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Viagem não reforça vendas de alto valor, afirma economista
GUILHERME BAHIA
DA REDAÇÃO
Embora a China seja um importante mercado, não é decisiva para aumentar as exportações brasileiras de produtos com alto valor
agregado -grosso modo, os industrializados. Para conseguir isso, o Brasil precisa negociar com
as grandes multinacionais, que
são quem decide em qual país é
feita cada etapa da fabricação dos
seus produtos. E essas multinacionais não estão na China.
A opinião é do economista Gilberto Dupas, coordenador-geral
do Grupo de Conjuntura Internacional da USP. Para a China, diz
ele, o Brasil tende a vender mais
facilmente produtos primários.
"Temos que conversar com a
empresa líder da cadeia produtiva
global. Ou então deixar a lógica
global correr sozinha, e aí vai ser a
China oferecendo mão-de-obra
mais barata que o México, depois
a Tailândia oferecendo mão-de-obra mais barata que a China..."
A política industrial do governo
chinês, que privilegia a indústria
local, reforça essa tendência à primarização da pauta exportadora
brasileira para aquele país.
No complexo soja, que responde por 35% das vendas para a China, por exemplo, há cada vez mais
compras de farelo e grãos e cada
vez menos de óleo. De 1996 a
2003, as exportações de soja em
grãos e farelo aumentaram 300
vezes, passando de US$ 4,3 milhões para US$ 1,3 bilhão, e as de
óleo caíram 39%, de US$ 420 milhões para US$ 256 milhões. Os
dados são do Ministério do Desenvolvimento e do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e
Negociações Internacionais).
"Houve uma política na China
de dar incentivo ao esmagamento
da soja na própria China", explica
Mário Jales, pesquisador sênior
do instituto. Ele observa que lá o
lobby agrícola é fraco, diferentemente do que ocorre, por exemplo, na União Européia. Isso facilita a vida do agronegócio brasileiro no mercado chinês.
Vale acrescentar que nos últimos dois anos houve um aumento na demanda chinesa que fez subir bastante as importações tanto
de óleo quanto de grãos e farelo.
Dupas afirma que, para exportar grãos para a China, o Brasil
não precisa negociar concessões,
como ocorre com Europa e EUA.
"O volume de importação da China é tão grande que eles querem
que o Brasil abasteça bem as "traders" [empresas que comercializam commodities] para que as
"traders" possam abastecer a China", diz. Daí o interesse dos chineses em investir na infra-estrutura
brasileira que escoa a produção.
Apesar dessa preferência da
China pelos produtos primários,
Dupas ressalva que o tamanho do
mercado daquele país justifica a
comitiva de empresários que
acompanha o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Para ele, porém, há um excesso de entusiasmo. "E eu acredito que o governo
gosta desse excesso de entusiasmo, porque há sempre uma contaminação positiva na política interna, que está com problemas
bastante sensíveis", diz.
O governo teve derrotas importantes no Congresso nas últimas
semanas, como a rejeição da medida provisória que proíbe os bingos e a criação de uma comissão
para analisar o salário mínimo comandada pela oposição.
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