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Dilma potencializa antiga resistência de mulheres ao PT
Nas cinco oportunidades em que concorreu ao Planalto, Lula também teve um desempenho pior entre as eleitoras
Para Teresa Sacchet, da USP, o petismo está impregnado pelos movimentos sociais e pelo sindicalismo, nos quais domina a cultura masculina
UIRÁ MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeira mulher a ter chances reais de ser eleita presidente da República, Dilma Rousseff não consegue decolar entre
as eleitoras e amplifica a tradicional resistência do público feminino ao candidato do PT.
A mais recente pesquisa Datafolha (dia 17) mostrou a petista em segundo lugar, com 30%
das intenções de voto, contra
42% de José Serra (cenário sem
Ciro Gomes, do PSB). Se consideradas só as mulheres, a diferença é bem maior: Dilma tem
25%, e o tucano, 43%. Entre os
homens, a distância cai: 35% a
41%, com vantagem para o ex-governador paulista.
Mas a resistência das mulheres ao PT é histórica, e não uma
particularidade de Dilma. Lula
teve pior desempenho entre as
eleitoras nas cinco vezes em
que concorreu à Presidência.
Ao mesmo tempo, nas duas
últimas eleições que disputou,
Lula viu seus adversários fazerem mais sucesso entre as mulheres do que entre os homens,
justamente quando elas eram a
maior fatia do eleitorado (1998
foi a última eleição em que os
homens eram maioria).
Em 2006, porém, Lula, então
candidato à reeleição, parecia
ter conquistado o público feminino. Ao final da campanha, o
petista conseguiu reduzir para
apenas quatro pontos a sua diferença de votação entre os homens e as mulheres -em 2002
eram dez pontos.
Como esperado, o desempenho eleitoral de Dilma até agora é inferior ao de Lula, mas é
proporcionalmente pior entre
as mulheres. Ou seja, ela reaviva -e potencializa- velhos
fantasmas do PT.
De olho nisso, a campanha de
Dilma prepara estratégias para
conquistar as mulheres (leia
texto nesta página).
Explicações
Para Teresa Sacchet, professora de ciência política e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP,
não é surpresa que candidatos
petistas tenham melhor desempenho entre os homens.
"A origem do PT está no sindicalismo e nos movimentos
sociais de 30 anos atrás. São setores em que predomina a cultura masculina. Naquela época,
ainda mais do que hoje, os espaços políticos eram ocupados sobretudo por homens. Assim,
não me surpreende que Lula
sempre tenha tido maior apelo
no público masculino", diz.
Sacchet também aponta fator específico de Dilma: ela é
pouco conhecida. "Como as
mulheres são menos informadas e como Serra é mais conhecido, é razoável que menos mulheres declarem intenção de
votar em Dilma", afirma.
André Singer, cientista político da USP e ex-porta voz da
Presidência (2003-2007), diz
que "a desinformação explica
muito da diferença de votação",
mas acrescenta outro aspecto:
um possível conservadorismo
das mulheres.
"Por razões de ordem socioeconômica, provavelmente o
segmento feminino ainda é
mais conservador que o masculino, o que é uma constatação
clássica da sociologia", diz.
Segundo Marlise Matos, chefe do Departamento de Ciência
Política e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade
Federal de Minas Gerais, não é
possível dizer que as mulheres
são mais conservadoras. Para
ela, no caso de Dilma, pesa a
imagem da candidata.
"A figura da Dilma representa uma dureza, é agressiva. Esse
tipo de traço é bem-visto nos
homens, mas não nas mulheres. E o público masculino se
identifica com essa imagem,
mas não o feminino. As eleitoras parecem se identificar mais
com traços ligados ao cuidado,
à saúde", afirma.
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