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Governo americano rastreia operações suspeitas de Dantas
Funcionário do Departamento de Justiça vê indícios de que banqueiro tentou ocultar origem de US$ 242 milhões de fundo
Dantas e sua irmã, Verônica, réus na Satiagraha, teriam criado quatro empresas para abrir contas em Londres, Luxemburgo e Nova York
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O investigador do Departamento de Justiça dos Estados
Unidos Kenneth Lyn Counts
afirmou, em testemunho juramentado à Corte de Justiça do
Distrito de Columbia, em Washington (EUA), ter obtido indícios de que o banqueiro Daniel
Dantas fez uma série de operações financeiras, fora do Brasil,
de forma a "evitar revelar os
verdadeiros proprietários" de
US$ 242 milhões transferidos
do Opportunity Fund, no paraíso fiscal das ilhas Cayman.
Counts, ex-agente especial
do Programa de Crime de Colarinho Branco do FBI, com 23
anos de experiência, foi encarregado pela Seção de Bloqueio
de Bens e Lavagem de Dinheiro
da Divisão Criminal do Departamento de Justiça dos EUA de
averiguar as informações enviadas pelo delegado da Polícia
Federal Ricardo Saadi, coordenador da Operação Satiagraha.
O depoimento de Counts integra os autos do processo que
resultou no bloqueio, determinado em fevereiro pelo juiz
John D. Bates, de recursos ligados ao Opportunity nos EUA.
Após averiguar contas bancárias abertas nos EUA, o agente
do FBI descreveu, em documento assinado em 4 de junho,
que Dantas e sua irmã, Verônica, criaram pelo menos quatro
empresas diferentes, com as
quais abriram contas bancárias
em Londres, Luxemburgo e
Nova York.
Entre 2002 e 2008, umas alimentaram as outras formando
"camadas" -no Brasil, os especialistas em lavagem de dinheiro também comparam essas
transações às camadas de uma
cebola, um processo que dificulta a identificação da origem
e do destino final do dinheiro.
A estratégia de Dantas, diz
Counts, visava "camuflar a fonte dos fundos depositados" na
conta da empresa Tiger Eye, ligada a Dantas, e "evitar a atenção, o exame e as sanções legais
dos componentes regulatórios
e/ou regras dos programas Antilavagem de Dinheiro" das instituições relacionadas às operações (UBS e Safra). Para ele, o
objetivo foi "possivelmente esconder os beneficiários finais
dos fundos que deixaram o Opportunity Fund".
Grampo telefônico
O principal foco da investigação é a "Conta Tiger Eye", custodiada nos EUA pelo BBH
(Brown Brothers Harriman) e
sobre a qual haveria "motivo
para acreditar" que seja controlada pelos irmãos Dantas. Em
31 de dezembro de 2008, essa
conta mantinha US$ 450 milhões. Ela foi fundada com um
depósito inicial de US$ 56 milhões feito pela empresa Tiger
Eye Investment.
Em seguida, entre 29 de julho e 30 de outubro de 2002, a
conta recebeu US$ 242 milhões
de resgates de ações do Opportunity Fund, nas ilhas Cayman,
e US$ 90 milhões da empresa
Harpy Eagle Investiments.
O agente do FBI concluiu -a
partir de "documentos aos
quais teve acesso na investigação"- que as empresas Tiger
Eye e Harpy Eagle estão sob
controle dos irmãos Dantas.
O investigador partiu do testemunho juramentado do funcionário graduado Clive Pittendreigh, da Agência de Crime
Organizado do Reino Unido,
que atuou no bloqueio dos recursos do Opportunity em
Londres, pedido pelo Brasil.
Ele explicou que a "Harpy
Eagle é uma empresa registrada em Cayman que era anteriormente conhecida como
Atlantic Pacific Investment
Services. Quando ela mudou de
nome, sua conta (...) na agência
do UBS de Londres foi fechada
e uma nova conta foi aberta em
nome da Harpy Eagle".
Em 2008, essa mesma conta
no UBS foi também encerrada,
e os recursos remetidos para a
conta Tiger Eye, em Nova York.
O objetivo dessa sequência
de aberturas e fechamentos de
contas e empresas foi mais bem
compreendido com a interceptação, feita com ordem judicial
na Operação Satiagraha, de
uma conversa telefônica mantida em 17 de abril de 2008 entre Verônica e um funcionário
do BBH, o custodiante dos recursos ligados a Dantas.
A conversa foi transcrita por
Counts. Segundo ele, o funcionário "alertou Verônica" que os
bancos Safra de Luxemburgo e
UBS de Londres, como parte de
seus programas internos contra lavagem de dinheiro, requisitaram "documentação em relação "às verdadeiras identidades dos proprietários [dos recursos] beneficiados" pelo
cliente, a Harpy Eagle. A resposta de Verônica foi negativa.
Em 7 de julho de 2008, um
dia antes da deflagração da Satiagraha, US$ 51,8 milhões foram transferidos da conta da
Haroy Eagle para a Tiger Eye.
Counts encontrou paralelo entre esta operação e a de US$
242 milhões.
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