São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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CAMPANHA

Petista, que perdeu 11 pontos na região Sul, reúne 10 mil em Porto Alegre e tenta reagir ao desgaste do governo Olívio

Ex-vitrine, PT gaúcho vira entrave para Lula

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A IJUÍ

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Rio Grande do Sul, principal vitrine administrativa do PT, se transformou num poço de problemas para a quarta tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva de chegar à Presidência. O forte desgaste do governo local, acossado por acusações que vão de inépcia na área econômica a envolvimento com bicheiros, já se reflete na posição de Lula e do candidato petista a governador, Tarso Genro.
Por causa desse cenário negativo, o candidato petista, que venceu a eleição no Estado em 89, 94 e 98, fez ontem na universidade regional de Ijuí, no interior, a primeira apresentação regional do seu programa de governo, lançado anteontem em Brasília.
A mais recente pesquisa do Datafolha já indicara queda de 11 pontos de Lula na região Sul em relação à pesquisa anterior. A mesma consulta mostrou que o Norte e o Nordeste têm sustentado a liderança do petista.
Na semana passada, o instituto de pesquisa Cepa, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mostrou que Lula baixou de 35,2% entre os dias 11 e 12 de julho para 28,4% entre 15 e 18 de julho no Estado. O candidato do PPS, Ciro Gomes, subiu de 14,5% para 27,7%.
Empolgado pelo coro "ucho, ucho, ucho, o Lula é gaúcho", que simboliza as vitórias anteriores, o petista disse ontem à tarde, em comício na praça central de Ijuí, que confia na "consciência política" da região para vencer.
"Vamos perguntar quanto dinheiro saiu do governo de Antônio Britto (candidato do PPS à sucessão estadual) e quanto saiu do governo de Olívio Dutra (PT) para o pequeno produtor rural. Depois vamos esfregar na cara do Antônio Britto e mostrar como o governo do PT foi superior", discursou Lula na tentativa de alavancar a candidatura de Tarso, que o acompanhava no palanque.
Tarso, segundo a mesma pesquisa da UFRGS, foi superado por Britto, que tem 38,8% contra 31,7% do petista. "A disputa vai ser acirrada até o dia da eleição, é natural, mas o trabalho do PT nos credencia para a vitória", disse o candidato petista ao governo estadual à Folha, minutos depois de Olívio noticiar que o Banrisul, o banco do Estado, liberou R$ 12,6 milhões para cooperativas de agricultores da região.
No campo econômico, o governo priorizou pequenos e médios empresários e agricultores, mas foi criticado por sua visão macroeconômica -a perda da fábrica Ford para a Bahia sendo a maior vidraça. Em debate em Ijuí com estudantes, empresários e agricultores, Lula tentou mostrar preocupação com os grandes negócios. "São importantes para a política de exportação", disse.
Defendeu também os subsídios para a agricultura. "A princípio somos contra essa política de subsídios, mas não podemos deixar a União Européia incentivar a sua agricultura, os EUA incentivar a agricultura, enquanto nossos agricultores ficam sem poder de competição."
Lula lembrou, durante o comício, das dificuldades enfrentadas por Olívio Dutra na área política. "Precisamos eleger uma grande bancada estadual", discursou. O governador assumiu com 19 deputados contra 36 da oposição. Em vez de negociar acordos para aprovar projetos, brigou com o PDT (sete deputados) e ficou com apenas 12 (11 do PT e um do PC do B); em minoria, não conseguiu aprovar projetos estratégicos.
Além disso, o próprio PT rachou: numa dura disputa interna, Tarso bateu Olívio nas prévias para ser candidato, o que levantou dúvidas sobre como o partido vai defender sua administração na campanha, já que o próprio governador não teve respaldo para tentar seguir no cargo.
Ainda houve uma CPI que acusou o governo de vínculos com o jogo do bicho, o que Olívio nega; surgiram contestações na área da segurança; e uma situação delicada em relação aos sem-terra, que têm fortes aliados no poder e realizaram várias invasões sob o olhar tolerante da Brigada Militar.
""Não acredito que eventual desgaste do governo esteja provocando a queda do Lula. O crescimento de Ciro é inconsistente", disse o vice-presidente regional do PT, Paulo Ferreira, coordenador da campanha de Lula no Estado.
No fim da tarde, Lula fez uma caminhada em Porto Alegre, concentrando segundo a Brigada Militar (a PM local) cerca de 10 mil manifestantes.



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