São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Após criticar "elites", Lula se encontra com metalúrgicos, caminhoneiros e, hoje, operários

Lula direciona agenda e se volta para os trabalhadores

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o agravamento da crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a sua agenda a eventos com trabalhadores, promovidos por antigos aliados.
Após ter dito na sexta-feira que não abaixaria a cabeça para "as elites", o presidente passou o fim de semana em São Bernardo do Campo, onde recebeu apoio entusiasmado de metalúrgicos, categoria que o lançou à carreira política nos anos 70, e caminhoneiros.
Na manhã de hoje, é a vez de Lula participar de um café da manhã com cerca de 1.200 funcionários de uma construtora em Brasília. Ele visitará às 8h as obras de ampliação do aeroporto Juscelino Kubitschek, na capital federal.
Ontem, na 10ª Festa dos Cegonheiros (transportadores de automóveis), Lula estava ao lado do presidente do sindicato nacional da categoria, Aliberto Alves, que conhece há 30 anos. "Se precisar, vamos à rua para ajudar", afirmou o sindicalista. "Se está aparecendo alguma coisa [corrupção] é porque tem democracia", disse.
Em conversa com os jornalistas após o presidente ter deixado o local, Alves disse que os caminhoneiros estarão com o governo "em qualquer circunstância". "O Lula está um pouco triste e chateado com o que está acontecendo. Mas também comentou que não encobre corrupção, que tudo tem de ser apurado", afirmou. A entidade tem 1.200 associados e não é ligada a centrais sindicais.
Anteontem, o presidente foi protagonista da festa de posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, também em São Bernardo do Campo, entidade que presidiu nas famosas greves de 1978, 79 e 80. No evento, José Lopez Feijóo, atual presidente da entidade, também prometeu ir às ruas para defender Lula, e o deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), repetiu o presidente nas críticas à elite.

Reeleição
Lula foi breve ontem em seu discurso aos caminhoneiros. Ouviu o apoio de Alves, tomou o microfone e falou rapidamente sobre as realizações do governo.
Aproveitou -como tem feito na maioria dos pronunciamentos- para criticar o antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Herdamos mais de 38 mil km de estradas praticamente intransitáveis", disse. "Fico me perguntando o que era feito nesse país que nem manutenção de estradas era feita."
O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, aproveitou o clima favorável e, discursando ao lado do presidente, chegou a prometer a conclusão de obras viárias para os próximos três anos -o país terá eleições presidenciais já no ano que vem. "É claro que vamos levar algum tempo para corrigir a irresponsabilidade que foi feita ao longo de tantos anos. A expectativa -num estudo feito pelo Banco Mundial e fazendo o investimento que está se fazendo pela primeira vez no país- é que nós, em mais três anos, recuperaremos os 58 mil km das rodovias federais", afirmou Nascimento.
Segundo o ministro, o governo vai gastar neste ano R$ 6,5 bilhões para a recuperação de rodovias.
Animado, Lula tentou descer da área onde estava para abraçar o público -3.000 pessoas, segundo a Presidência, estavam na festa de São Bernardo do Campo, realizada na Estância Alto da Serra.
Em meio à confusão causada por quem tentava se aproximar, a Folha questionou o presidente sobre as ameaças de Marcos Valério de Souza -em entrevista anteontem, Valério afirmou que "quem tiver motivos para preocupação pode ir se preocupando". O presidente preferiu não responder. Chegou a se irritar por causa do tumulto. Voltou para a área onde estava e pediu desculpas, porque "gostaria de abraçar cada mulher, cada criança".


Colaborou LUCIANA CONSTANTINO, da Sucursal de Brasília


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