São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Governo americano rastreia operações suspeitas de Dantas

Funcionário do Departamento de Justiça vê indícios de que banqueiro tentou ocultar origem de US$ 242 milhões de fundo

Dantas e sua irmã, Verônica, réus na Satiagraha, teriam criado quatro empresas para abrir contas em Londres, Luxemburgo e Nova York


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O investigador do Departamento de Justiça dos Estados Unidos Kenneth Lyn Counts afirmou, em testemunho juramentado à Corte de Justiça do Distrito de Columbia, em Washington (EUA), ter obtido indícios de que o banqueiro Daniel Dantas fez uma série de operações financeiras, fora do Brasil, de forma a "evitar revelar os verdadeiros proprietários" de US$ 242 milhões transferidos do Opportunity Fund, no paraíso fiscal das ilhas Cayman.
Counts, ex-agente especial do Programa de Crime de Colarinho Branco do FBI, com 23 anos de experiência, foi encarregado pela Seção de Bloqueio de Bens e Lavagem de Dinheiro da Divisão Criminal do Departamento de Justiça dos EUA de averiguar as informações enviadas pelo delegado da Polícia Federal Ricardo Saadi, coordenador da Operação Satiagraha.
O depoimento de Counts integra os autos do processo que resultou no bloqueio, determinado em fevereiro pelo juiz John D. Bates, de recursos ligados ao Opportunity nos EUA.
Após averiguar contas bancárias abertas nos EUA, o agente do FBI descreveu, em documento assinado em 4 de junho, que Dantas e sua irmã, Verônica, criaram pelo menos quatro empresas diferentes, com as quais abriram contas bancárias em Londres, Luxemburgo e Nova York.
Entre 2002 e 2008, umas alimentaram as outras formando "camadas" -no Brasil, os especialistas em lavagem de dinheiro também comparam essas transações às camadas de uma cebola, um processo que dificulta a identificação da origem e do destino final do dinheiro.
A estratégia de Dantas, diz Counts, visava "camuflar a fonte dos fundos depositados" na conta da empresa Tiger Eye, ligada a Dantas, e "evitar a atenção, o exame e as sanções legais dos componentes regulatórios e/ou regras dos programas Antilavagem de Dinheiro" das instituições relacionadas às operações (UBS e Safra). Para ele, o objetivo foi "possivelmente esconder os beneficiários finais dos fundos que deixaram o Opportunity Fund".

Grampo telefônico
O principal foco da investigação é a "Conta Tiger Eye", custodiada nos EUA pelo BBH (Brown Brothers Harriman) e sobre a qual haveria "motivo para acreditar" que seja controlada pelos irmãos Dantas. Em 31 de dezembro de 2008, essa conta mantinha US$ 450 milhões. Ela foi fundada com um depósito inicial de US$ 56 milhões feito pela empresa Tiger Eye Investment.
Em seguida, entre 29 de julho e 30 de outubro de 2002, a conta recebeu US$ 242 milhões de resgates de ações do Opportunity Fund, nas ilhas Cayman, e US$ 90 milhões da empresa Harpy Eagle Investiments.
O agente do FBI concluiu -a partir de "documentos aos quais teve acesso na investigação"- que as empresas Tiger Eye e Harpy Eagle estão sob controle dos irmãos Dantas.
O investigador partiu do testemunho juramentado do funcionário graduado Clive Pittendreigh, da Agência de Crime Organizado do Reino Unido, que atuou no bloqueio dos recursos do Opportunity em Londres, pedido pelo Brasil.
Ele explicou que a "Harpy Eagle é uma empresa registrada em Cayman que era anteriormente conhecida como Atlantic Pacific Investment Services. Quando ela mudou de nome, sua conta (...) na agência do UBS de Londres foi fechada e uma nova conta foi aberta em nome da Harpy Eagle".
Em 2008, essa mesma conta no UBS foi também encerrada, e os recursos remetidos para a conta Tiger Eye, em Nova York.
O objetivo dessa sequência de aberturas e fechamentos de contas e empresas foi mais bem compreendido com a interceptação, feita com ordem judicial na Operação Satiagraha, de uma conversa telefônica mantida em 17 de abril de 2008 entre Verônica e um funcionário do BBH, o custodiante dos recursos ligados a Dantas.
A conversa foi transcrita por Counts. Segundo ele, o funcionário "alertou Verônica" que os bancos Safra de Luxemburgo e UBS de Londres, como parte de seus programas internos contra lavagem de dinheiro, requisitaram "documentação em relação "às verdadeiras identidades dos proprietários [dos recursos] beneficiados" pelo cliente, a Harpy Eagle. A resposta de Verônica foi negativa.
Em 7 de julho de 2008, um dia antes da deflagração da Satiagraha, US$ 51,8 milhões foram transferidos da conta da Haroy Eagle para a Tiger Eye. Counts encontrou paralelo entre esta operação e a de US$ 242 milhões.


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