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João Paulo chora e diz que imprensa errou
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), chorou ontem ao criticar a forma como a
imprensa noticiou o confronto
ocorrido anteontem entre a Polícia Militar e manifestantes que
tentavam entrar à força na Casa
para impedir a discussão da reforma da Previdência.
A convocação dos policiais foi
autorizada por João Paulo.
"A manchete foi assim: polícia
ocupa o Congresso Nacional. Como ocupa? Foi como se a polícia
tivesse entrado no plenário, determinado a pauta e impedido os deputados de entrar e falar. É uma
coisa tão difícil de acreditar que
não há outra palavra [para descrever] que não seja tristeza. Ontem o Congresso trabalhou absolutamente tranquilo", disse João
Paulo, com a voz embargada e demonstrando indignação.
A reação do deputado ocorreu
na solenidade de lançamento da
Frente de Defesa da Igualdade Racial. Segundo ele, a verdade é a
"primeira a morrer na guerra da
informação".
"Você fica impotente. Tem que
ligar para a família, para os amigos. É uma coisa que contraria toda a sua vida", disse ele, no momento em que abandonou o microfone para enxugar as lágrimas.
João Paulo assumiu a responsabilidade de ter autorizado a PM a
entrar no Congresso. A interlocutores, disse que a situação saiu de
controle quando um manifestante foi detido e arrastado pelos policiais para a sala dos seguranças.
O episódio foi tratado como
uma truculência sem precedentes
na história do Legislativo.
Uma das vozes discordantes foi
o deputado Aldo Rebelo (PC do
B-SP), líder do governo na Casa:
"Isso é uma tremenda bobagem.
A PM já entrou aqui outras vezes.
O Lindberg [Farias, deputado do
PT] já foi arrastado pela tropa de
choque como um porco aqui pelos corredores". Lindberg confirmou à Folha que foi arrastado e
jogado para fora da Câmara em
1993, quando foi à Casa protestar
contra reformas do então presidente, Itamar Franco (1992-1994).
Após as lágrimas do presidente
da Câmara, a ala esquerdista do
PT desistiu de divulgar uma nota
condenando de forma incisiva o
episódio de anteontem.
João Paulo recebeu a visita de
vários deputados, aliados e da
oposição. O PP divulgou nota
apoiando a atitude de João Paulo.
Quando presidia a sessão, ouviu
seguidos discursos de apoio.
"O presidente da Câmara tem a
obrigação de defender o funcionamento normal da Casa. Alguns
manifestantes estavam agredindo
os seguranças. Se tivessem entrado, a sessão poderia ter terminado de forma violenta", disse o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).
O grupo dos 28 deputados petistas mais à esquerda da sigla se
encontraram com o presidente da
Câmara. Disseram que não concordaram com a convocação da
PM, mas desistiram de redigir a
nota de repúdio. "Sabemos que o
aconteceu ontem [anteontem] foi
grave e não pode se repetir. Mas
isso [as lágrimas] nos tocou, nos
comoveu", afirmou o deputado
Chico Alencar (PT-RJ).
Mas houve críticas. "Eu vi os policiais arrastando um servidor. O
João Paulo não viu", afirmou o
petebista Arnaldo Faria de Sá
(SP).
(RANIER BRAGON)
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