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CELSO PINTO
O tamanho do risco externo
As declarações do presidente do
Fed, Alan Greenspan, sinalizando que os juros americanos podem voltar a subir, agravaram os
temores de turbulência externa,
já fortes em função da Argentina.
Qual o impacto potencial sobre o
câmbio e os juros no Brasil?
Em tese, pode ser grande, mas
só se a crise externa for além do
esperado. A turbulência na Argentina vai continuar, mas há indicações de que o FMI e o Tesouro
estão preparados para apoiar o
país, com muita fala e algum dinheiro.
A Argentina poderia levantar
de US$ 6 bilhões a US$ 10 bilhões
na nova linha contingente do
FMI, o suficiente para financiar o
que falta neste segundo semestre.
Não resolve os problemas do país
a médio prazo, mas torna menos
provável um colapso total a curto
prazo.
No caso dos juros americanos,
um novo aumento de 0,25% dos
juros está dentro dos cálculos.
Haveria um impacto mais sério se
o aumento fosse maior, especialmente se viesse acompanhado por
uma queda mais forte na Bolsa
de Nova York.
Tanto uma turbulência sem colapso na Argentina quanto algum ajuste nos juros americanos
já eram eventos previstos no "Relatório da Inflação" feito pelo
Banco Central quando anunciou
as metas inflacionárias. Portanto,
algum impacto já está incorporado nas projeções contidas no relatório.
O que essas projeções indicam é
que, se fosse mantida a taxa de
juro atual de 21%, a inflação no
final de 2000 ficaria em torno de
4% e não nos 6% previstos para a
taxa média e, no ano 2001, em
torno de 2% e não nos 4% previstos. Traduzido: existe um espaço
bastante razoável para reduzir os
juros sem comprometer os objetivos de inflação de médio prazo.
Mas, e se a turbulência externa
reduzir os dólares para o Brasil,
provocar um salto na taxa de
câmbio e uma pressão potencial
sobre a inflação? Essa questão é
mais complicada, mas existem
pistas para a resposta.
O governo aposta que as contas
externas fecharão neste ano apenas com os investimentos diretos,
sem precisar de capital de curto
prazo. Se for verdade, não deve
haver pressão maior sobre o câmbio. Mas, e se ela acontecer e o
câmbio subir?
O diretor do BC Sérgio Werlang
já mencionou que ele trabalha
com a hipótese de que cada 10%
de desvalorização gera 0,5% de
inflação a curto prazo (três meses) e de 2% a 2,5% a longo prazo
(mais de um ano).
Quando o BC fez as projeções
para a inflação, no final de junho,
o câmbio estava em R$ 1,77 por
dólar e a projeção era de uma taxa de R$ 1,75 no final de dezembro. E se o câmbio médio, no segundo semestre, ficasse em R$
1,85, pouco acima da taxa atual?
Qual seria o impacto sobre a inflação?
Usando o coeficiente do BC, a
desvalorização adicional de 5,7%
geraria uma inflação adicional
de 1,14% ao longo de 12 meses.
Como a projeção do BC (com juro
fixo de 21%) gerava uma "folga"
de 2% na inflação do próximo
ano, mesmo com um câmbio a R$
1,85 seria possível reduzir os juros
atuais sem comprometer as metas. Só um câmbio médio a R$
1,95, no segundo semestre, indicaria que os juros não poderiam
cair de 21%.
É claro que esse é um exercício,
baseado em modelos e cenários
que podem se revelar errados. O
fato é que essa é a base teórica pela qual o BC vai se mover, pelo
menos até que a realidade prove
que ela está equivocada. A direção continua sendo a de reduzir
os juros, mesmo com o câmbio
um pouco mais pressionado.
Uma parte do mercado, no fundo, continua cética em relação ao
sistema de metas inflacionárias.
Suspeita que, se as coisas se complicarem, o BC vai tentar segurar
o câmbio, subindo juros para
atrair dólares.
Isso, contudo, seria o oposto da
lógica do câmbio flutuante com
meta inflacionária. Com essa
combinação, os ajustes se dão pela taxa de câmbio e ela só afetará
os juros se gerar inflação indesejada.
O jogo não é mais atrair dólares
de curto prazo subindo os juros.
Nem se preocupar com saídas de
investidores internos: uma remuneração real menor, num mês,
não compensa o risco cambial de
tirar o dinheiro do país, sem saber a que câmbio ele poderá voltar. Tampouco há razões para recear que um juro real menor,
num mês, possa levar a uma corrida inflacionária por consumo.
Tudo isso é lógico, mas não basta. O mercado só vai se convencer
quando e se o BC construir uma
credibilidade do novo sistema. E
isso leva tempo.
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