São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TCU derruba versão do governo sobre dossiê

Tribunal desfaz argumento usado pelo Planalto para explicar vazamento de dados sigilosos sobre despesas na gestão FHC

Ministro Tarso Genro afirma que levantamento de dados foi feito a pedido do TCU, que diz não ter solicitado nenhuma das informações

MARTA SALOMON
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No intervalo de poucas horas, o Tribunal de Contas da União derrubou ontem a versão apresentada mais cedo pelo governo para tentar explicar o vazamento de dados sigilosos sobre despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o TCU, não foi pedida nenhuma informação da base de dados do Planalto.
Em sua última edição, a revista "Veja" diz que o Planalto preparou dossiê com gastos do governo tucano. A ameaça de divulgação dos dados teria por objetivo constranger a oposição na apuração dos gastos com cartões corporativos do governo Lula, na CPI dos Cartões.
O assunto foi um dos temas discutidos ontem na reunião de coordenação política do Planalto. Em seguida, o ministro Tarso Genro (Justiça) negou a existência de um dossiê sobre os gastos da gestão FHC e chamou a suposição de indecente.
"Não existe dossiê. O que existe é um trabalho que está sendo feito pela Casa Civil , a pedido do Tribunal de Contas da União e na expectativa da CPI, para oferecer dados que podem ser requisitados pela própria CPI", disse. "É indecente pensar que alguém possa fazer dossiê para tratar de um assunto dessa seriedade."
Em reunião com os presidentes dos partidos aliados, Luiz Inácio Lula da Silva negou a existência do dossiê. Disse que jamais recorreria a uma medida "baixa" e deu a mesma versão que Tarso tornou pública.
Lula classificou de "mentirosas" as afirmações de que o governo teria montado um dossiê, segundo informação de políticos que participaram do encontro. Teria complementado: "Se eu não fiz dossiê em 2005, por que faria agora?", numa referência a um dos piores períodos de seu governo, o do escândalo do mensalão.
Na reunião, o ministro José Múcio (Relações Institucionais) leu nota, divulgada no sábado, pela Casa Civil, negando a existência de tal dossiê.

Auditorias
O TCU fez três auditorias sobre cartões no governo Lula. Em 2006, obteve dados sobre as despesas com suprimento de fundos do Planalto limitadas ao período entre 2002 e 2005.
O relatório encaminhado ao tribunal na ocasião não continha dados como os divulgados pela revista, referentes a gastos de 1998 a 2001 do ex-presidente, de sua mulher, Ruth Cardoso, e de assessores, além de detalhes sobre gastos secretos.
No final de janeiro, o TCU aprovou a abertura de uma nova auditoria, mas o relator, Valmir Campelo, não pediu nenhum dado do sistema de controle da Presidência, o Suprim. O trabalho de auditoria, ainda em curso, terá como base dados do Siafi (sistema de acompanhamento dos gastos federais).
Segundo a Folha apurou no TCU, o único pedido relativo à base de dados do Planalto foi uma recomendação, no início de 2007, para aprimorar o controle com esse tipo de gasto. O sistema não produz relatórios sem que haja uma solicitação.
Procurado à noite, Tarso disse, via assessoria, que havia se referido justamente ao pedido do TCU para melhoria do controle de despesas. Não explicou a extração de dados do sistema.


Texto Anterior: Lula fecha proposta que amplia prazo de trâmite de MP
Próximo Texto: Cartões: Dilma telefona para Ruth Cardoso e nega existência de dossiê
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.