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Custo de assentamento é de R$ 31 mil por família
Valor é suficiente para manter casal com três filhos por 27 anos no Bolsa Família
Custo inclui da vistoria ao pagamento dos primeiros subsídios aos assentados e pode oscilar em até 500% de acordo com a região do país
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tem
desembolsado uma média de
R$ 31 mil para assentar cada família sem terra do país.
O custo, suficiente para manter por 27 anos um casal com
três filhos no Bolsa Família
(principal programa social do
governo federal), inclui desde o
trabalho de vistoria e de desapropriação das áreas até a implantação do projeto e o pagamento dos primeiros subsídios
ao assentado.
O valor gasto por família pode oscilar em até 500%, dependendo da localização da propriedade e da forma de obtenção da terra pelo governo.
Isso é o que revelou recente e
inédito estudo do Ministério do
Desenvolvimento Agrário obtido pela Folha, feito com base
no total investido em 2004 e
2005 e em projeções, de até 15
anos, do pagamento de terras
via TDAs (Títulos da Dívida
Agrária).
O trabalho, coordenado pelo
engenheiro agrônomo e assessor especial da pasta Vicente
Marques, revela que para assentar uma família numa área
desapropriada no Sudeste, onde estão muitos dos acampados, o governo gastou em média de R$ 58,1 mil. Isso representa um valor 296% acima do
que foi gasto para assentar outra família numa terra pública
no Norte (R$ 19,5 mil).
Outro exemplo: numa terra
pública da região Sul, gasta-se
em média R$ 16,4 mil por família, contra R$ 81,1 mil para acomodar outra em uma propriedade adquirida no Sudeste.
O estudo da pasta levou em
conta gastos diretos com o assentamento, como diárias dos
servidores que fazem a vistoria
de uma área, obtenção do imóvel rural, implantação do projeto, contratação de assistência
técnica e os primeiros créditos
de custeio e de investimento.
Não incluem, portanto, gastos
com a manutenção das famílias, como uma assistência técnica permanente.
Custo variável
O custo por família depende
muito da região do país e da forma de obtenção de terra, que
pode ocorrer de três formas:
desapropriação (de áreas que
não cumprem os índices de
produtividade), aquisição (operação de compra direta com o
proprietário) e não-onerosa
(na prática, terras públicas).
Nos assentamentos em terras públicas, sem custo na obtenção, os primeiros créditos
consomem 87% do total investido por família.
Nos processos com aquisição, os custos de área e benfeitoria ficam com 73%, ante 24%
dos créditos.
Já nos processos de desapropriação, há um pouco mais de
equilíbrio -53% na terra e nas
benfeitorias e 41% nos créditos.
O restante, em todos os casos, é
gasto em ações preparatórias
do Incra e na fase de implantação do projeto.
O modelo preferido dos movimentos sem-terra é a desapropriação, pois, por meio dela,
diminui-se a concentração de
terra e pune-se o proprietário
que mantém a área ociosa.
Os custos com muitos dos assentados, porém, começam antes da divisão dos lotes e da
criação do projeto. A cada ano,
por exemplo, o governo gasta
cerca de R$ 50 milhões com a
compra de cestas de alimentos
às famílias acampadas. Cada
uma das cerca de 200 mil famílias atualmente nessas condições recebe, a cada bimestre,
uma cesta de R$ 40 (com 22 kg
de alimentos).
Neste ano, diante de uma
greve nacional do Incra (autarquia responsável pela reforma
agrária) que já dura um mês, a
meta é assentar 100 mil famílias, sendo a maioria delas no
Nordeste (34%), seguido de
Norte (33%), Centro-Oeste
(20%), Sudeste (7%) e Sul (4%).
A Folha cruzou dados do estudo com a divisão regional da
meta deste ano. O custo final
para assentar 100 mil famílias
ficará em torno de R$ 3,2 bilhões, com média de R$ 32 mil
para cada família. Esse valor
tende a subir, entre outros
pontos, por conta do reajuste
no valor de alguns créditos, como o que trata da aquisição de
materiais de construção, de
R$ 5.000 para R$ 7.000.
Entre 2003 e 2006, a maioria
das famílias foi assentada na
região amazônica. Atualmente,
no país, há cerca de 200 mil famílias (quase 1 milhão de pessoas) vivendo em acampamentos, a maioria delas nas regiões
Sul, Sudeste, Centro-Oeste e
Nordeste.
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