|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REGIME MILITAR
Ex-guerrilheiro, presidente do PT apóia quebra de sigilo militar do Araguaia, mas descarta pressão política
Genoino afirma que já fez sua parte em ação
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-guerrilheiro e atual presidente nacional do PT, José Genoino, 57, reconhece a importância
da decisão da Justiça de quebrar o
sigilo das operações militares no
Araguaia, mas afirma que já fez a
sua parte ao ter prestado depoimento no processo, movido contra a União pelos familiares dos
desaparecidos no conflito.
Sob o codinome Geraldo, José
Genoino lutou no Araguaia até
ser preso pelos militares, em 1972.
Hoje, ele defende a condução do
processo sem "revanchismo" ou
"ajuste de contas" e livre das pressões políticas. Para isso, o presidente do PT faz questão de ressaltar que o processo, instaurado em
1982, é movido pelos familiares
das vítimas.
A sentença, que abre pela primeira vez a possibilidade de serem ouvidos os militares que participaram da operação, foi proferida pela juíza federal Solange Salgado, conforme revelou a Folha
ontem. Leia, a seguir, a entrevista:
Folha - Como o sr. vê a decisão da
Justiça sobre o Araguaia?
José Genoino - É uma decisão da
Justiça e nós respeitamos. Eu fui
ouvido nesse processo. Tem meu
depoimento lá, dado em 1984,
não, 1985, acho... Essa é uma
questão importante dentro do
amadurecimento democrático do
país, das instituições, dos militares, do próprio Poder Judiciário.
Folha - O sr. vive uma situação diferente hoje da do momento do depoimento, pois esteve no Araguaia, combatendo o regime Agora
a União, que é a ré no processo, está sob o comando do PT.
Genoino - Hoje nós temos uma
situação nova no país, é uma reivindicação das famílias com base
nos direitos humanos, é uma reivindicação jurídica que não tem
ligação com qualquer processo de
revanchismo ou de ajuste de contas. Tem que ser encarado dessa
maneira. Evidentemente, os organismos do governo vão responder
às condições para atender às famílias. É uma reivindicação das
famílias, vamos deixar bem claro.
São as famílias que estão reivindicando essas informações para
cumprir um direito humano fundamental, que está, inclusive,
consagrado na Convenção de Genebra, a necessidade da informação sobre o paradeiro das pessoas
que morreram nas guerras.
Folha - Como o governo deve proceder?
Genoino - Tem que encarar isso
com naturalidade. O governo vai
responder no que puder responder. Eu não posso falar pelo governo, mas acho que foi uma decisão importante.
Folha - Do ponto de vista do Exército, o sr. não acha que os militares
ficam em uma situação delicada?
Genoino - Não falo pelo Exército.
Quando converso com eles, não
falo sobre esse assunto.
Folha - Mas o sr. acha possível localizar os corpos?
Genoino - Não tenho informações. Essas informações devem
ser averiguadas pelo governo. As
instituições funcionam democraticamente. Há a Advocacia Geral
da União, o Ministério da Defesa,
os comandantes militares. Sobre
essa questão, a minha parte foi feita no meu depoimento. Não é
uma questão de pressão política,
não é uma questão de crise política. É uma questão normal do Estado democrático de Direito.
Texto Anterior: "Ele não foi preso coisa nenhuma", diz Sylvia Próximo Texto: Exército diz que pode ter agido fora da lei Índice
|