|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRIME ORGANIZADO
Documentos mostram depósitos no Uruguai e nos EUA
Arcanjo girou US$ 69,8 mi no exterior de 1999 a 2002
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Documentos recebidos neste
mês pela Justiça Federal de Mato
Grosso apontam que o ex-policial
civil João Arcanjo Ribeiro, 52,
movimentou pelo menos US$
69,8 milhões em duas agências,
uma do Deutsche Bank, em Nova
York, e outra do BankBoston, em
Montevidéu (Uruguai), de setembro de 1999 a dezembro de 2002.
O MPF (Ministério Público Federal) investiga se a movimentação fez parte de esquema de lavagem de dinheiro comandado por
Arcanjo, preso desde abril em
Montevidéu por uso de identidade falsa. Arcanjo é acusado de
chefiar um esquema de lavagem
de dinheiro, obtido por uma organização criminosa, e de sonegar
R$ 842 milhões da Receita.
O juiz Julier Sebastião da Silva,
da 1ª Vara Federal em Cuiabá
(MT), recebeu do governo uruguaio comprovantes de movimentação financeira da empresa
Aveyron S.A, com sede em Montevidéu. Essa corretora de câmbio, segundo os documentos a
que a Agência Folha teve acesso,
foi criada no Uruguai em 1995 por
Arcanjo. O MPF diz que a empresa era usada para lavar dinheiro.
Silva recebeu comprovante de
depósito de US$ 47.368.304,54 feito pela Aveyron em agência do
Deutsche Bank, em Nova York. O
documento, de acordo com o juiz,
mostra ainda que o dinheiro foi
parar nas Ilhas Cayman. Toda a
operação ocorreu no período de
novembro a dezembro de 2002.
A Aveyron ainda manteve quatro contratos no valor de US$
22.502.214,89 de setembro a dezembro de 1999 no BankBoston.
Irmão de Dante
Os documentos obtidos pela
Justiça mostram que, nos bancos
do Uruguai, Arcanjo foi avalista,
direta e indiretamente, de dois
empréstimos, que somam US$ 3,2
milhões, feitos pela Amper Construções Elétricas -empresa que
pertence a Armando Martins de
Oliveira, 56, irmão de Dante de
Oliveira (PSDB), que foi governador de Mato Grosso (1995-2002).
O primeiro empréstimo, de US$
2,2 milhões no BankBoston, ocorreu em 1998, e o avalista foi Arcanjo, como pessoa física. O segundo empréstimo, de US$ 1 milhão no Deutsche Bank, ocorreu
em 2000, e a avalista foi a Aveyron, que recebeu uma comissão
de 3%, ou seja, US$ 30 mil.
Esses documentos recebidos do
Uruguai reforçarão as investigações sobre Arcanjo. O Ministério
Público investiga a rota que seria
usada por Arcanjo para lavar dinheiro. Até aqui, sabe-se que:
1. A Confiança Factoring, firma
de Arcanjo que operava em Cuiabá desde 1995, recebeu da Assembléia Legislativa de Mato Grosso,
segundo relatório do Banco Central, R$ 65.278.749,34, de maio de
1999 a dezembro de 2002.
2. Também houve depósito de
R$ 1.723.600 feito pelo DVOP
(Departamento de Viação Obras
Públicas), órgão do público, durante o governo Dante.
3. Em depoimento na Justiça Federal no dia 14 passado, o ex-gerente da factoring, Nilson Roberto Teixeira, manteve a versão de
que parte do dinheiro da Assembléia e do DVOP foi usada para
pagar gastos de campanha de reeleição de Dante, em 1998.
4. A Confiança Factoring, ainda
segundo o relatório do BC, emprestou, de 1998 a 2000, R$
2.036.868,22 à Amper (empresa
do irmão de Dante).
5. O ex-secretário estadual da
Segurança Pública, Hilário Mozer
Neto, recebeu empréstimo de R$
240 mil da factoring em fevereiro
de 2001, dois meses após deixar o
governo. Outro documento, enviado do Uruguai para a Justiça
Federal em Mato Grosso, envolve
Mozer Neto. É uma ata da empresa Gamza, corretora de câmbio
com sede em Montevidéu. O ex-secretário aparece como presidente da empresa, de fevereiro a
março de 1998 e, em seguida,
transfere o cargo para o sócio Luiz
Alberto Dondo Gonçalves, que
era contador das empresas de Arcanjo na época.
Texto Anterior: Sem água tratada: Águas Lindas sofre com doenças Próximo Texto: Outro lado: Empresário nega envolvimento com comendador Índice
|