o momento chegou. Tanto que Susan Schwab, a negociadora do comércio exterior dos EUA, foi convidada a participar do encontro no retiro presidencial, onde deve fazer outra de uma série de reuniões que vem tendo com o chanceler Celso Amorim. A idéia é que os dois países criem uma frente unida para pressionar a União Européia.
A mudança de atitude pôde ser sentida nas declarações públicas dos dois lados, dias antes da reunião. "Compartilhamos o sentimento de que, para Doha ser bem sucedida, temos de ter um nível elevado de ambição", disse Antonio Patriota, embaixador brasileiro em Washington. Mas ele acrescentaria que o Brasil está preparado a ceder. "Estamos olhando atentamente os setores de bens industriais e serviços e preparados para fazer as concessões necessárias."
O tom conciliatório americano não foi menor. "Ambos os presidentes se comprometeram a trabalhar para o sucesso de Doha", disse Thomas Shannon, responsável pela América Latina do Departamento de Estado. "Isso mostra o quão importante é para os países acharem pontos em comum."


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