São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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JANIO DE FREITAS

Sem resposta

As respostas do brigadeiro Marcos Antônio de Oliveira foram mais do que inconvincentes, nos dois principais pontos do pequeno questionário da Folha sobre comprometedoras referências a seu nome em documentos oficiais americanos, relativos à concorrência viciada para o Sistema de Vigilância da Amazônia.
Por sua vez, a reação de Fernando Henrique Cardoso foi típica das situações em que se sente questionado e sem resposta: insulta. Como os "neoburros" e outras manifestações do gênero, o comentário sobre os documentos publicados na Folha é de se tratar de "intriga" e "infâmia", porque a "concorrência foi limpa".
Intriga e infâmia de quem e contra quem? Os documentos são do governo dos Estados Unidos e foram entregues a Marcio Aith, da Folha, por entidades do governo dos Estados Unidos. Contêm mensagens do embaixador e de outros diplomatas dos Estados Unidos. Se o teor desses documentos foi inverdadeiro no todo ou em parte, consistindo em "intriga e infâmia", Fernando Henrique Cardoso tem o dever presidencial de fazer uma representação dirigida ao governo dos Estados Unidos e, outra, contra aqueles diplomatas, inclusive judicialmente.
Em suas respostas por escrito, o brigadeiro Marcos Antônio de Oliveira, hoje chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, tem uma frase que se pode subscrever: "Isso é muito grave". Está na resposta em que nega haver oferecido aos Estados Unidos o acesso ás informações obtidas pelo Sivam.
Sua oferta está registrada, porém, em memorando do então embaixador americano no Brasil, Melvin Levitsky: "[O brigadeiro" Oliveira também afirmou claramente que as informações geradas pelo Sivam podem ser compartilhadas com o governo americano".
Compreende-se que o brigadeiro Oliveira negue tal afirmação. Mas por que haveria um embaixador de inventá-la e transmiti-la ao Departamento de Estado, com todas as implicações de responsabilidade pelo seu ato? Observe-se que ainda ressaltou haver o brigadeiro feito a oferta "claramente".
O outro ponto principal, entre as referências ao seu nome nos documentos do governo americano, também recebeu do brigadeiro Oliveira as compreensíveis respostas negativas. Não, não recebeu de diplomata americano o rascunho de uma carta a ser assinada por autoridade brasileira nem entregou a diplomata americano a cópia de um documento confidencial do governo brasileiro.
Comunicado do cônsul David Zweifel ao Departamento de Estado inclui-se no caso já citado do embaixador, neste trecho: "A conselheira comercial Pribyl apresentou ao brigadeiro Oliveira a sugestão de um rascunho (...)"; Oliveira "forneceu a Pribyl o teor de um memorando "confidencial" que enviara ao ministro dos assuntos estratégicos, Flores".
Por que haveria um cônsul de inventar e transmitir ao Departamento de Estado esses pormenores excessivos, com todas as implicações de responsabilidade pelo seu ato?
P.S. - Aqui citado ontem, o telefonema dado por Fernando Henrique Cardoso para Bill Clinton, então presidente, foi em seguida ao ato de assinatura do contrato com a Raytheon, beneficiária das graves ilegalidades e imoralidades que os documentos do governo americano comprovam.



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