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Wagner "esqueceu" que lancha era de Zuleido
Governador atribui à "cervejinha" o fato de não se lembrar muito do passeio com a ministra Dilma Rousseff no ano passado
Segundo o petista, sua filha lhe informou que ele dera "uma bronca" no amigo que conseguiu a lancha ao saber que pertencia a empreiteiro
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), sabia, mas
não se lembrava, que a lancha
em que passeou em Salvador
com a ministra da Casa Civil,
Dilma Rousseff, era do dono da
empreiteira Gautama, Zuleido
Soares Veras, preso desde o dia
17 sob acusação de chefiar uma
quadrilha corruptora de políticos e funcionários públicos.
Em entrevista na noite de anteontem, Wagner contou ter sido avisado, durante o passeio
em 26 de novembro, que a embarcação "Clara" era de Zuleido. Disse que reclamou com o
publicitário Guilherme Sodré
Martins, seu melhor amigo e
quem arrumara a lancha.
A questão é que Wagner relata não se lembrar muito das
quatro horas de navegação.
"Domingo de sol, você passeando de lancha, uma cervejinha..."
Wagner disse que foi informado no último fim de semana
por uma de suas filhas que na
ocasião dera "uma bronca" no
amigo, ex-marido de sua atual
mulher, Fátima Mendonça.
"Só vim a saber disso agora.
Meus filhos foram lá. "Meu pai,
você não lembra que deu uma
bronca em Guilherme no dia do
passeio, quando alguém disse
de quem era a lancha?" Realmente devo ter ficado arretado
porque não cabe a um governador eleito ficar... Apesar que ele
[Zuleido] não tem nenhum interesse nem nenhum contrato
com o governo da Bahia."
Wagner disse que convidou
Dilma a passar em Salvador o
último fim de semana de novembro. "Pedi a ela para me
ajudar na transição. Disse: "Você só trabalha um dia, no outro
dia a gente vai passear"."
Coube a Martins arrumar o
barco. O publicitário, dono da
GLT Comunicações, tem desde
2004 contrato com a Gautama
e recorreu a Zuleido. "Reclamei
com Guilherme. Eu, governador eleito. Ela, ministra. Se o cidadão tem negócios, então não
é o melhor dos mundos."
O governador falou que conhece Zuleido, mas não é seu
amigo. E refutou ter dado a Veras o telefone do prefeito de Camaçari, Luiz Carlos Caetano
(PT), preso pela Operação Navalha e já liberado. Em conversa gravada pela Polícia Federal,
o empresário diz que o governador, a quem se refere como
Jaques e JW, deu a ele o número do prefeito. "Jaques seguramente sou eu. JW sou eu. Não
houve essa conversa."
Para Wagner, existe "uma taxa de hipocrisia muito grande""
na questão dos mimos dados a
políticos pela Gautama. "A gente vai ter que escolher se está a
fim de fazer a melhora da democracia ou se a gente vai ficar
fazendo hipocrisia. Eu, como
governador eleito, fim de ano
deve chegar 30, 40 gravatas,
agenda, uma garrafa de vinho,
uma faca de churrasco. Isso aí a
Nestlé acabou de me dar de
presente [aponta para um objeto dourado sobre a mesa]."
Wagner disse que convidará
Caetano para jantar na residência oficial. Na casa de Caetano, a PF apreendeu R$ 142
mil e U$ 3.000 em caixas de papelão. "Ele é meu amigo. Mesmo que venha a ser condenado
(...), não vou abrir mão disso."
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