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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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João Paulo chora e diz que imprensa errou

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), chorou ontem ao criticar a forma como a imprensa noticiou o confronto ocorrido anteontem entre a Polícia Militar e manifestantes que tentavam entrar à força na Casa para impedir a discussão da reforma da Previdência.
A convocação dos policiais foi autorizada por João Paulo.
"A manchete foi assim: polícia ocupa o Congresso Nacional. Como ocupa? Foi como se a polícia tivesse entrado no plenário, determinado a pauta e impedido os deputados de entrar e falar. É uma coisa tão difícil de acreditar que não há outra palavra [para descrever] que não seja tristeza. Ontem o Congresso trabalhou absolutamente tranquilo", disse João Paulo, com a voz embargada e demonstrando indignação.
A reação do deputado ocorreu na solenidade de lançamento da Frente de Defesa da Igualdade Racial. Segundo ele, a verdade é a "primeira a morrer na guerra da informação".
"Você fica impotente. Tem que ligar para a família, para os amigos. É uma coisa que contraria toda a sua vida", disse ele, no momento em que abandonou o microfone para enxugar as lágrimas.
João Paulo assumiu a responsabilidade de ter autorizado a PM a entrar no Congresso. A interlocutores, disse que a situação saiu de controle quando um manifestante foi detido e arrastado pelos policiais para a sala dos seguranças.
O episódio foi tratado como uma truculência sem precedentes na história do Legislativo.
Uma das vozes discordantes foi o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Casa: "Isso é uma tremenda bobagem. A PM já entrou aqui outras vezes. O Lindberg [Farias, deputado do PT] já foi arrastado pela tropa de choque como um porco aqui pelos corredores". Lindberg confirmou à Folha que foi arrastado e jogado para fora da Câmara em 1993, quando foi à Casa protestar contra reformas do então presidente, Itamar Franco (1992-1994).
Após as lágrimas do presidente da Câmara, a ala esquerdista do PT desistiu de divulgar uma nota condenando de forma incisiva o episódio de anteontem.
João Paulo recebeu a visita de vários deputados, aliados e da oposição. O PP divulgou nota apoiando a atitude de João Paulo. Quando presidia a sessão, ouviu seguidos discursos de apoio.
"O presidente da Câmara tem a obrigação de defender o funcionamento normal da Casa. Alguns manifestantes estavam agredindo os seguranças. Se tivessem entrado, a sessão poderia ter terminado de forma violenta", disse o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).
O grupo dos 28 deputados petistas mais à esquerda da sigla se encontraram com o presidente da Câmara. Disseram que não concordaram com a convocação da PM, mas desistiram de redigir a nota de repúdio. "Sabemos que o aconteceu ontem [anteontem] foi grave e não pode se repetir. Mas isso [as lágrimas] nos tocou, nos comoveu", afirmou o deputado Chico Alencar (PT-RJ).
Mas houve críticas. "Eu vi os policiais arrastando um servidor. O João Paulo não viu", afirmou o petebista Arnaldo Faria de Sá (SP). (RANIER BRAGON)


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