São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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Apurações sobre desvios envolvem 52 acusados

FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

O ex-senador Jader Barbalho e outras oito pessoas que tiveram pedido de prisão preventiva decretada na quarta-feira passada estão entre os 52 acusados pelo desvio de US$ 68 milhões (R$ 257 milhões na cotação de ontem) de verbas da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) entre 96 e 99.
Este processo, que tramita em Mato Grosso, é apenas uma das ações penais propostas pelo Ministério Público para apurar desvios de verbas do órgão.
De acordo com o Ministério Público, Jader comandava um esquema que se dividia em dois setores, chamados pelos procuradores de ramo público (funcionários da Sudam), com três escalões, e particular (empresários e "laranjas"), com dois escalões.
Os dois lados formavam suposto esquema de superfaturamento e desvio de recursos de projetos de empresas - a maioria fantasmas- aprovados pela Sudam.
Jader, acusado de formação de quadrilha e estelionato, entre outros crimes, era quem atuava nas duas frentes, diz a Procuradoria. Na Sudam, o ex-senador usava sua influência para nomear funcionários em funções estratégicas.
O principal deles é o ex-superintendente da Sudam José Artur Guedes Tourinho (96-99). Em sua administração, foram liberados os US$ 68 milhões que teriam sido desviados. O valor foi calculado por laudo pericial da Polícia Federal. Candidato a deputado estadual no Pará pelo PMDB, teve prisão preventiva suspensa.
Dentro da Sudam, participariam ainda do esquema funcionários de segundo escalão (ex-superintendentes e ex-diretores) e de terceiro escalão (fiscais). A função deles seria facilitar a liberação dos recursos e a aprovação de pareceres de fiscalização de projetos.

Divisão de tarefas
O esquema contava com dois tipos de empresa: as que recebiam os recursos e as empresas de consultoria credenciadas na Sudam, encarregadas de elaborar os projetos e apresentá-los ao órgão.
O principal nome apontado é José Osmar Borges, maior acionista do Grupo Pyramid, com sede em Cuiabá. Essa empresa apresentou cinco projetos investigados pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso. Borges é amigo de Jader e foi sócio de sua mulher, Márcia Cristina Zahluth Centeno, em uma empresa agropecuária. As apurações detectaram mais de mil ligações entre os dois no auge do esquema.
Entre as evidências, está uma nota fiscal falsa de R$ 49 milhões, que teriam sido pagos à empresa Petersen Matex, de São Paulo, na aquisição de uma máquina de tecelagem para uma das empresas de Borges. A nota fiscal foi enviada à Sudam, mas a empresa paulistana informou que a compra não existiu. Para a Procuradoria, os projetos fictícios de Borges eram elaborados pela Prestimus Planejamento e Assessoria. Eram sócios Ricardo Jerônimo Mello, Mário de Mello, Mário de Mello Jr. e Jorge Gerônimo Gonso.
Fariam ainda parte do esquema do "setor particular" os empresários Alberto Cury Jr. e Pedro de Oliveira Rodrigues, sócios da empresa Essência Agropecuária.
Considerados segundo escalão do "setor privado", esses empresários também tiveram o pedido de prisão decretados. Só dois estão detidos: Mello Jr. e Oliveira Rodrigues. Mário de Mello morreu. O terceiro escalão do setor privado reúne "laranjas" das empresas de Borges -entre eles sua própria mãe e ex-funcionários.


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