UOL

São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA EXTERNA

Petista defenderá direitos humanos; pragmatismo marca visita

Para prevenir desgaste, Lula fará crítica pontual a Cuba

Alan Marques/Folha Imagem
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner (Argentina) se encontram em Nova York


KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu criticar a situação dos direitos humanos em Cuba na viagem que fará amanhã e sábado à ilha do ditador Fidel Castro. Lula deverá pedir respeito aos direitos humanos, numa tentativa de minimizar eventuais críticas e desgastes com a viagem, segundo apurou a Folha.
O pragmatismo econômico terá lugar de destaque na agenda de Lula em Cuba. Pensando num cenário pós-Fidel, o governo brasileiro quer incentivar a entrada pesada de empresários brasileiros na ilha em duas áreas: suco de laranja e o álcool combustível.
A crítica à situação de direitos humanos será uma resposta preventiva a ataques de ONGs (entidades não-governamentais) e de governos à visita.
No início do ano, Fidel desencadeou uma onda de repressão a dissidentes. Matou três deles que tentavam fugir de Cuba de barco. Na época, o Brasil ensaiou tímida condenação às ações de Fidel.
Lula avalia que precisa fazer a crítica aos direitos humanos, ainda que de forma cautelosa e amigável, para não melindrar Fidel Castro, porque já estará dando um passo arriscado.
O Itamaraty atuou para "desidratar" a viagem, de acordo com expressão de um membro da comitiva de Lula. Fidel queria realizar um comício com 1 milhão de pessoas para Lula, mas o governo brasileiro resiste.
Apesar da resistência de auxiliares, Lula disse que desejava pisar em Cuba como presidente e que julgava que a viagem estava demorando demais. Ao ser advertido de que poderia se desgastar, decidiu que fará menção aos direitos humanos. Lula chega ao país amanhã, vindo do México, e volta ao Brasil no final da tarde de sábado.

Álcool e suco de laranja
O presidente avalia que é importante tentar fazer de Cuba uma espécie de base comercial brasileira no Caribe.
Essa idéia foi dada ao governo pelo empresário José Cutrale, um dos maiores produtores mundiais de suco de laranja. Cutrale procurou integrantes do governo federal e sugeriu a idéia de uma parceria forte entre Cuba e Brasil na plantação de laranja e processo do suco da fruta.
Cutrale compete com os produtores da Flórida, Estado norte-americano que fica a apenas dezenas de quilômetros de Cuba.
Lula se entusiasmou com a idéia, segundo apurou a Folha. O presidente deseja incentivar a presença empresarial brasileira em Cuba nos setores de suco de laranja e de álcool combustível no mesmo grau de importância dos investimentos espanhóis em hotelaria nessa ilha de 12 milhões de habitantes. A Espanha domina a rede hoteleira e de resorts.

Relações históricas
Pelas relações históricas e tradicionais do PT com o regime castrista, Lula avalia que Fidel ajudará o Brasil a controlar esses setores em Cuba. Devem ser assinados acordos comerciais nesse sentido. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estuda a liberação de uma linha de financiamento para que Cuba compre produtos brasileiros. Todo esse minipacote deve ter um valor entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões.
Segundo a Folha apurou, o empresário Cutrale acredita que, quando Fidel deixar de governar Cuba, haverá uma maior liberalização econômica da ilha e maior abertura em relação ao mercado norte-americano.
Nesse cenário, seria importante o Brasil ter o controle ou, pelo menos, ser o investidor dominante em suco de laranja e álcool combustível. O Brasil tem tecnologia muito desenvolvida nessa área, o que o torna competitivo internacionalmente. Os EUA, por exemplo, recorrem a barreiras comerciais para tentar minar o suco de laranja brasileiro no país.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Presidente encontra Kirchner para contornar mal-estar com Argentina
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.