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JANIO DE FREITAS
A voz de comando
Já a partir das denúncias
iniciais de Roberto Jefferson,
as revelações e comprovações,
no atual escândalo têm ocorrido pelo modo ou pelos figurantes menos esperados. Mais uma
vez, é isso mesmo que se pode
perceber na disputa entre José
Dirceu e Tarso Genro.
A recusa de Dirceu a desligar-se da chapa encabeçada por
Tarso na eleição petista explica-se, segundo o próprio Dirceu,
porque a retirada enfraqueceria
sua defesa na Câmara. O que a
recusa demonstra, porém, é o
domínio que José Dirceu exerce,
mesmo atingido como está, sobre as instâncias dirigentes do
PT. Sua retirada não depende
só do ato de renúncia, ao qual
Tarso Genro condicionou sua
própria candidatura à presidência do PT. O afastamento
tanto poderia ser por decisão
interna da vasta chapa do
Campo Majoritário, como por
manifestação dos setores partidários que indicaram, ao menos aparentemente, os integrantes da chapa.
Assim como Dirceu não toma
a iniciativa, no Campo Majoritário -a corrente petista cujos
líderes estão no centro no escândalo- ninguém se move para
retirá-lo do núcleo que, se vitorioso, terá o futuro comando do
partido. Nem para retirar da
chapa os acompanhantes petistas de Dirceu no escândalo: Delúbio, Genoino & cia.
Nessa demonstração de sua
força, preservada apesar de tudo, José Dirceu lança, com as
próprias mãos, mais uma denúncia contra a inocência que
diz apoiada pela inexistência,
verdadeira, de qualquer acusação de improbidade sua.
Mas a sua persistente força no
PT, decorrente do esquema de
poder com que conduziu a dominação dentro do petismo, é a
mesma que lhe permitiu ser a figura de força no esquema de
poder instalado com a eleição
de Lula. Não é por acaso que o
seu estado-maior nos dois esquemas é o mesmo. No partido,
operando as instâncias de condução interna, para sujeitarem-se à desvinculação da natureza
do petismo; no governo, para penetrar e agir nas instâncias a serem postas sob controle, político
e às vezes também funcional, do
poder centrado no Gabinete Civil de José Dirceu.
A interação que não se abala
nem sob os riscos da crise partidária, mantendo no Campo
Majoritário o predomínio dos
propósitos ou ordens de José Dirceu, ajuda a compreender o que
se passou no plano institucional
da política e do governo, tão
mais propício à imposição dos
comandos e à passividade das
obediências.
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