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JULGAMENTO DO MENSALÃO
Gushiken vira réu na votação mais acirrada
Julgamento acabou em 6 a 4 pela abertura de processo por peculato; ministros que votaram contra dizem não haver prova
Para Joaquim Barbosa, porém, a análise ainda não exige provas cabais; "nós não estamos tratando do julgamento, mas de indícios"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Momento mais acirrado até
aqui no julgamento preliminar
do mensalão, a análise da abertura de processo contra o ex-ministro Luiz Gushiken por peculato -receber vantagem indevida em função de cargo público- quase "rachou" o STF.
Ao defender seu voto, o relator Joaquim Barbosa chegou a
dizer que "não teria dúvida nenhuma em absolver o ex-ministro" se o plenário estivesse julgando naquele momento a própria ação penal -e não só a
abertura do processo contra o
ex-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo.
"É preciso investigar, podem
surgir novos elementos no curso da ação penal", insistiu.
Voto vencido, o ministro
Eros Grau chegou a chamar a
acusação do Ministério Público
contra Gushiken de "mera ilação". "E a CPI não é precedente
para nós", disse Eros Grau depois de o ministro Cezar Peluso
ter defendido a abertura do
processo sob o argumento de
que a CPI dos Correios, com
base nas mesmas provas, pediu
o indiciamento de Gushiken.
"Nesse estágio [da denúncia]
temos palavra contra palavra.
Esta prova está muito tênue",
disse Gilmar Mendes, outro
igualmente vencido.
Visanet
Gushiken foi denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, com base em depoimento do ex-diretor de marketing
do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato à CPI dos Correios.
Pizzolato disse, na ocasião, ter
seguido ordens do então ministro para repassar antecipadamente R$ 73,8 milhões à agência DNA, de Marcos Valério.
"É um indício fortíssimo", reforçou Joaquim Barbosa.
O valor mencionado na denúncia corresponde à cota de
propaganda do Banco do Brasil,
no Fundo Visanet, da bandeira
Visa. Entre 2003 e 2004, a DNA
recebeu quatro parcelas de pagamentos antecipados, independentemente de campanhas
previamente definidas. Parte
do serviço não teria sido prestada, segundo as investigações.
A transação da cota do BB no
Visanet representa o maior indício disponível nas investigações do mensalão de que o esquema de repasses a políticos
aliados do governo contou com
desvio de dinheiro público.
Joaquim Barbosa defendeu
até o último momento seu voto,
insistindo em que a abertura de
processo não exige provas cabais. "O que estamos analisando é o recebimento da denúncia, não estamos tratando do
julgamento, mas de indícios."
Coube à presidente do STF,
ministra Ellen Gracie, dar o voto decisivo, pela abertura do
processo, fechando o placar em
6 a 4. Se houvesse empate, Gushiken escaparia do processo.
Além de Grau e de Mendes votaram contra o relator Ricardo
Lewandowski e Celso de Mello.
Defensor da investigação criminal contra o ex-ministro, Peluso chegou a se exaltar ao perguntar como "o ministro de Comunicação do governo estaria
alheio" aos valores que, sob sua
responsabilidade, estariam sob
suspeita de desvio. "Se fosse
contrato de R$ 10... Mas era um
montante de dinheiro muito
grande para estar nas mãos de
um diretor de marketing."
Marco Aurélio Mello, que votou pela abertura do processo,
disse que votava até para não
dar força ao ditado de que "a
corda estoura sempre para o lado mais fraco", em referência à
tese dos ministros que tiveram
o voto vencido segundo a qual
os indícios fortes pesam sobre
Pizzolato, então subordinado a
Gushiken.
(MARTA SALOMON, RANIER BRAGON e SILVANA DE FREITAS)
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