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Na terra de d. Odilo, católicos e protestantes vivem misturados
Em Toledo, no Paraná, irmão de novo arcebispo de São Paulo diz que cidade é ecumênica há tempos
Localidade foi ocupada no
início dos anos 50, quando famílias de trabalhadores rurais, na maioria de origem alemã,
para ali se mudaram
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Bruno, um dos 12 irmãos Scherer, mostra foto da família logo após a chegada a Dois Irmãos; ele não sabe dizer qual dos três meninos de camisa clara (à dir.) é d. Odilo
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A TOLEDO (PR)
"Unidos em Cristo" é o que
está escrito na cruz à entrada
da igreja da vila de Dois Irmãos,
distrito de Toledo, no oeste do
Paraná, localidade onde d. Odilo Scherer passou a infância e o
início da adolescência.
Toda a região, distante cerca
de 100 km da divisa com o Paraguai, começou a ser ocupada no
início dos anos 50, quando famílias de trabalhadores rurais,
em sua maioria gaúchas e de
origem alemã, como era o caso
dos Scherer, para ali se mudaram atraídas pela terra boa.
Bastante religiosos, em sua
maioria católicos, luteranos ou
batistas, esses migrantes e seus
descendentes são de fato mais
unidos na crença em Jesus
Cristo que respeitadores de divisões religiosas criadas há séculos. No local em que o novo
arcebispo de São Paulo aprendeu suas primeiras lições de religiosidade, católicos e protestantes freqüentam missas uns
dos outros, casam-se entre si e
dão aos filhos liberdade para
passar de uma religião à outra,
o que eles fazem, com a benção
de padres e pastores.
"O ecumenismo já era praticado aqui há muito tempo",
afirma Flávio Scherer, irmão de
d. Odilo e morador de Toledo,
sobre o congraçamento das religiões na região. "Nas escolas
católicas, na hora do catecismo,
quem não era católico era dispensado, para que não lhes fosse imposta a doutrinação. O
mesmo acontecia nas escolas
dos evangélicos."
Flávio afirma que o mesmo
chegou a acontecer na escola
freqüentada por ele e seus irmãos. Havia dois meninos, filhos de um administrador luterano de fazenda vizinha a Dois
Irmãos, que ia ao mesmo colégio que a maioria católica local.
"Quando chegava a aula de catecismo, eles eram dispensados. Nos acostumamos desde
cedo com essa diversidade."
O que agora parece de fato
unido "em Cristo" -fiéis de religiões diferentes-, o homem
tentou separar no início da ocupação do local, afirma Flávio. A
"colonizadora" da região, uma
empresa que vendeu as terras
para os migrantes gaúchos, encaminhava para cada pequeno
vilarejo os seguidores desta ou
daquela religião.
Assim, para Quatro Pontes,
paróquia que engloba Dois Irmãos, foram majoritariamente
católicos. Para o município vizinho de Marechal Rondon,
principalmente luteranos. E
para Nova Santa Rosa, 20 km
adiante, as demais denominações protestantes.
Divisão
Com o tempo e novas migrações, a rígida divisão inicial foi
esmaecida, mas os números de
católicos em cada localidade, de
acordo com o censo de 2000,
ainda mostram os resquícios
dessa tentativa de "compartimentalização". Em Quatro
Pontes, eram no início da década 82,23% os católicos. Em Marechal Rondon, 56,15%, e em
Nova Santa Rosa, 35,89%.
É nessa última cidade que
mora Carlito José Henz, 40, católico. Seu irmão Ilio Jacó
Henz, 43, após o casamento,
tornou-se luterano, religião da
mulher. Outro irmão, Glicério
Henz, 46, foi levado pela mulher para a Igreja Evangéilca
Congregacional.
"Meu sogro é evangélico e
minha sogra é católica", diz
Carlito Henz. "Os dois vão nas
duas religiões. Já minha esposa
vai só na católica" diz.
Mauro Cassimiro, 34, que se
diz "o padre mais preto da região" (na verdade, ele não é preto, nem branco, nem índio),
afirma que "luteranos e católicos se freqüentam principalmente em celebrações especiais, como crismas, casamentos e batizados".
A menção à cor da pele feita
pelo padre não é gratuita, já
que, por ali, tanto quanto a fé, a
origem germânica parece ser
um fator crucial a unir diferentes famílias. Ele diz precisar de
intérpretes para entender alguns moradores quando vai visitar os doentes "de mais idade", que só falam alemão. Idêntico relato é feito pelo padre José Beffa, 40, da vizinha Nova
Santa Rosa.
Na tarde da última quinta-feira, padre Mauro foi a Dois Irmãos celebrar uma missa de
corpo presente para Maria
Muskob, falecida no dia anterior. Maria foi criada como
evangélica, disseram conhecidos seus. Casou-se com um morador de Dois Irmãos e converteu-se ao catolicismo. Cerca de
200 pessoas compareceram para homenageá-la. Ao final da
missa, suas amigas do grupo de
idosos local cantaram "Maria
Mãe de Deus" em coro, belamente. Cada palavra, do início
ao fim, em alemão.
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