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ALIADOS EM CRISE
FHC e presidente da Câmara tentaram evitar articulação
Pressionado por tucanos, Arruda se desfilia do PSDB
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador José Roberto Arruda
pediu a desfiliação do PSDB ontem após a decisão da bancada de
deputados federais tucanos de pedir a sua expulsão.
O ministro da Saúde, José Serra,
um dos presidenciáveis tucanos
na sucessão de 2002, articulou a
operação pela expulsão.
O presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG),
tentaram frear a articulação, mas
Arruda (DF) se antecipou.
Chorando, ligou por volta de
17h30 para o líder do PSDB no Senado, Sérgio Machado (CE), e avisou que estava fora do partido.
A Folha apurou que o objetivo
de Serra e de tucanos é descontaminar o PSDB e sua pré-candidatura ao Planalto da violação do sigilo do painel de votação do Senado na cassação do ex-senador
Luiz Estevão, ocorrida em 28 de
junho do ano passado.
Eles temem que o escândalo jogue o PSDB na mesma vala que
PFL e PMDB, afetando o desempenho eleitoral do partido no ano
que vem.
Para Serra, hoje o principal presidenciável do PSDB, os tucanos
corriam o risco de, preservando
Arruda, transmitir a sensação de
conivência com operação abafa.
Além da tentativa de descontaminação, a articulação teve o objetivo de agravar mais a situação
de Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), pefelista contrário à
postulação de Serra ao Planalto.
ACM prefere o governador do
Ceará, Tasso Jereissati (CE), como
candidato tucano ao Planalto. O
grupo de Tasso no Congresso tentou preservar Arruda.
Limites
Os tucanos avaliam que o senador baiano ultrapassou todos os
limites na sua atuação pessoal e
política contra o governo, os aliados e o PSDB.
Responsabilizam o ex-presidente do Congresso pela crise. Ao
rifar Arruda, pressionam pela
cassação dos dois.
ACM e Arruda são acusados de
ordenar a violação do painel do
Senado.
Os articuladores de Serra na
bancada do PSDB no Congresso
foram os líderes do partido na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), e
no Senado, Sérgio Machado.
Jutahy negou que o ministro da
Saúde esteja por trás da operação
e disse que a bancada não avisou
previamente FHC. "Foi pressão
das bases", justificou Jutahy.
Os diretórios e executivas tucanas de São Paulo, Paraná, Paraíba
e Piauí tomaram posição contra
Arruda. O deputado federal Luiz
Carlos Hauly (PSDB-PR) nem esperou a decisão da bancada.
Cedo, enviou requerimento ao
presidente do PSDB, senador
Teotonio Vilela (AL), sugerindo a
expulsão. "Há um mês chorávamos a morte de Mário Covas e de
Franco Montoro como exemplos
de ética. Como conviver agora
com algo grave assim?", disse.
A bancada de senadores reclamou do que alguns classificaram
de açodamento dos tucanos da
Câmara. Na visão deles, a decisão
dos deputados transmitiu a idéia
de que os senadores estariam propensos a aceitar uma punição
branda para Arruda e ACM.
Quando soube da decisão da
bancada de deputados do PSDB,
FHC ficou contrariado. Temeu
que o pedido de expulsão de Arruda levasse o ex-líder do governo
no Senado a atacá-lo.
Anteontem, quando discursou
no Senado, Arruda disse que servira ao governo em "situações de
natureza mais grave" do que a da
violação do painel, mas preservou
FHC. Deixou claro que o presidente não sabia da lista da cassação de Luiz Estevão (PMDB).
O líder do governo no Congresso, deputado federal Arthur Virgílio (PSDB-AM), discordou publicamente da decisão da bancada: "É fácil ser valente com o Arruda, que já tem muitos algozes.
Não serei mais um". Ao responder se Arruda podia tomar uma
atitude extrema, admitiu até que
ele poderia se suicidar.
Na opinião geral de tucanos, a
violação do painel deixou de ser a
acusação mais grave contra Arruda. O pior foram os dois discursos
dele a respeito do escândalo. Na
semana passada, negou categoricamente. Anteontem, admitiu
que tudo era verdade. Ou seja,
mentiu para o Senado, o que é a típica falta de decoro.
Tucanos e não tucanos comentavam ontem abertamente no
Congresso que a única saída para
Arruda seria a renúncia. A Folha
apurou que Arruda chegou a prometer que tomaria esse gesto, mas
desistiu na hora do discurso.
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