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Nomeada por Renan revisa depoimento
Secretária-geral da Mesa atrasa entrega de notas taquigráficas de reunião no conselho; relatores desconfiam de alteração
"Se houve mudança, vou denunciá-la", diz o relator Casagrande, que quer pedir o áudio do depoimento para checar com a transcrição
SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A secretária-geral da Mesa
do Senado, Cláudia Lyra, revisou pessoalmente e reteve ontem o depoimento secreto do
presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), prestado
aos relatores do processo contra ele no Conselho de Ética.
O depoimento aconteceu na
noite de anteontem, a portas
fechadas, no gabinete do presidente do conselho, Leomar
Quintanilha (PMDB-TO).
Acompanharam a reunião os
três relatores do caso -Renato
Casagrande (PSB-ES), Marisa
Serrano (PSDB-MS) e Almeida
Lima (PMDB-SE)-, Quintanilha, o contador de Renan, José
Appel, dois assessores do conselho e a própria Cláudia Lyra.
As falas foram gravadas por um
operador de áudio do Senado.
Durante cerca de duas horas,
Renan tentou rebater dúvidas
da perícia da Polícia Federal.
A previsão era que notas taquigráficas da sessão fossem
disponibilizadas aos relatores
no início da manhã. Tradicionalmente, esse tipo de procedimento leva poucas horas para
ser concluído. No entanto, por
volta das 17h, após dois funcionários de seu gabinete voltarem com as mãos vazias da Secretaria Geral da Mesa, Marisa
Serrano foi pessoalmente em
busca dos dados, mas não encontrou Cláudia. Ela revisava a
íntegra do depoimento na sala
da Secretaria de Taquigrafia.
Flagrada por jornalistas com
um fone de ouvido, Cláudia fazia anotações a lápis na transcrição do depoimento que, segundo ela, seriam repassadas
ao computador. Havia frases
riscadas, palavras e números
circulados e anotações feitas
nas laterais de quase todas as
páginas. Ela enviou uma cópia
ontem à noite à senadora.
Nomeada por Renan para o
cargo, Cláudia é funcionária de
carreira do Senado. Sua irmã é
secretária do gabinete da presidência. Quando foi abordada, a
tela do computador exibia trechos de um diálogo no qual Renan argumentava que a ausência de despesas de custeio nas
fazendas se explicava pelo fato
de elas serem supridas pelo espólio do pai.
Cláudia Lyra disse que sua
intenção era decifrar diálogos,
especialmente quando senadores falaram simultaneamente.
"Vi que havia oradores não-identificados, frases faltando."
Questionada se era praxe se
deslocar até o departamento
taquigráfico para revisar pessoalmente um depoimento de
duas horas, ela afirmou que
"não se trata de um fato inusitado" e que fazia uso de sua experiência de taquígrafa. E utilizou um ato da presidência do
Senado, de 1997, para justificar
sua atitude. Na época ela era secretária-geral adjunta e o então
presidente da Casa, senador
Antonio Carlos Magalhães
(DEM-BA), a designou para supervisionar, coordenar e orientar as subsecretarias de Taquigrafia e Expediente.
Casagrande e Marisa Serrano
afirmaram que vão requerer o
áudio do depoimento para checar se houve alguma alteração
no contexto. "É um atraso inaceitável e, se houve alguma mudança, vou denunciá-la", disse
o senador. Procurado por meio
de sua assessoria, Renan não se
manifestou sobre o caso.
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