São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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JANIO DE FREITAS

À margem dos números

Mais significativas, na pesquisa do Datafolha, do que as vantagens numéricas de José Serra sobre Marta Suplicy, nas várias simulações de candidatos, são as tendências ali sugeridas. Com as futuras composições e retiradas e com o de- senrolar da campanha, os números vão passar por variações a que a maior parte das tendências, se a disputa tiver curso normal, estarão refratárias.
A tão elevada taxa de rejeição do eleitorado a Marta Suplicy, em 43%, dispensaria comentário, não estivesse aí a primeira indicação de que a sua campanha está obrigada a um percurso anormal. Não pode partir para a conquista ou a consolidação de votos, como farão José Serra e outros. Marta mais precisa derrubar resistências ao seu nome, ou não lhe adiantaria chegar ao segundo turno. O problema que se projeta para Marta não é a insuficiência do que tem a seu favor, é o excesso do que tem decididamente contra si.
Entre os que hoje preferem Paulo Maluf e Luiza Erundina, mas não se incluem na rejeição a Marta, manifesta-se outra tendência significativa: a possibilidade de transferência do seu voto não o destina a Marta. No caso do eleitorado de Maluf, se formalizado o acordo do PP com o malufismo, parte daquele desvio poderia reverter-se, na quota de votos que depende de cabos-eleitorais bem controlados pelo próprio Maluf. A outra parte, porém, e não se conhecem as dimensões das duas, também tem suas contas a ajustar com o Lula e o PT, aos quais ajudou muito no segundo turno da eleição presidencial em São Paulo.
Paulo Maluf e seu eleitorado não constituem, portanto, a apólice de seguro que o comando do governo e do PT tem imaginado, e pela qual os cargos públicos estão pagando preço tão alto, em número, em nível e em ganho. Pode-se dizer ainda: em inutilidade.
Acima das tendências, Marta Suplicy e o PT já podem ter uma certeza: os 10% a 12% que Luiza Erundina tem hoje, senão também os que conquiste ainda, já estão comprometidos contra Marta, se houver segundo turno com Serra. Vale o mesmo para o PPS e para o PDT. Pode não ser muito, mas fará muita falta a Marta já no primeiro turno e, sobretudo, no provável segundo.
E a candidatura de Paulo Maluf, nisso tudo? Seu lançamento foi uma resposta de força, pelo menos em São Paulo, à conspiração entre a Presidência e o comando formal do PP, representado pelo deputado Pedro Correa, para ameaçar Maluf de expulsão do partido, por retardar com tergiversações a conclusão do acerto PT-PP. Da pré-candidatura de Maluf à candidatura, no entanto, não vai distância, vai improbabilidade.
E a pré-candidatura de José Serra, mantém-se até meado de junho, quando a convenção do PSDB precisará oficializar seu candidato? Se José Serra souber mesmo, haverá uma pessoa que acredita saber, e é tudo.


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