São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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FOGO CRUZADO

Senador critica postura petista de levar ao STF suas declarações sobre Delúbio e é apoiado até por aliados do governo

Tasso vê "janela para corrupção" no PPP

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso no Senado, o tucano Tasso Jereissati (CE) classificou de "arrogante e autoritária" a atitude do PT de interpelá-lo na Justiça em razão de ataques feitos ao tesoureiro do partido, Delúbio Soares. Ele recebeu a solidariedade de senadores da base aliada ao governo, inclusive do PT.
O partido e seu tesoureiro notificaram Jereissati no STF (Supremo Tribunal Federal) devido à declaração de que "[o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas)], do jeito que está, é roubalheira, é para o Delúbio deitar e rolar". A frase foi dita no plenário, com o dedo em riste na direção do senador Tião Viana (PT-AC), mas fora do microfone.
"O PT e o senhor Delúbio, ao levarem ao STF suas queixas contra mim, demonstram uma atitude arrogante e autoritária de quem, como já dissemos, não suporta críticas", disse Jereissati ontem.
Questionado se reafirma a declaração que levou à interpelação, disse: "O [projeto da] PPP, do jeito que está, abre uma janela enorme para a corrupção. Não tive o objetivo de ofender o Delúbio, porque não o conheço. A imagem que tenho dele foi construída através do que leio na imprensa".
O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), diante do apoio que o tucano recebeu de 19 senadores e dos aplausos do plenário, tentou contemporizar e trazer o debate para o mérito do projeto das PPPs.
Mercadante, que deu o episódio como superado, disse que vai procurar o presidente do PT, José Genoino, para conversar, mas afirmou que decidir retirar a interpelação judicial cabe ao partido.
Diferentemente do senador paulista, a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), defendeu veemente o tesoureiro. "Delúbio é um quadro do PT, não é um livre atirador. Ele está subordinado ao partido e atua em nome do partido, não é um aventureiro", disse.

Aliados com Tasso
Não só a oposição fez críticas à atitude do PT. "Não acredito que por trás dessa ação do Delúbio esteja o PT. Se estiver, não está a bancada do partido no Senado, e, se estiver, eu não fui consultado. Presto minha solidariedade ao senador Tasso Jereissati", disse o senador Cristovam Buarque (PT-DF). Ele foi acompanhado pelos senadores Leonel Pavan (PMDB-SC) e Patrícia Gomes (PPS-CE) .
O PSDB divulgou nota endossando as declarações de Jereissati e atacou o tesoureiro do PT e o projeto das PPPs. "Como está proposto, o projeto é uma porta aberta para negociatas, favorecimentos e corrupção, com possíveis reflexos nos caixas eleitorais, valendo lembrar que o Delúbio Soares é o mais notório caixa de campanha nessa quadra pouco feliz da história brasileira."
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), listou os fatos que caracterizariam Delúbio como uma "figura nebulosa e influente". Entre os episódios citados estão a livre circulação do tesoureiro no Palácio do Planalto, inclusive reunindo-se com empreiteiras; a compra de R$ 70 mil em ingressos pelo Banco do Brasil para um show com o intuito de arrecadar dinheiro para a compra da nova sede do PT; e a campanha promovida por ele para empresários doarem dinheiro ao partido.
Em jantar na noite de anteontem, os líderes dos partidos aliados apoiaram a interpelação a Tasso.


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