São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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JANIO DE FREITAS

A voz de comando

Já a partir das denúncias iniciais de Roberto Jefferson, as revelações e comprovações, no atual escândalo têm ocorrido pelo modo ou pelos figurantes menos esperados. Mais uma vez, é isso mesmo que se pode perceber na disputa entre José Dirceu e Tarso Genro.
A recusa de Dirceu a desligar-se da chapa encabeçada por Tarso na eleição petista explica-se, segundo o próprio Dirceu, porque a retirada enfraqueceria sua defesa na Câmara. O que a recusa demonstra, porém, é o domínio que José Dirceu exerce, mesmo atingido como está, sobre as instâncias dirigentes do PT. Sua retirada não depende só do ato de renúncia, ao qual Tarso Genro condicionou sua própria candidatura à presidência do PT. O afastamento tanto poderia ser por decisão interna da vasta chapa do Campo Majoritário, como por manifestação dos setores partidários que indicaram, ao menos aparentemente, os integrantes da chapa.
Assim como Dirceu não toma a iniciativa, no Campo Majoritário -a corrente petista cujos líderes estão no centro no escândalo- ninguém se move para retirá-lo do núcleo que, se vitorioso, terá o futuro comando do partido. Nem para retirar da chapa os acompanhantes petistas de Dirceu no escândalo: Delúbio, Genoino & cia.
Nessa demonstração de sua força, preservada apesar de tudo, José Dirceu lança, com as próprias mãos, mais uma denúncia contra a inocência que diz apoiada pela inexistência, verdadeira, de qualquer acusação de improbidade sua.
Mas a sua persistente força no PT, decorrente do esquema de poder com que conduziu a dominação dentro do petismo, é a mesma que lhe permitiu ser a figura de força no esquema de poder instalado com a eleição de Lula. Não é por acaso que o seu estado-maior nos dois esquemas é o mesmo. No partido, operando as instâncias de condução interna, para sujeitarem-se à desvinculação da natureza do petismo; no governo, para penetrar e agir nas instâncias a serem postas sob controle, político e às vezes também funcional, do poder centrado no Gabinete Civil de José Dirceu.
A interação que não se abala nem sob os riscos da crise partidária, mantendo no Campo Majoritário o predomínio dos propósitos ou ordens de José Dirceu, ajuda a compreender o que se passou no plano institucional da política e do governo, tão mais propício à imposição dos comandos e à passividade das obediências.


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