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"Não quero acabar com o Mercosul", diz Serra
Tucano afirma que sua intenção é "flexibilizar" bloco, mas que, se for eleito, decisão será "bem negociada com parceiros'
Proposta do pré-candidato
é dar "funções executivas"
à Câmara de Comércio Exterior, subordinando-a à Presidência da República
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O pré-candidato do PSDB à
Presidência, José Serra, disse
que não quer acabar com o
Mercosul, mas flexibilizá-lo de
forma "negociada com nossos
parceiros" e revelou que, se
eleito, pretende dar funções
"mais executivas" à Camex
(Câmara de Comércio Exterior). Na semana que passou, o
tucano foi criticado pela Argentina por suas declarações sobre
o bloco comercial. Abaixo, trechos da entrevista, por e-mail.
FOLHA - O senhor tem falado numa política comercial mais agressiva. Por quê?
JOSÉ SERRA
- Nossas exportações cresceram muito até 2008,
consequência do aumento de
preços e da demanda por nossas commodities. Conquistamos imensos superávits. Mas
agora estamos em outra fase.
Os superávits encolheram, e o
déficit em conta corrente está
crescendo, até porque as importações dispararam.
Nosso déficit em produtos
industriais tornou-se gigantesco: proporcionalmente, exportamos menos e importamos
muito mais. Minha preocupação é livrar o Brasil de um estrangulamento externo futuro
e sustentar o crescimento do
emprego.
FOLHA - Se eleito, pretende mudar
a estrutura do comércio externo?
SERRA
- É indispensável fortalecer e agilizar a Camex, dando-lhe funções mais executivas e
mais agilidade. O presidente da
Camex, subordinado ao presidente da República, deve pilotar as delegações do comércio
exterior. A Camex foi criada no
governo FHC, em 1995, por sugestão minha, reunindo representantes de quatro ministérios, além do BC. Vem tendo
papel positivo, mas aquém do
que hoje se necessita.
FOLHA - Há outras mudanças a fazer, na sua opinião?
SERRA
- A área de defesa comercial do Brasil ainda é pouco
atuante e mal equipada -e isso
não vem só do governo do Lula.
A abertura comercial do início dos anos 90 exigia o fortalecimento dessa área, como
acontece, por exemplo, nos
EUA. Isso não foi feito na medida exigida. Há demora no exame dos pedidos em casos de defesa comercial e falhas no apoio
às empresas. Os processos de
antidumping contra a China
demoram mais do que em países que não a reconhecem como economia de mercado.
Há pouco tempo, verificou-se que a China registrava exportações têxteis ao Brasil de
cerca do dobro das importações brasileiras de têxteis chineses. Entram sem registro, para não pagar impostos. E competem com a produção brasileira, que paga. Os produtores
brasileiros, tão ou mais eficientes que os chineses, sofrem com
o câmbio e com a insuficiente
defesa comercial.
FOLHA - O senhor disse que o Mercosul atrapalha a busca brasileira
por novos mercados. O que propõe
mudar no bloco?
SERRA
- O Mercosul deve ser
flexibilizado, para que não seja
um obstáculo para políticas
mais agressivas de acordos internacionais. Não se trata de
acabar com o Mercosul, pelo
contrário.
Há duas instâncias de integração econômica. A primeira é
a zona de livre comércio, a ser
gradualmente implantada. A
segunda, alcançada só depois
de décadas pela União Europeia, é a política comercial comum - os integrantes renunciam à soberania comercial e fixam tarifas comuns de importações. Além disso, só podem
fazer acordos com terceiros se
todos concordarem.
Sempre achei irrealista fazer
tudo isso em quatro anos, a partir de 1995 [quando começou a
vigorar a Tarifa Externa Comum]. Defendia que, primeiro,
o Mercosul se fortalecesse como zona de livre comércio. Mas
o livre comércio não se consolidou e a união alfandegária não
se materializou totalmente. O
Mercosul acabou sendo obra
inconclusa.
FOLHA - A reação argentina a sua
declaração não foi positiva.
SERRA
- O que defendo é a flexibilização do bloco, a fim de que
nos concentremos no livre comércio. Claro que isso não seria
uma decisão unilateral do Brasil. Teria de ser bem negociada
com nossos parceiros.
FOLHA - Mas, mesmo negociando
sozinho com outros, o Brasil terá
que fazer concessões.
SERRA
- Como já disse, nos últimos oito anos houve cem tratados de livre comércio. O Brasil
fez apenas um, assinado pelo
Mercosul com Israel. É óbvio
que o maior acesso a determinados mercados envolve concessões recíprocas. Sempre é
assim. Por isso, cada caso é um
caso, e só devemos assinar tratados que nos tragam vantagens líquidas.
Outra questão importante é a
da infraestrutura, que aumenta
os custos de nossas exportações. O transporte da soja de
Mato Grosso ao porto de Paranaguá [PR] custa algo parecido
ao transporte desse porto até a
China.
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