|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PREVIDÊNCIA
Problemas de caixa do INSS, que deve ter neste ano rombo de R$ 17 bi, inviabilizam aumento prometido por Ciro e Lula
Déficit ameaça promessas para o mínimo
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os problemas de caixa da Previdência, que se agravam ano a ano,
ameaçam enterrar as promessas
feitas pelos presidenciáveis para o
aumento do salário mínimo.
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT,
por exemplo, anunciou anteontem a meta de "dobrar o poder de
compra" do mínimo, hoje de R$
200, ao longo de quatro anos de
mandato. Ciro Gomes, do PPS, já
falou em um valor de US$ 100, o
que, pela cotação de ontem, equivaleria a R$ 294,60.
Recebem o salário mínimo,
atualmente, 13,2 milhões de beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) -64% do
total de 20,6 milhões de segurados. Trata-se, de longe, do principal gasto social do governo.
Pelas estimativas mais recentes,
o pagamento de benefícios do
INSS somará neste ano R$ 87,2 bilhões. As contribuições para a
Previdência, porém, não devem
passar de R$ 70,1 bilhões. Os R$
17,1 bilhões restantes terão de ser
cobertos com a receita de outros
tributos. Esse déficit registra um
crescimento galopante (veja quadro nesta página), que tão cedo
não será reduzido.
Não é difícil entender: o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida elevam constantemente o número
de aposentados. O número de
contribuintes, prejudicado pela
alta taxa de informalidade no
mercado de trabalho, cresce de
forma muito mais lenta.
Segundo a área econômica do
governo, cada R$ 1 a mais no salário mínimo eleva em cerca de R$
160 milhões o déficit do INSS.
Se Ciro quiser atingir os US$ 100
logo no primeiro ano de um eventual mandato, a despesa extra
chegaria a R$ 15 bilhões. É verdade que, até lá, a cotação do dólar
pode cair -mas também subir.
Lula, para cumprir sua meta, teria que conceder um aumento
médio anual de 19% acima da inflação para o mínimo. Em 2003,
mais R$ 8 bilhões seriam acrescentados ao déficit.
A longo prazo, outros fatores teriam de ser levados em consideração, como o crescimento econômico, a evolução do desemprego
e as reformas a serem feitas na
Previdência. A questão é que,
também sobre essas variáveis, os
programas dos candidatos deixam lacunas.
O PT aposta que um ritmo forte
de crescimento do PIB -na casa
de 5% ao ano- reduzirá o desemprego e a informalidade, reforçando o caixa do INSS. Outra
providência seria o combate a
fraudes e à sonegação. Desde o final da década de 70, porém, nenhum governo foi capaz de produzir taxas de crescimento como
essas por períodos prolongados.
Entre os principais candidatos,
Ciro foi o que detalhou mais sua
proposta de reforma previdenciária. Lula apresentou princípios
gerais, e José Serra (PSDB) praticamente não tocou no assunto.
De todo modo, nenhuma proposta de reforma será capaz de
deter a sangria do INSS no período de um mandato presidencial.
Como os atuais aposentados têm
direitos adquiridos, novas regras
só terão efeito no futuro.
E, como dificuldade adicional,
nenhum dos candidatos pode esperar uma base de apoio tão ampla como a de FHC -que, ainda
assim, só conseguiu aprovar no
Congresso algo como a metade de
suas propostas para Previdência.
Colaboraram VIVALDO DE SOUSA, da
Sucursal de Brasília, e PATRÍCIA ZORZAN, da Reportagem Local
Texto Anterior: Dirceu diz "não ter idéia" da CPI de Santo André Próximo Texto: Caixa Dois: Indiciamento de prefeito é suspenso Índice
|