|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ INTELECTUAIS
Janine critica moralismo na avaliação dos governantes e vê falta de ética na publicação de uma carta de professora da USP
Filósofo da USP apóia Chaui e diz que mídia não admite diferença
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O professor de filosofia da USP
(Universidade de São Paulo) Renato Janine Ribeiro seguiu a colega Marilena Chaui e criticou a
atuação da mídia na cobertura do
escândalo do "mensalão". Janine
disse que ela tem um discurso público que é "todinho feito por moral" e que "não admite diferença".
"Se diverge, você é exposto à execração imediatamente."
Janine exemplificou sua tese recorrendo à própria Chaui e ao
cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, o primeiro intelectual a apontar em artigos um
suposto "golpe branco", do qual
seria vítima o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Chaui, por sua vez, em duas falas públicas recentes e numa carta
dirigida a seus alunos da USP, defendeu o presidente Lula e criticou a mídia, acusando-a genericamente de "construir" o seu silêncio a respeito da crise.
"É claro, as pessoas se exaltam.
Wanderley Guilherme escreve de
maneira exaltada. Agora, o que é
dito dele, o que é dito da Marilena
na imprensa nesses tempos é absolutamente inaceitável, é desrespeitoso", afirmou Janine Ribeiro.
As declarações foram feitas em
palestra sobre "O Cientista e o Intelectual", na sexta-feira à noite,
na UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), que faz parte do
ciclo "O Silêncio dos Intelectuais", que começou em agosto.
Janine Ribeiro criticou a Folha
por ter publicado a carta de
Chaui. Ele se declarou "pasmo"
com a sua divulgação e defendeu
que a carta era "privada, por mais
que circule". Faltou pedir autorização à autora, disse.
"Não há o que dizer, não há
mais o que dizer, em absoluto.
Quando um texto, que é uma carta, que é algo que pertence à pessoa, é expropriada dessa maneira,
não há mais ética alguma nesse
horizonte", disse Janine Ribeiro.
O palestrante também defendeu
a necessidade de o país meditar
sobre a atual crise, "sem defender
o indefensável", mas também
sem repetir os erros no curso da
crise política que levou ao impeachment do então presidente
Fernando Collor de Mello, em
1992. Para ele, o país não tirou
boas lições daquele episódio.
"Ficou a convicção de que o presidente Collor foi afastado por ter
faltado com a ética. Não foi. Ele foi
afastado na verdade porque a política econômica dele não deu certo, porque não tinha apoio e sustentação política", disse.
Ele afirmou que não está, com
isso, defendendo os que apoiaram
Collor: "Estou apenas fazendo um
balanço um pouco triste. A sociedade brasileira não se mostrou
tão ética assim. Não foi um corte
na história do Brasil. Foi um corte
no sentido de que afastamos dentro da lei. Mas na verdade o discurso ético se construiu. E aí se reforçou uma coisa muito negativa
no Brasil: todo o nosso juízo sobre
a coisa pública passa pela moral".
Ele citou alguns exemplos dessa
distorção: "Um governante pode
ser uma calamidade. A acusação a
ele vai dizer que ele é indecente.
Um governante pode fazer um erro de análise terrível e causar um
desastre ao país, mas não ter colocado um centavo no bolso. Vão
dizer: "Ah, o nosso dinheiro foi
roubado, ele é um ladrão etc.'"
Silêncio
Janine disse que há silêncio de
alguns intelectuais. Mas avaliou
que a esquerda está "falando bastante". Disse que ela pode estar
com muitas dúvidas, mas isso é
bom. "Acho um momento extremamente precioso para nós, porque é um momento de discussão
e de colocar a limpo um monte de
coisas que ficaram durante muito
tempo guardadas, diante de vergonha de fazer determinada colocação, que poderia parecer reacionária." Janine defendeu a legitimidade de quem se mantém em
silêncio no primeiro momento.
Texto Anterior: Receita apura uso de caixa 2 pelos partidos do "mensalão" Próximo Texto: Mídia: Começa amanhã 40º Treinamento em Jornalismo Diário na Folha Índice
|