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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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REGIME MILITAR

Ex-guerrilheiro, presidente do PT apóia quebra de sigilo militar do Araguaia, mas descarta pressão política

Genoino afirma que já fez sua parte em ação

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-guerrilheiro e atual presidente nacional do PT, José Genoino, 57, reconhece a importância da decisão da Justiça de quebrar o sigilo das operações militares no Araguaia, mas afirma que já fez a sua parte ao ter prestado depoimento no processo, movido contra a União pelos familiares dos desaparecidos no conflito.
Sob o codinome Geraldo, José Genoino lutou no Araguaia até ser preso pelos militares, em 1972. Hoje, ele defende a condução do processo sem "revanchismo" ou "ajuste de contas" e livre das pressões políticas. Para isso, o presidente do PT faz questão de ressaltar que o processo, instaurado em 1982, é movido pelos familiares das vítimas.
A sentença, que abre pela primeira vez a possibilidade de serem ouvidos os militares que participaram da operação, foi proferida pela juíza federal Solange Salgado, conforme revelou a Folha ontem. Leia, a seguir, a entrevista:
 

Folha - Como o sr. vê a decisão da Justiça sobre o Araguaia?
José Genoino -
É uma decisão da Justiça e nós respeitamos. Eu fui ouvido nesse processo. Tem meu depoimento lá, dado em 1984, não, 1985, acho... Essa é uma questão importante dentro do amadurecimento democrático do país, das instituições, dos militares, do próprio Poder Judiciário.

Folha - O sr. vive uma situação diferente hoje da do momento do depoimento, pois esteve no Araguaia, combatendo o regime Agora a União, que é a ré no processo, está sob o comando do PT.
Genoino -
Hoje nós temos uma situação nova no país, é uma reivindicação das famílias com base nos direitos humanos, é uma reivindicação jurídica que não tem ligação com qualquer processo de revanchismo ou de ajuste de contas. Tem que ser encarado dessa maneira. Evidentemente, os organismos do governo vão responder às condições para atender às famílias. É uma reivindicação das famílias, vamos deixar bem claro. São as famílias que estão reivindicando essas informações para cumprir um direito humano fundamental, que está, inclusive, consagrado na Convenção de Genebra, a necessidade da informação sobre o paradeiro das pessoas que morreram nas guerras.

Folha - Como o governo deve proceder?
Genoino -
Tem que encarar isso com naturalidade. O governo vai responder no que puder responder. Eu não posso falar pelo governo, mas acho que foi uma decisão importante.

Folha - Do ponto de vista do Exército, o sr. não acha que os militares ficam em uma situação delicada?
Genoino -
Não falo pelo Exército. Quando converso com eles, não falo sobre esse assunto.

Folha - Mas o sr. acha possível localizar os corpos?
Genoino -
Não tenho informações. Essas informações devem ser averiguadas pelo governo. As instituições funcionam democraticamente. Há a Advocacia Geral da União, o Ministério da Defesa, os comandantes militares. Sobre essa questão, a minha parte foi feita no meu depoimento. Não é uma questão de pressão política, não é uma questão de crise política. É uma questão normal do Estado democrático de Direito.


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