São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

FHC e presidente da Câmara tentaram evitar articulação

Pressionado por tucanos, Arruda se desfilia do PSDB

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador José Roberto Arruda pediu a desfiliação do PSDB ontem após a decisão da bancada de deputados federais tucanos de pedir a sua expulsão.
O ministro da Saúde, José Serra, um dos presidenciáveis tucanos na sucessão de 2002, articulou a operação pela expulsão.
O presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), tentaram frear a articulação, mas Arruda (DF) se antecipou.
Chorando, ligou por volta de 17h30 para o líder do PSDB no Senado, Sérgio Machado (CE), e avisou que estava fora do partido.
A Folha apurou que o objetivo de Serra e de tucanos é descontaminar o PSDB e sua pré-candidatura ao Planalto da violação do sigilo do painel de votação do Senado na cassação do ex-senador Luiz Estevão, ocorrida em 28 de junho do ano passado.
Eles temem que o escândalo jogue o PSDB na mesma vala que PFL e PMDB, afetando o desempenho eleitoral do partido no ano que vem.
Para Serra, hoje o principal presidenciável do PSDB, os tucanos corriam o risco de, preservando Arruda, transmitir a sensação de conivência com operação abafa.
Além da tentativa de descontaminação, a articulação teve o objetivo de agravar mais a situação de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), pefelista contrário à postulação de Serra ao Planalto.
ACM prefere o governador do Ceará, Tasso Jereissati (CE), como candidato tucano ao Planalto. O grupo de Tasso no Congresso tentou preservar Arruda.

Limites
Os tucanos avaliam que o senador baiano ultrapassou todos os limites na sua atuação pessoal e política contra o governo, os aliados e o PSDB.
Responsabilizam o ex-presidente do Congresso pela crise. Ao rifar Arruda, pressionam pela cassação dos dois.
ACM e Arruda são acusados de ordenar a violação do painel do Senado.
Os articuladores de Serra na bancada do PSDB no Congresso foram os líderes do partido na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), e no Senado, Sérgio Machado.
Jutahy negou que o ministro da Saúde esteja por trás da operação e disse que a bancada não avisou previamente FHC. "Foi pressão das bases", justificou Jutahy.
Os diretórios e executivas tucanas de São Paulo, Paraná, Paraíba e Piauí tomaram posição contra Arruda. O deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) nem esperou a decisão da bancada.
Cedo, enviou requerimento ao presidente do PSDB, senador Teotonio Vilela (AL), sugerindo a expulsão. "Há um mês chorávamos a morte de Mário Covas e de Franco Montoro como exemplos de ética. Como conviver agora com algo grave assim?", disse.
A bancada de senadores reclamou do que alguns classificaram de açodamento dos tucanos da Câmara. Na visão deles, a decisão dos deputados transmitiu a idéia de que os senadores estariam propensos a aceitar uma punição branda para Arruda e ACM.
Quando soube da decisão da bancada de deputados do PSDB, FHC ficou contrariado. Temeu que o pedido de expulsão de Arruda levasse o ex-líder do governo no Senado a atacá-lo.
Anteontem, quando discursou no Senado, Arruda disse que servira ao governo em "situações de natureza mais grave" do que a da violação do painel, mas preservou FHC. Deixou claro que o presidente não sabia da lista da cassação de Luiz Estevão (PMDB).
O líder do governo no Congresso, deputado federal Arthur Virgílio (PSDB-AM), discordou publicamente da decisão da bancada: "É fácil ser valente com o Arruda, que já tem muitos algozes. Não serei mais um". Ao responder se Arruda podia tomar uma atitude extrema, admitiu até que ele poderia se suicidar.
Na opinião geral de tucanos, a violação do painel deixou de ser a acusação mais grave contra Arruda. O pior foram os dois discursos dele a respeito do escândalo. Na semana passada, negou categoricamente. Anteontem, admitiu que tudo era verdade. Ou seja, mentiu para o Senado, o que é a típica falta de decoro.
Tucanos e não tucanos comentavam ontem abertamente no Congresso que a única saída para Arruda seria a renúncia. A Folha apurou que Arruda chegou a prometer que tomaria esse gesto, mas desistiu na hora do discurso.


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