São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
A receita de devastação

A reivindicação fundamental dos auditores é a abertura de conversação entre o seu sindicato e o governo

AS GREVES no funcionalismo federal -e, particularmente, a que fazem agora os auditores fiscais da Receita Federal- desvendam mais um propósito inconfessado do governo Lula. O seu descaso pelos servidores e pelo próprio serviço público não é circunstancial nem seletivo, é uma política de minimização, econômica e social, da máquina administrativa.
Uma adaptação da política simplesmente destrutiva aplicada por Fernando Henrique Cardoso, agora buscando um conjunto de fins: oprimir vencimentos, emagrecer certos setores e, onde indispensável, preencher vagas a custo mais baixo e com menor atração para pessoas de nível socioeconômico melhor.
Dois casos ilustrativos dessa política são a recente greve da Vigilância Sanitária (Anvisa), em trégua nestes dias, e a dos auditores fiscais. Na primeira delas, nem a falta de medicamentos e equipamentos médicos importados provocou interesse do governo para a discussão com os fiscais da Anvisa. Os auditores fiscais, por sua vez, estão em greve desde o dia 2. A decorrente retenção de importações nas aduanas já produz reflexos imensos de ordem industrial e comercial. Sem falar nas simpáticas oportunidades abertas ao contrabando e ao narcotráfico, alargadas por orientações para liberação, sem fiscalizar, de grande quantidade de cargas importadas. E não porque sejam produtos perecíveis ou essenciais sem similar nacional.
A reivindicação fundamental dos auditores fiscais é a abertura de conversação entre o seu sindicato e o governo, sobre problemas comuns a ambos. Não obtiveram nem ao menos um sinal de resposta. Ministro da Fazenda, Guido Mantega passou, há duas semanas, quase um dia todo em conversa na Federação dos Bancos, em São Paulo.
Fiscais o esperaram com o pedido de que lhes concedesse um tempinho. Tão disponível para a Febraban, não sobravam sequer minutos ao ministro do Partido dos Trabalhadores. Mas prometeu dar retorno ao pedido. E nunca mais.
Reconheçamos, porém, que os auditores fiscais da Receita Federal querem demais. Como seus colegas servidores públicos -essas pessoas que mantêm o governo vivo e em pé-, os fiscais receberam de Lula, no ano passado, o aumento de 0,1%. O percentual exige microscópio, mas a humilhação foi como uma bem visível golfada de saliva fétida. No rosto.

Melhor
Entregar à Procuradoria da República e ao Supremo a investigação da fraude das ambulâncias, a tal Operação Sanguessuga, não é a má solução que está apontada. A apuração será confiável, porque sem permutas entre os comprometidos, e não sofrerá com as ausências eleitorais no Congresso.


Texto Anterior: Sem PMDB na disputa, Lula vence Alckmin no 1º turno
Próximo Texto: Análise: PMDB e PCC alteram pouco a disputa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.