São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Candidato, que movimentou US$ 1,78 milhão em cassinos nos EUA, diz que país precisa criar jogo para que o rico perca dinheiro aqui

Maluf nega jogar, mas defende cassino legalizado no Brasil

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) defendeu ontem a legalização de cassinos no Brasil. Apesar de afirmar não ser adepto do jogo, o serviço de alfândega dos Estados Unidos informou a autoridades brasileiras que o ex-prefeito movimentou cerca de US$ 1,78 milhão de dólares em cassinos.
"Em São Paulo tem todo o tipo de jogo para o pobre perder dinheiro: Sena, Quina, loteria esportiva e bingo. Em todos os países do mundo tem também o jogo para quem é rico e quer perder dinheiro. Então, para que ele não precise ir para Mar del Plata [Argentina] nem para os EUA nem para a Europa, que perca o dinheiro no Brasil", disse Maluf, candidato a prefeito de São Paulo.
Ontem, a Folha revelou documento enviado pelos EUA que credita a "Paulo Salim Maluf" a compra de fichas ou o resgate de créditos no valor total de US$ 1,78 milhão (atualizado) em cassinos.
A compra de fichas não significa que o jogador aposte o valor empenhado. Ele pode comprar fichas e deixar o dinheiro para créditos futuros. Esse valor poderá ser resgatado no mesmo cassino ou em cassinos interligados, em qualquer parte do mundo.
Em outro documento, desta vez encaminhado à CPI do Banestado, a Promotora nova-iorquina registrou um depósito de US$ 406 mil em nome de Maluf. A origem do dinheiro, segundo o órgão, é uma praça de cassinos de Monte Carlo, principado de Mônaco.
"Eu não jogo", disse Maluf . "Em véspera de campanha eleitoral vale tudo. O que estranho é que uma mentira de 1987 venha à tona um mês antes da eleição 2004", disse Maluf.
A primeira operação registrada pela alfândega dos EUA é de 1987. Outras 22 movimentações em cassinos foram computadas em ano não-seqüenciais (1988, 1991, 1997, 2000 e 2001) -os períodos coincidem com viagens feitas por Maluf ao exterior.
Para o candidato, se os cassinos fossem legalizados, 50% dos lucros obtidos pela casa de jogos poderiam ser investidos em universidades e na saúde pública. "Essa é uma das maneiras de arrumar recurso para os pobres não morarem na rua nem serem assassinados na rua", disse.
A discussão sobre a legalização dos cassinos não passa pela atribuição do município. Depende do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Congresso Nacional, já que o jogo de azar é proibido no país desde 1946 por determinação do então presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951).
Se eleito, Maluf disse que irá apresentar seus argumentos para a bancada federal do PP.
"Eu não tenho força para mudar a lei. Quem tem essa força é o Congresso. Mas acho que eu tenho o direito de não ser censurado", afirmou o candidato.
Questionado sobre a possibilidade de os cassinos serem usados para lavagem de dinheiro, o ex-prefeito defendeu uma fiscalização por parte do governo.

Desencontros
Conhecido pela pontualidade em atos de campanha, Maluf surpreendeu ontem cerca de 40 empresários da Abrigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) ao cancelar, com cerca de uma hora de atraso, um café da manhã que havia agendado com o grupo.
O candidato alegou compromissos inadiáveis: gravação para o programa eleitoral de TV, que irá ao ar hoje à noite, e reunião com o partido para discutir propostas viárias para a cidade.
Maluf voltou a criticar a prefeita Marta Suplicy (PT), que, segundo ele, cumpriu apenas 20% das propostas feitas por ela na campanha municipal de 2000 -no programa de TV do PT, ela diz ter cumprido 95%. "Marta falou de criar hotéis de R$ 1 para o morador de rua e mentiu. Vocês jornalistas falam mentiras de mim, mas não falam das mentiras que ela contou", disse Maluf. A assessoria de Marta disse que ela não comenta.


Colaborou KATIA CALSAVARA, da Redação


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