São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEPOIMENTO

É a primeira vez que vejo o relato de como meu pai foi morto, do jeito que ele ficou. Para mim só hoje eu estou convencido de que definitivamente ele está morto. Quando tive conhecimento dessa documentação, fiquei quatro dias com ela na mão sem coragem de abrir o envelope, porque sabia que o que tinha lá dentro era muito pesado para mim. Ainda espero um outro sofrimento mais para frente, se a gente encontrar as ossadas para fazer um novo sepultamento. Eu tinha oito anos, mas me lembro da última vez que o vi. Ele levou a gente para São Sebastião [litoral paulista]. Ficamos numa casa e ele saiu, pela manhã do dia 29 [de setembro de 1969, véspera do assassinato de Virgílio Gomes da Silva]. Imagino que chegando em São Paulo, ele foi preso. No outro dia, pela manhã, fui preso junto com a minha mãe, meus irmãos e o Manoel Cyrillo [ex-militante da ALN]. Eu e meus irmãos ficamos presos durante um mês e minha mãe, por nove meses, sem nenhuma acusação formal. Agora, queremos saber do Estado onde está o corpo do meu pai, os responsáveis pela sua morte

Relato do geólogo Vlademir Gomes da Silva, 43, filho mais velho do guerrilheiro


Texto Anterior: Regime militar: Primeiro desaparecido foi morto sob tortura
Próximo Texto: Gabeira diz que pretende falar com ministro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.