São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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Viagem não reforça vendas de alto valor, afirma economista

GUILHERME BAHIA
DA REDAÇÃO

Embora a China seja um importante mercado, não é decisiva para aumentar as exportações brasileiras de produtos com alto valor agregado -grosso modo, os industrializados. Para conseguir isso, o Brasil precisa negociar com as grandes multinacionais, que são quem decide em qual país é feita cada etapa da fabricação dos seus produtos. E essas multinacionais não estão na China.
A opinião é do economista Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP. Para a China, diz ele, o Brasil tende a vender mais facilmente produtos primários.
"Temos que conversar com a empresa líder da cadeia produtiva global. Ou então deixar a lógica global correr sozinha, e aí vai ser a China oferecendo mão-de-obra mais barata que o México, depois a Tailândia oferecendo mão-de-obra mais barata que a China..."
A política industrial do governo chinês, que privilegia a indústria local, reforça essa tendência à primarização da pauta exportadora brasileira para aquele país.
No complexo soja, que responde por 35% das vendas para a China, por exemplo, há cada vez mais compras de farelo e grãos e cada vez menos de óleo. De 1996 a 2003, as exportações de soja em grãos e farelo aumentaram 300 vezes, passando de US$ 4,3 milhões para US$ 1,3 bilhão, e as de óleo caíram 39%, de US$ 420 milhões para US$ 256 milhões. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento e do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais).
"Houve uma política na China de dar incentivo ao esmagamento da soja na própria China", explica Mário Jales, pesquisador sênior do instituto. Ele observa que lá o lobby agrícola é fraco, diferentemente do que ocorre, por exemplo, na União Européia. Isso facilita a vida do agronegócio brasileiro no mercado chinês.
Vale acrescentar que nos últimos dois anos houve um aumento na demanda chinesa que fez subir bastante as importações tanto de óleo quanto de grãos e farelo.
Dupas afirma que, para exportar grãos para a China, o Brasil não precisa negociar concessões, como ocorre com Europa e EUA. "O volume de importação da China é tão grande que eles querem que o Brasil abasteça bem as "traders" [empresas que comercializam commodities] para que as "traders" possam abastecer a China", diz. Daí o interesse dos chineses em investir na infra-estrutura brasileira que escoa a produção.
Apesar dessa preferência da China pelos produtos primários, Dupas ressalva que o tamanho do mercado daquele país justifica a comitiva de empresários que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, porém, há um excesso de entusiasmo. "E eu acredito que o governo gosta desse excesso de entusiasmo, porque há sempre uma contaminação positiva na política interna, que está com problemas bastante sensíveis", diz.
O governo teve derrotas importantes no Congresso nas últimas semanas, como a rejeição da medida provisória que proíbe os bingos e a criação de uma comissão para analisar o salário mínimo comandada pela oposição.


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