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Atacado por ruralistas, Minc pede desculpas na Câmara
Ministro diz que o termo "vigaristas" não reflete sua visão sobre os grandes produtores
Deputado Ronaldo Caiado diz que Minc "é professor do maniqueísmo", e Giovanni Queiroz afirma que ele "não merece" continuar no cargo
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Bombardeado ontem por
cinco horas em uma audiência
na Câmara, o ministro Carlos
Minc (Meio Ambiente) pediu
desculpas ao grandes produtores por tê-los chamado de "vigaristas" no mês passado. Mas
o recuo não evitou que levasse o
troco na mesma moeda dos integrantes da bancada ruralista.
Frequentemente em tom
exaltado, muitos parlamentares exigiram um pedido formal
de desculpas, cobraram sua demissão do governo federal e o
chamaram de "maniqueísta".
Dos 22 deputados que falaram
diante do ministro, apenas 3,
do PT, saíram em sua defesa.
A revolta dos deputados ligados à agropecuária teve origem
no final do mês passado. Em
meio a uma marcha da Contag
(Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura)
em Brasília, Minc subiu em um
carro de som e se referiu aos
grandes produtores como "vigaristas", sugerindo que eles,
além de acumular bilhões em
dívidas, usavam os pequenos
agricultores como massa de
manobra para exigir mudanças
na legislação ambiental.
Recuo
Ontem, Minc recuou da expressão, considerada por ele
como "indevida" e "descabida",
mas não mudou seu ponto de
vista macro. "Retiro a expressão. Ela não revela o meu ponto
de vista", declarou.
"Já o conjunto das questões
que defendo -como o tratamento diferenciado à pequena
produção, críticas que faço sobretudo aos grandes latifúndios que praticam a monocultura, o desmatamento, que
usam agrotóxicos-, obviamente as mantenho", completou.
Ruralista histórico e líder na
Câmara do oposicionista DEM,
o deputado federal Ronaldo
Caiado (GO) fez um dos ataques mais ferozes ao ministro:
"É um maniqueísmo. Aí ele entende bem. Ele é professor do
maniqueísmo. Ele é o bem, e o
produtor rural é o mal".
Outro duro ataque veio de
Giovanni Queiroz (PDT-PA).
"Isso [clima de mal-estar] só
acabaria se o presidente Lula o
demitisse. Vossa Excelência
não merece o cargo."
Depois de ouvir o primeiro
bloco de perguntas, Minc respondeu às declarações dos ruralistas. A Caiado, fundador
nos anos 80 da UDR (União Democrática Ruralista), o ministro disse ter recebido "agressões injustificadas e mentirosas". Sobre a sugestão de Queiroz para que Lula o demitisse,
ironizou: "É um direito seu. Pode falar com o presidente".
Essa tensão de Minc com a
bancara ruralista nada mais é
do que um reflexo dos recentes
embates dentro do próprio governo entre as áreas ambiental
e agrícola, que é representada
na figura do ministro Reinhold
Stephanes (Agricultura).
Anteontem na Câmara, Stephanes disse que sua pasta não
é ouvida nos processos de mudança da legislação ambiental.
Desmatamento
À tarde, em entrevista no ministério, Minc comemorou os
dados divulgados pelo Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados ontem que mostram o desmatamento de 123 km2 em maio na
Amazônia Legal, contra 1.096
km2 de maio de 2008.
O Pará, líder do desmatamento no ano passado (5.180
km2), teve em maio 83% de sua
área coberta por nuvens, o que
prejudicou as imagens de satélite -contra 59% de nuvens em
maio de 2008.
Nesse ritmo de queda de desmatamento, Minc disse que
"vamos ter o menor desmatamento nos últimos 20 anos".
No último período (agosto de
2007 a julho de 2008), foram
12 mil km2.
O acumulado nos últimos
meses é positivo, ainda de acordo com o ministro: 2.960 km2
de desmatamento entre agosto
de 2008 e maio de 2009, contra
6.952 km2 entre agosto de 2007
e maio de 2008.
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