|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula e Bush dão última chance a Doha
Presidentes aproveitarão encontro em Camp David, no sábado, para mostrar frente unida em rodada de comércio exterior
Se norte-americano não destravar negociação até o meio do ano, só o próximo presidente dos EUA o fará, afirma professor de Harvard
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Quando se abraçarem diante
da imprensa, nas montanhas de
Camp David, no Estado de
Maryland, às 14h25 do próximo
sábado (15h25 de Brasília), os
presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e George W. Bush estarão
pressionados pelo tempo.
Não da reunião, que terá durado algumas horas e será seguida de churrasco. Mas do
tempo de direito que resta ao
republicano no poder, 22 meses, e o que resta de fato, bem
menor. "Se Bush não avançar
nada em relação à Rodada Doha até o meio desse ano, podemos esperar pelo próximo presidente", disse o acadêmico Robert Z. Lawrence, de Harvard.
O professor de comércio internacional e investimento da
John F. Kennedy School of Government, acredita que a aproximação da disputa presidencial de 2008 restringirá a capacidade de negociação de Bush.
"Historicamente, todos os
grandes acordos comerciais foram aprovados com os EUA no
primeiro ou no segundo ano de
mandato do presidente", disse
Lawrence. Bush está na metade
final de seu segundo termo.
"Mas estou otimista, pois tanto
Brasil quanto EUA têm interesse em avançar na negociação."
As negociações da rodada da
Organização Mundial do Comércio empacaram no meio de
2006. De um lado, representando os países em desenvolvimento, o Brasil quer a redução
de subsídios agrícolas de norte-americanos e europeus, que
por sua vez querem mais abertura dos setores industrial e de
serviços daqueles países.
O otimismo do professor é
replicado por diplomatas de
ambos os países com os quais a
reportagem conversou, alguns
dos quais pediram que seus nomes fossem preservados.
O clima geral que descreveram em relação à negociação da
rodada é de "agora ou nunca".
"Não aguarde nenhum grande
anúncio a esse respeito ao final
da reunião", disse um diplomata brasileiro familiar com as negociações. "Mas saiba que esse
terá sido um dos, senão o principal, tema da conversa."
Em São Paulo
No encontro entre os dois
presidentes em São Paulo, o
próprio Lula havia dito: "É como um jogo de cartas. Certamente o presidente Bush tem a
sua no bolso do colete. O Brasil
tem a dele, e a União Européia
também. Em algum momento,
vamos colocar as cartas na mesa e vamos ver se seremos ou
não capazes de fazer o acordo."
A avaliação é a de que o momento chegou. Tanto que Susan Schwab, a negociadora do
comércio exterior dos EUA, foi
convidada a participar do encontro no retiro presidencial,
onde deve fazer outra de uma
série de reuniões que vem tendo com o chanceler Celso Amorim. A idéia é que os dois países
criem uma frente unida para
pressionar a União Européia.
A mudança de atitude pôde
ser sentida nas declarações públicas dos dois lados, dias antes
da reunião. "Compartilhamos o
sentimento de que, para Doha
ser bem sucedida, temos de ter
um nível elevado de ambição",
disse Antonio Patriota, embaixador brasileiro em Washington. Mas ele acrescentaria que
o Brasil está preparado a ceder.
"Estamos olhando atentamente os setores de bens industriais
e serviços e preparados para fazer as concessões necessárias."
O tom conciliatório americano não foi menor. "Ambos os
presidentes se comprometeram a trabalhar para o sucesso
de Doha", disse Thomas Shannon, responsável pela América
Latina do Departamento de Estado. "Isso mostra o quão importante é para os países acharem pontos em comum."
Texto Anterior: Costa diz que TV de Chávez é útil para rir Próximo Texto: Pará: Ibama fecha terminal da Cargill em Santarém Índice
|