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JULGAMENTO DO MENSALÃO
Planalto segura substituto de Pertence
Presidente Lula havia redigido nomeação de Carlos Direito para o STF, mas recuou na última hora; nome segue favorito
Troca de mensagens entre dois ministros do Supremo, sugerindo negociação de voto por indicação de nome, tumultuou a sucessão
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou redigir o ato
de indicação do ministro do
STJ (Superior Tribunal de Justiça) Carlos Alberto Menezes
Direito para o STF (Supremo
Tribunal Federal) anteontem,
mas recuou na última hora.
O ato deveria ter sido publicado na edição de ontem do
"Diário Oficial da União", junto
com a aposentadoria do ministro José Paulo Sepúlveda Pertence, que abriu a vaga.
Lula, que nunca se mostrou
realmente entusiasmado pelo
nome de Direito, considerado
"muito conservador" por setores à esquerda no governo, decidiu esperar até segunda-feira
antes de bater o martelo e garantir a publicação no "DO" no
dia seguinte. Ontem, Direito tinha "90% de chances" de ser
indicado, nas palavras de interlocutores do presidente.
A escolha deverá coincidir
com o fim do julgamento em
que o STF decidirá sobre a
abertura do processo do mensalão. A realização de sessões
seguidas para discutir o assunto e o embaraço provocado pela
divulgação dos e-mails trocados na quarta-feira entre os ministros Cármen Lúcia Antunes
Rocha e Ricardo Lewandowski
tumultuaram a sucessão.
Os ministros insinuaram nos
e-mails que haveria uma "troca": o voto contrário à abertura
de ação contra os "mensaleiros" pela indicação de Direito
para a vaga de Pertence.
O ministro do STJ, porém,
corre contra o tempo. Se indicado por Lula, ele terá que ser
sabatinado pela Comissão de
Constituição e Justiça do Senado e seu nome terá que ser submetido ao plenário antes da
posse, que só poderá ocorrer
até o dia 6 de setembro, pois no
dia 7 é feriado e no dia 8 ele
completa 65 anos, idade-limite
para ingresso no STF.
Tecnicamente, é possível que
isso aconteça caso ele seja indicado na próxima terça-feira,
dia 28. Mas, politicamente, a
oposição pode criar dificuldades para uma tramitação célere, em ao menos sete dias úteis.
Direito divide os setores que
têm influência na decisão. Muito ligado à ala mais conservadora da Igreja Católica, ele é rejeitado por políticos e por ministros de tribunais superiores
considerados à esquerda. Tem,
porém, o apoio de "gente de peso" tanto no meio político
quanto no jurídico, especialmente o ministro da Defesa,
Nelson Jobim, do PMDB.
Ex-ministro do Supremo, Jobim defendeu o nome de Direito para sua própria vaga, mas
Lula preferiu indicar a ministra
Cármen Lúcia, agora envolvida
na troca de e-mails. Também
apóiam Direito os ministros
Gilmar Mendes, Eros Grau e
Cezar Peluso.
Os ministros mais à esquerda, auxiliares e ex-auxiliares de
Lula, entretanto, se bateram
por nomes mais "progressistas", lembrando que Direito começou a carreira como chefe de
gabinete do ministro da Educação no Governo Ernesto Geisel
(1974-1978), Ney Braga.
Um alternativa seria o nome
do constitucionalista Luiz Roberto Barroso, da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), que é mais novo e tido
como "mais arejado".
Outros nomes avaliados pelo
presidente são o do também
ministro do STJ Luiz Fux, que
conta com a simpatia do governador do Rio, Sérgio Cabral; o
advogado Roberto Caldas, indicado pelo ministro Tarso Genro (Justiça); o advogado Nilo
Batista, apadrinhado por Márcio Thomaz Bastos, e César Asfor Rocha, ministro do STJ.
Esse tribunal, que fica imediatamente abaixo do STF na
hierarquia do Judiciário, sente-se desprestigiado por não ter
um ministro escolhido para a
cúpula desde 1991. Somente de
2003 para cá, Lula já nomeou
dois desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Dentro do Palácio do Planalto, assessores de Lula revelam
que ele, dessa vez, deseja indicar um nome do STJ porque os
ministros desse tribunal têm
uma "visão de Estado", o que
poderia gerar um maior equilíbrio jurídico naquele tribunal.
A própria saída antecipada
de Pertence é vista como uma
operação armada pelos "padrinhos" para facilitar a nomeação
de Direito. Pertence sairia do
STF em 21 de novembro, quando completará 70 anos, idade
da aposentadoria compulsória.
Entretanto, ele foi pressionado
por amigos a se antecipar, já
que o limite para o ingresso de
Direito é 6 de setembro.
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